terça-feira, 24 de agosto de 2021

Constitui pecado mortal ler o Alcorão e outros livros islâmicos?

 

Depois do Concílio Vaticano II tornou-se mal visto exercer a censura dos livros (Inquisição), preferindo confiar imprudentemente no bom julgamento dos próprios fiéis

Pergunta — A Federação Islâmica do Brasil faz envio gratuito de livros, seja o Alcorão ou outros. Ao todo são 18 livros, podendo-se receber três por mês. Ter tais obras dentro de casa atrai o demônio, ou mesmo maldição? Constitui pecado mortal ler o Alcorão e outros livros islâmicos? Sei que o islamismo, assim como todas as religiões falsas, são obras que vêm do demônio, por isso peço-lhe o favor de esclarecer minha dúvida.

Padre David Francisquini

Resposta — Desejaríamos que todos os leitores tivessem o mesmo zelo e vigilância manifestados pelo nosso missivista ao perguntar sobre este assunto. De fato, as religiões falsas são favorecidas pelo demônio para afastar as almas da salvação, a qual nos vem por meio da única Igreja verdadeira, que é a Igreja Católica, fundada por Jesus Cristo para prolongar até o fim do mundo a sua obra redentora. Sendo o Islã a falsa religião que mais progride no mundo atual, sem dúvida tornou-se a arma mais perigosa da qual se serve o diabo para perverter ou perseguir os cristãos, até mesmo com atentados violentos realizados ao grito de Allahu akbar! (Alá é grande).

         Nesta minha resposta eu amplio o alcance da pergunta do nosso leitor, de tal modo que ela se aplica — além do Alcorão e outros livros islâmicos — a todas as mensagens contrárias à Fé católica e aos bons costumes, que recebemos através dos recursos modernos da mídia escrita ou digital. No Código de Direito Canônico (CDC) há um título sobre “os meios de comunicação social e em especial dos livros”, em cujo cânon 823 é afirmado que “os pastores da Igreja têm o direito e o dever de vigiar para que a fé ou os costumes dos fiéis não sofram danos com os escritos ou uso dos meios de comunicação social”.

         No passado a Igreja exercia essa vigilância estabelecendo um “Índice de Livros Proibidos”, que os fiéis não podiam ler sem cometer pecado mortal; ou até, em alguns casos, incorrer na excomunhão. A partir do momento em que houve uma proliferação de gráficas e de publicações, tornou-se quase impossível estabelecer um catálogo geral que os fiéis pudessem consultar. Além do mais, depois do Concílio Vaticano II tornou-se mal visto exercer a censura (Inquisição), preferindo confiar — ao meu modo de ver, de maneira leviana — no bom julgamento dos próprios fiéis.

O resultado foi que, por uma notificação de 14 de junho de 1966, assinada pelo Cardeal Ottaviani, o Papa Paulo VI suprimiu o Index Librorum Prohibitorum. Nessa notificação se diz que “tal Índice não tem valor de lei eclesiástica com as censuras que o acompanhavam”, mas “conserva sua força moral, enquanto adverte a consciência dos fiéis que, por exigir-lhe o direito natural, abstenham-se de ler aqueles escritos que possam prejudicar a fé e os bons costumes”.[i]

Obrigação de se evitar “leituras perigosas”

Index Librorum Prohibitorum sob o papado de Bento XIV, século XVIII

Da mesma forma que o direito natural obriga a proteger a própria saúde física, também obriga (ainda mais!) a proteger a saúde espiritual, da qual depende a salvação eterna. Se hoje as autoridades sanitárias exigem dos particulares tantas medidas para as pessoas vulneráveis se protegerem de um vírus que pode ser mortal — permanecer em casa, manter distância social, usar máscaras — com muito mais razão as pessoas devem proteger a sua fé e a sua virtude contra o ataque de heresias e obscenidades, pois são ‘vírus espirituais’ terrivelmente mortais para as almas.

Convém recordar o que afirma o Concílio de Trento: a fé é o começo, a raiz e o fundamento da justificação, pelo que, sem ela, é impossível agradar a Deus e chegar a formar parte do número de seus filhos. Por isso, é pecado grave fazer leituras que possam proximamente pôr em risco a fé.

Mas não basta isso. Para a vida espiritual é muito importante pedir continuamente a Deus que aumente a nossa fé, exclamando como o pai do menino possesso: Creio, Senhor! Vinde em socorro da minha falta de fé! (cf. Mc 9, 24). Devemos igualmente rejeitar as tentações e dúvidas contra a fé. Para isso é importante evitar as leituras perigosas ou imprudentes que falam da religião usando critérios anticristãos ou mundanos. Evitar isso da mesma forma que fazemos com um vírus ou com a pandemia.

A mesma diligência deve ser exercida em relação à virtude da pureza, rejeitando as leituras que ofendem o pudor e a moral. Nesse sentido, cabe recordar que a curiosidade levou Eva a ser tentada pela serpente (o demônio), levando nossos primeiros pais a cometerem o pecado original.

Livros perigosos que contrariam a fé católica

Atualmente a responsabilidade de velar para que a fé e os costumes dos fiéis não sofram dano quanto às leituras, recai sobre os ombros de cada católico, especialmente dos pais em relação aos filhos.

Lamentavelmente, não existe atualmente o Índice dos Livros Proibidos. Além disso, quase nenhum bispo ou sacerdote cumpre sua obrigação de vigiar para que a fé e os costumes dos fiéis não sofram dano, e não lhes oferecem indicações precisas quanto às leituras. Assim sendo, tal responsabilidade recai sobre os ombros de cada católico, especialmente dos pais em relação aos filhos.

Quais livros devem ser objeto de uma vigilância particular dos fiéis?

O antigo Código de Direito Canônico fazia no seu cânon 1399 uma enumeração que ainda serve como guia. Tentarei reordenar de maneira pedagógica essas recomendações, aplicando-as aos nossos dias:

  • Livros que ensinam ou recomendam a superstição, a adivinhação, a magia, o espiritismo, horóscopos e coisas semelhantes;
  • Livros que deliberadamente atacam a religião ou os bons costumes;
  • Livros que defendem a heresia ou o cisma, ou que procuram demolir os fundamentos da religião;
  • Livros que procuram desacreditar ou ridicularizar qualquer dogma da fé; ou que defendem erros rejeitados pela Igreja; ou que zombam da liturgia, da disciplina eclesiástica, do clero, etc;
  • A Bíblia e textos das Sagradas Escrituras publicados por não católicos, ou ainda versões publicadas por católicos, mas que não contam com aprovação eclesiástica;
  • Livros de não católicos cujo conteúdo principal versa sobre religião, a menos que haja certeza de que não contêm nada contrário à fé católica;
  • Livros que declaram lícito o suicídio e o divórcio. Podemos acrescentar também os livros que aprovam o aborto, a eutanásia, o concubinato, o homossexualismo, o falso ‘casamento’ homossexual e a ideologia de gênero;
  • Livros que expressamente tratam de coisas lascivas ou obscenas, descrevendo-as ou ensinando-as.

Com a internet, o perigo se expandiu e se agigantou

Na época em que o antigo Código foi publicado (durante a Primeira Guerra Mundial), os povos muçulmanos viviam isolados e a religião islâmica passava por um período de letargia. Por isso os redatores não mencionaram o Alcorão e os livros doutrinários do Islã, valendo o mesmo para religiões orientais como o hinduísmo ou o budismo.

No entanto, ao vermos hoje um Islã expansionista e agressivo, e as religiões orientais penetrando na sociedade ocidental (e até nas paróquias!) através da muito difundida prática da ioga e do reiki, entre outros, seria preciso acrescentar nessa lista todos os livros dessas religiões, assim como a literatura das seções de ‘espiritualidade’ e ‘autoajuda’ encontráveis na maioria das livrarias.

As novas gerações quase não lêem; pelo contrário, passam muitas horas diante das telas de celulares ou computadores, que se impuseram como suas principais fontes de informação. Especialmente populares são os vídeos, que exigem menor esforço de concentração; e além disso são enriquecidos com músicas e imagens que os tornam ainda mais atraentes. Nessas condições, tudo que foi dito acima a respeito das leituras de livros vale forçosamente, como é óbvio, para a audição de podcasts ou a assistência de vídeos.

É necessário os pais incutirem em seus filhos a força de vontade para rejeitar as inúmeras ocasiões de perdição que as redes sociais lhes oferecem

Nessa matéria, os pais têm a responsabilidade muito grave de vigiar o que seus filhos estão olhando na Internet. Podem ser usados recursos como a instalação de programas de controle parental nos seus computadores; não lhes oferecer celulares até que adquiram a maturidade necessária para discernir aquilo que constitui um risco para a fé e a moral; incutir neles a força de vontade para rejeitar as inúmeras ocasiões de perdição que as redes sociais lhes oferecem. Não ignorar que meninos e meninas de dez anos já estão sendo bombardeados com imagens pornográficas!

Nas últimas décadas infiltrou-se nas fileiras do Clero uma atmosfera de permissivismo, deixando os fiéis órfãos de orientação numa matéria que pode ter um efeito tão daninho à perseverança na fé e na virtude.

No que se refere à orientação para as famílias católicas, não podemos esquecer que a Sagrada Família é o modelo para todas as famílias cristãs. Não só devemos tomá-la como modelo para a educação dos nossos filhos, como também pedir a Jesus, Maria e José que concedam a pais e filhos todas as graças necessárias para essa educação.

ABIM


[i] http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19660614_de-indicis-libr-prohib_po.html

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