quinta-feira, 21 de julho de 2016

Só cinco decidem quem será o secretário-geral da ONU

Conselho de Segurança das Nações Unidas começa votações de "encorajamento" ou "indiferença" ante os 12 candidatos esta quinta-feira.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas começa hoje a escolha do próximo secretário-geral da ONU, num prometido processo "transparente" de seleção para o lugar cimeiro da diplomacia mundial, mas cujos finalmentes poderão ser tão opacos como os anteriores.
Pela primeira vez nos 70 anos da ONU, a Assembleia-Geral, órgão ao qual cabe aprovar o nome escolhido pelo Conselho de Segurança (CS), lançou um processo aberto, convidando os estados-membros a apresentarem candidatos.
Para já há 12 - seis homens e seis mulheres, nove da Europa (oito da Europa de Leste), duas da América Latina e uma da Oceania -, entre os quais António Guterres, antigo primeiro-ministro português e ex-alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados.
Os candidatos foram submetidos a audições públicas nas Nações Unidas e até a debates transmitidos à escala planetária, para que os cidadãos se interessem pelo assunto e conheçam o futuro secretário-geral da ONU, cuja aprovação poderá durar até ao final do ano.
De caminho, têm sido ouvidos à porta fechada pelo CS, enquanto a diplomacia se afadiga nas chancelarias, especialmente nas dos 15 países membros do Conselho (cinco permanentes e dez não permanentes), envolvendo embaixadores, ministros dos Negócios Estrangeiros, chefes de Estado e de Governo, sem descurar o corre-corre dos próprios candidatos.
Por exemplo, António Guterres esteve recentemente em Pretória, para obter o apoio da África do Sul, que não é membro do CS mas exerce uma grande influência regional e não só, e almoçou em Moscovo com o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, entre outros países.
Hoje, o CS faz a primeira votação informal (a segunda está prevista para daqui a oito dias e a fase final começa em setembro ou outubro), manifestando aos candidatos "encorajamento" ou "indiferença". Não significa uma pré-seleção. Mesmo com muitos "encorajamentos", um candidato não está necessariamente em vantagem.
Favorito, na realidade, será aquele que receber os favores de todos os cinco membros permanentes - China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos da América - todos com poder de veto de qualquer nome, por mais maioritária que seja a votação. Veja-se o caso da candidata búlgara Irina Bokova, dada como favorita. Diplomata, ex-ministra dos Negócios Estrangeiros, é a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), reeleita em 2013 para segundo mandado. Com a admissão da Autoridade Palestiniana na organização, a simpatia dos EUA por ela terá decaído...
Ou o caso de de Susana Malcorra, ministra dos Negócios Estrangeiros e do Culto da Argentina. Com carreira no aparelho da própria ONU (até dezembro, foi chefe de gabinete do secretário-geral, depois de ter chefiado operações no Programa Alimentar Mundial e o departamento de logística dos apoios da organização), não tem garantido o apoio do Reino Unido, devido à disputa anglo-argentina pela soberania das Malvinas.
Antigo deputado e líder partidário, antigo presidente da Internacional Socialista e antigo primeiro-ministro, ex-alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados (2005-2015) enfrentando crises sem precedentes, António Guterres tem sido acolhido "com simpatia por muitos países" e a campanha da diplomacia portuguesa, que tem envolvido também o primeiro-ministro e o presidente da República, tem sido "positiva".
Prognósticos? Só no fim. Que é como quem diz, do conserto das vontades das cinco potências que gerem os equilíbrios geopolíticos do Planeta. E não nos espantemos se, a despeito deste longo e "transparente" processo de candidaturas (sem prazos...), acabar por surgir uma solução consensual de última hora com um candidato surpresa...
Lista de candidatos
Srgjan Kerim, 67 anos, Macedónia
Embaixador, foi ministro dos Negócios Estrangeiros

Vesna Pusic, 63 anos, Croácia
Socióloga, foi ministra dos Negócios Estrangeiros e vice-primeira-ministra

Igor Lukšic, 40 anos, Montenegro
Economista, foi ministro dos Negócios Estrangeiros, das Finanças e vice-primeiro-ministro

Danilo Türk, 64 anos, Eslovénia
Jurista, foi ministro dos Negócios Estrangeiros, embaixador na ONU e assistente de Mogi Annan

Irina Bokova, 64 anos, Bulgária
Embaixadora, foi ministra dos Negócios Estrangeiros e diretora-geral da UNESCO

Natália Gherman, 50 anos, Moldávia
Embaixadora, foi ministra dos Negócios Estrangeiros e vice-primeira-ministra

António Guterres, 67 anos, Portugal
Engenheiro, foi primeiro-ministro e alto comissário da ONU para os refugiados

Helen Clark, 66 anos, Nova Zelândia
Professora universitária, foi primeira-ministra e administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Vuk Jeremic, 41 anos, Sérvia
Físico, preside ao Centro para as Relações Internacionais e o Desenvolvimento, foi ministro dos Negócios Estrangeiros e presidente da Assembleia Geral da ONU

Susana Malcorra, 61 anos, Argentina
Engenheiros, é ministra dos Negócios Estrangeiros, foi chefe de gabinete do secretário-geral da ONU e chefe de departamentos de logística e de operações da ONU

Miroslav Lajcák, 53 anos, Eslováquia
Embaixador, foi ministro dos Negócios Estrangeiros e representante especial da União Europeia

Christiana Figueres, 60 anos, Costa Rica
Diplomata, foi secretária da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas

Fonte: JN

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