sexta-feira, 25 de agosto de 2017

O funeral dos anos 90 foi uma festa em Nova Iorque


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Ipsilon
 
 
  Vasco Câmara  
 
31 de Outubro de 2001, a América ainda a refazer-se do ataque ao World Trade Center. Quatro mil pessoas juntam-se no Hammerstein Ballroom. Uma banda chamou-as: The Strokes, jaquetas de couro, calças de ganga apertadas e óculos de sol, acabam de lançar This is It. Acredita-se que vai salvar Nova Iorque e o rock do planeta.
Seis meses depois, já não pertenciam apenas a Nova Iorque. Nem eles nem os LCD Soudsystem, nem Yeah Yeah Yeahs, nem The Rapture, nem Interpol. Enterravam os anos 90 e faziam a festa: sede de guitarras, vontade de curar angústias e medos na era de Bush e Bin Laden. Lizzy Goodman, que estava naquele concerto de Halloween, conta tudo em Meet Me in the Bathroom: Rebirth and Rock and Roll in New York City 2001-2011, história oral desses anos, 600 páginas classificadas pela Rolling Stone como “clássico instantâneo” da literatura rock.Pedro Rios leu o livro, falou com Lizzy GoodmanTiming adequado: este mês os LCD regressam com American Dream, que já se começa a ouvir. Há algo de crepuscular nesta evocação, talvez tenha sido a última grande cena rock.


Os anos 90 do Act Up de Paris: 120 Battements pour Minutes, filme de Robin Campillo, é o acontecimento da rentrée cinematográfica francesa, tema de capa em jornais e revistas - damos conta disso nesta edição. É uma evocação crepuscular, também: sobre os anos 90 das lutas do Act Up de Paris, ramo da organização internacional de luta contra a sida, quando, depois do silêncio dos anos 80 que amarrou vítimas, familiares e amigos a uma epidemia, as palavras libertaram-se enfim, jorraram, e o activismo contra esse escândalo forjou-se de forma visceral, eufórica e trágica. O filme, acontecimento de Cannes 2017, chega a Portugal a 30 de Novembro e está por estes dias no topo dos mais vistos em França.
Arte e política, propaganda e denúncia: Cartazes Cubanos da OSPAAAL 1960-1980, imagens que exortam à luta política, à resistência contra o colonialismo. É uma exposição na ZDB, em Lisboa, que, "nestes dias de tórrida desordem", como escreve José Marmeleira, corre o risco de passar ignorada. E não deve.
Uma pièce de resistance nestas páginas: o retrato, feito pelo nosso colaborador John Freeman, de Kamila Shamsee (Um Deus em Cada Pedra, 2005; Sombras Queimadas, 2010) e Mohsin Hamid,  escritores de origem paquistanesa. Têm livros novos, respectivamente Home Fire (explosiva história sobre o terrorismo interno no Reino Unido) e Exit West (um thriller ético, à maneira de Graham Greene), são dois escritores na primeira linha das ironias políticas das migrações.
Já ouviu o novo disco de Chico Buarque?
Fonte: Público

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