sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Guterres quer recuperação da crise com combate a alterações climáticas

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) defendeu hoje seis ações que os governos devem implementar para recuperar de forma sustentável dos impactos da pandemia de covid-19, com vista ao combate às alterações climáticas.

António Guterres apelou hoje para a "transformação dos sistemas económicos, de energia e de saúde", e defendeu um conjunto de seis "ações positivas para o clima", que também servem para recuperar do impacto da pandemia, numa palestra em memória do tecnocrata e empresário industrial indiano Darbari Seth (1920-1999), que se realiza em Nova Deli.
Investir em empregos verdes, não salvar indústrias poluentes, terminar com os subsídios para os combustíveis fósseis, ter em conta os riscos climáticos em todas as decisões financeiras e políticas, trabalhar em conjunto e, "acima de tudo, não deixar ninguém para trás" são as ações que o secretário-geral propôs aos governos e às indústrias.
António Guterres sustentou que, durante a recuperação da pandemia, mais de 270 milhões de pessoas podiam ter passado a ter acesso à eletricidade e mais de nove milhões de empregos poderiam ter sido criados se houvesse investimentos em energia renovável, eficiência energética e transporte amigo do ambiente.
Para Guterres, as "crises gémeas da covid-19 e alterações climáticas" sublinharam ainda mais a necessidade de reduzir a poluição e a dependência de combustíveis fósseis, para investir em fontes de energia renováveis e limpas.
Para o chefe da ONU, os guias da transformação devem ser a redução da pobreza e o acesso universal a energia renovável, tal como defendido por Darbari Seth, fundador do Instituto de Energias e Recursos (TERI, na sigla em inglês) da Índia.
"Continuarei a exortar todos os países, especialmente os países do G20, a se comprometerem com a neutralidade de carbono antes de 2050 e a apresentarem - bem antes da [Conferência sobre o clima] COP26 -- contribuições nacionais mais ambiciosas e determinadas e estratégias de longo prazo que estejam alinhadas com a meta de 1,5 graus [Celsius]", disse António Guterres.
O secretário-geral da ONU defendeu que as medidas também passam por acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis, colocar um preço na poluição com dióxido de carbono e assumir compromissos de não utilizar combustíveis fósseis depois de 2020.
O responsável considerou que a Índia está a ir nessa direção, com mais despesa no uso da energia solar do que em combustíveis fósseis, o que pode vir a ajudar o país a tornar-se "numa verdadeira superpotência no combate às alterações climáticas".
Mas, apesar de o país dar eletricidade a 95% da população, 64 milhões de habitantes ainda não têm acesso, referiu António Guterres.
O português elogiou países como a Alemanha, Coreia do Sul, Nigéria ou Reino Unido, que "estão a acelerar a descarbonização das suas economias" nos planos de estímulo e investimentos, em resposta à crise sanitária.
Para o secretário-geral da ONU, esses países estão "a passar dos combustíveis fósseis insustentáveis para [energias] renováveis limpas e eficientes", e a investir em soluções de armazenamento de energia, como hidrogénio verde.
Ainda assim, existem "tendência negativas", como pacotes de recuperação dos países do G20 em que as energias limpas recebem menos de metade do dinheiro dos combustíveis fósseis, o que o secretário-geral acusa de "não fazer sentido comercial".
"Esta estratégia só vai levar a uma maior contração económica no futuro e a consequências prejudiciais à saúde", declarou António Guterres, referindo que existem mais provas do que nunca de que a poluição do ar provoca doenças pulmonares como asma, pneumonia e cancro dos pulmões.
"Este ano, investigadores nos Estados Unidos concluíram que pessoas que vivem em regiões com altos níveis de poluição do ar têm maior probabilidade de morrer de covid-19", referiu.
"Se as emissões de combustíveis fósseis fossem eliminadas, a expectativa geral de vida poderia aumentar em mais de 20 meses, evitando 5,5 milhões de mortes por ano em todo o mundo", acrescentou o antigo primeiro-ministro português.

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