sábado, 25 de dezembro de 2021

Doçuras do Natal — fortaleza para nossas almas

  • Paulo Henrique Américo de Araújo

Com a proximidade do Natal, não raramente sentimos aquela atmosfera de doçura, de misericórdia e de perdão que dimanam da gruta de Belém. Basta considerarmos, por exemplo, que ali se entreolharam, pela primeira vez, o Divino Infante recém-nascido e sua bendita Mãe. E São José, o casto esposo da Santíssima Virgem, contemplou em silêncio e extasiado esta maravilhosa cena.

Para a alma católica, tal encantadora ternura não pode deixar de ser alimentada. Com esse propósito, transcrevemos algumas visões da Sóror Josefa Menéndez relacionadas ao Natal. Esta religiosa espanhola da Sociedade do Sagrado Coração de Jesus, falecida em odor de santidade em 1923, foi a mensageira de um apelo do Sagrado Coração ao mundo atual. As impressionantes revelações acham-se reunidas num volume intitulado Apelo ao Amor — Mensagem do Coração de Jesus ao Mundo.1

Sirva-nos tal descrição para expulsar de nossas almas a baixeza e a vilania deste mundo paganizado que despreza sistematicamente a infinita misericórdia e bondade de um Deus que se fez pequenino para nos salvar. Além disso, o relato serve-nos de preparação para enfrentarmos com serenidade as provações e sofrimentos da vida, outro aspecto recorrente nas visões da freira.

Na festa de Natal, 25 de dezembro de 1920, Josefa escreve:

“Durante a missa da meia-noite, estava no meio da capela para ir à Santa Mesa [da Eucaristia] quando vi a Santíssima Virgem vindo ao meu encontro. Trazia nos braços o Menino Jesus recoberto por um véu branco que Ela retirou logo que comunguei. Estava vestido de branco e tinha as mãozinhas cruzadas sobre o peito.

“Depois não O vi mais. Quando cheguei ao meu lugar, a Santíssima Virgem de novo se aproximou bem perto. Levantou um pouquinho o Menino que trazia deitado nos braços. O Menino Jesus abriu os seus e acariciou a Mãe. Depois com a mãozinha direita parecia pedir a minha, e eu lha dei.

“Agarrou meu dedo e o apertou na mão. Um delicioso perfume, não sei de quê, envolvia ambos. A Santíssima Virgem sorria e disse:

‘Filha, beija os pés d’Aquele que é teu Deus, e que será teu companheiro inseparável se não O repelires. Nada temas. Aproxima-te. Ele é todo Amor.’

“Beijei-lhe os pezinhos. Ele me olhou. Depois cruzou os bracinhos sobre o peito. Então a Santíssima Virgem O cobriu com o véu, olhou-me e pedi-lhe a bênção. Deu-ma com a mão sobre minha cabeça e desapareceu”.

Josefa, que era costureira, chega a descrever como a Divina Mãe e seu Filho se vestiam durante a aparição. Detalhes que incrementam ainda mais a delicadeza da cena:

“A Santíssima Virgem estava vestida com uma túnica branca e com um manto rosa pálido, o véu também rosa, mas de pano mais fino. A vestimenta do Menino Jesus era de um tecido que não conheço. Era leve como espuma. Ele tinha em volta da cabecinha uma auréola de luz e a Santíssima Virgem também”.2

Na oitava de Natal do ano de 1922, a piedosa freira foi contemplada com mais uma visão. Desta vez o Menino Jesus lhe apareceu como uma tenra criança de um ano de idade. Note-se a que extremos de candura chega o Divino Infante ao tratar com Josefa Menéndez:

“No dia 1º de janeiro de 1922 — escreve ela —, durante a missa das nove horas, pouco depois da elevação, ouvi a voz de uma criancinha que me encheu de alegria:

‘Josefa, minha pequenina… Tu me reconheces?’

“Vi logo diante de mim Jesus! Estava como uma criança de um ano, talvez um pouco mais, vestido com a túnica branca […]. Os pezinhos estavam descalços, a cabeleira de um louro ardente… Estava lindo!… Reconheci-O logo e disse: De certo Vos reconheço! Vós sois meu Jesus! Mas como estais pequenino, Senhor!…Ele sorriu e respondeu:

‘Sim, sou pequeno! Mas meu Coração é grande!’

“Quando dizia estas palavras, pôs a mãozinha sobre o peito e vi seu Coração. Não posso exprimir o que encheu o meu ao ver aquilo!… Oh! Senhor. Se Vós não tivésseis esse Coração, eu não Vos poderia amar tanto, mas vosso Coração me encanta!… Com ternura que não se pode explicar, disse:

‘Eis por que quis que O conhecesses, Josefa, eis por que te pus no mais profundo deste Coração.’”

Em meio a tantas graças, Jesus lhe prepara para os combates que viriam. Josefa assim escreve:

“Perguntei-lhe se todos os sofrimentos estavam acabados.

‘Não, ainda tens que sofrer! Preciso de corações que amem, de almas que reparem, de vítimas que se imolem…, mas sobretudo de almas que se abandonem!’”.

Dias antes dessa aparição, Josefa havia sofrido muitas tentações. Por isso ela expõe a Jesus suas inquietações, sobretudo o receio de que sua alma tivesse perdido algo de sua pureza, pois o demônio a atormentara muito contra a bela virtude. Jesus responde:

“‘Nada temas, tua alma está coberta com meu Sangue e nada de tudo isto te poderá manchar. […] O demônio não tem outro poder senão o que lhe vem do alto. […] Eu estou acima de tudo.’”

As lições da Divina Criança se encerram com uma última recomendação de humildade:

“Vês como Eu me quis tornar pequeno, Josefa. É para te ajudar a ficares tu também assim bem pequenina. Se quis [me] humilhar a este ponto é para te ensinar a te humilhares por tua vez.”

“Deu-me a bênção com a sua mãozinha e desapareceu”— conclui Josefa.

Tenhamos em vista que as extraordinárias graças dispensadas à freira Josefa Menéndez tinham por fim fortificar sua alma em face das provações e sofrimentos futuros. Assim também devemos aproveitar as graças sensíveis da Festa do Natal como uma preparação. Enfrentaremos com serenidade as dificuldades vindouras, se nos deixarmos embeber das bênçãos do Menino Jesus, de sua Mãe Santíssima e de São José.

ABIM

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Notas

  1. Apelo ao Amor – Mensagem do Coração de Jesus ao Mundo, 3ª edição, 1963, editora Rio – S. Paulo, Rio de Janeiro.
  2. Op. cit. p. 127
  3. Ibidem. pp. 212 e 213

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