segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Selfie minha, selfie minha, há alguém mais genuíno do que eu?

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4.0 Tecnologia, inovação e empreendedorismo
 
 
  João Pedro Pereira  

Acha que as suas selfies são genuínas, ao passo que as dos outros são um divertimento exibicionista? Se respondeu afirmativamente, provavelmente está enganado, mas não é o único.
Dois académicos de uma universidade alemã exploraram algumas das causas e dos efeitos das selfies e concluíram – em linha com o que o senso comum deixaria adivinhar – que as pessoas avaliam as fotografias que tiram de si próprias de forma muito diferente da avaliação que fazem das selfies alheias.

AMMAR AWAD/REUTERS
selfie tornou-se um elemento de auto-expressão ubíquo nas redes sociais. Em tempos, uma fotografia tirada de esguelha e onde fosse visível o braço que segura na câmara seguiria para o lixo. O fenómeno condiciona o desenho de novos telemóveis (a câmara frontal é uma preocupação) e gerou novos negócios, desde as aplicações para aplicar filtros aos selfie sticks. E, ao que parece, tem consequências psicológicas.
O estudo alemão (feito com base num inquérito a 238 pessoas) não traça um retrato abonatório. Em suma, conclui que tirar selfies e estar exposto às dos outros parece ter mais efeitos negativos do que positivos, e que quase toda a gente preferia ver menos deste género de fotografias. Mergulhemos na investigação.
Os académicos apresentaram aos inquiridos quatro potenciais efeitos positivos das selfies (poder tirar fotos sem ajuda, significado associado a estas imagens, sentimento de proximidade com outros, e possibilidade de auto-representação), bem como dois efeitos negativos (a exibição de um mundo imaginário e ameaça à auto-estima). Pediram depois aos participantes que classificassem cada um destes efeitos numa escala de um a cinco. Os dois efeitos negativos foram os que tiveram maior pontuação, com a ameaça à auto-estima a ficar perto do topo da escala (não são precisos estudos para perceber o efeito nocivo de ser exposto nas redes sociais a versões cuidadosamente editadas das vidas dos outros).
Já uma segunda questão pedia aos inquiridos para indicarem a que ponto concordavam com uma determinada afirmação quando esta se aplicava às suas próprias selfies e quando se aplicava às dos outros. Por exemplo: “as minhas selfies mostram a minha verdadeira personalidade” e “as selfies dos outros mostram a verdadeira personalidade deles”. Surgiu aqui uma dualidade de critérios. Os inquiridos tendem a achar as suas selfies mais divertidas, mais autênticas e com menos preocupações de construir uma auto-representação. Curiosamente, os inquiridos afirmam que os outros se divertem mais no processo.
Olhando para as respostas, os estudiosos explicam que as selfies são vistas como “uma actividade superficial, boa para os outros se divertirem e concretizarem as suas necessidades de auto-apresentação”, mas que os inquiridos dizem não ser levada a sério por eles próprios. Faz lembrar o velho exemplo de que toda a gente se considera um condutor acima da média.
Por fim, um número para reflectir: a grande maioria dos participantes (82%) afirmou que preferia ver outro tipo de fotografias. O título do artigo que explica a investigação é um bom resumo: “O paradoxo das selfies: ninguém parece gostar delas, mas toda a gente tem razões para as tirar”. Está aqui para leitura integral.
Nota: alguns leitores têm pedido acesso a um arquivo desta newsletter. Basta aceder a esta página e clicar em “mais edições” no canto superior esquerdo.

Digno de nota

- O Mobile World Congress arrancou esta semana em Barcelona, com a habitual profusão de novos telemóveis, com cada vez melhores processadores, ecrãs com mais definição e câmaras mais poderosas. Este ano, porém, uma das estrelas está a ser a reinvenção do velho e básico Nokia 3310, pela mão da HMD Global, a empresa que comprou os direitos de comercialização da marca. O telemóvel poderá eventualmente ter sucesso em alguns mercados emergentes. Mesmo que venha a ser um fracasso comercial, já valeu à empresa mais atenção do que qualquer smartphone teria conseguido.
- É uma nova técnica de ataque informático, mas faz lembrar tecnologia de outros tempos. Académicos numa universidade israelita usaram um drone para ler a pequena luz nos computadores que indica actividade no disco rígido e aceder assim a informação guardada na máquina. Mas antes é preciso infectar o computador com software malicioso, de forma a que a luz transmita a informação desejada, num processo semelhante ao código morse.
- Uma empresa da Alphabet (a multinacional dona do Google) desenvolveu um sistema de inteligência artificial para filtrar comentários tóxicos em sites noticiosos. Recentemente, tinha já anunciado planos para fazer o mesmo na Wikipedia, um site dado a discussões inflamadas.
4.0 é uma newsletter semanal dedicada a tecnologia, inovação e empreendedorismo. O conteúdo patrocinado nesta newsletter não é responsabilidade do jornalista. Críticas e sugestões podem ser enviadas para jppereira@publico.pt. Espero que continue a acompanhar.

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