quarta-feira, 12 de abril de 2017

Eu, Psicóloga: Carta para Almir



Por Dudu Guimarães 

Vamos supor que a pessoa que toma as decisões dentro do BBB se chame Almir. Esta carta é pra você e os milhares de Almir espalhados pelo País.



Almir, assistir ao Big Brother Brasil foi se tornando dia após dia uma missão quase impossível. Isso tudo porque a sua decisão de manter uma história que atraísse os interessados em romance se sobrepôs a um caso de relacionamento abusivo. O seu reality saiu do eixo, você perdeu o controle. Agora quem comanda são as pessoas que você treinou para que gostassem do seu casal.

Almir, você foi conivente com tudo que aconteceu no Big Brother nesta última semana, e saiba que recairá sobre você tudo que vier a acontecer com a vítima se ela decidir ter alguma relação com o Marcos aqui fora da casa.

Mas Almir, se tem uma coisa que você faz bem, é contar histórias. Você criou uma belíssima história de amor pela qual até o pai da mocinha se encantou. Não parece estranho que a família está vendo a filha ser exposta e humilhada em rede nacional e eles não fazem nenhuma denúncia contra isso? Você criou uma teia interessante, Almir.


Me espanta, Almir, que você faça parte de um grupo em que um funcionário foi abertamente criticado alguns dias atrás por atitudes muito semelhantes. E naquela situação vocês se disseram contra esse tipo de hábito, porque se Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas. Talvez essa camisa não te sirva, né Almir. Pense no número de mulheres que estão passando pela mesma situação da sua mocinha da história, os seus parceiros agressores hoje estão com a consciência um pouco menos pesada. Eles não estão tão errados assim, "se eu estiver errado, ela que me denuncie". Devia funcionar assim, né, Almir?
Deixar de punir o agressor e colocar nas costas da vítima, que está pressionada psicologicamente, envolvida emocionalmente e dependente dessa relação, é no mínimo falta de caráter, Almir. Aqui fora da casa ninguém aguenta mais essa situação. Deixamos de sentir preguiça das atitudes da Emilly para sentir pena e dó pelo que ela está passando.

Almir, quero apenas que você me dê algum motivo para que a gente entenda as suas decisões. A quem você quer agradar? Quais os valores que você coloca como prioritários no seu programa? Você teve o aval do público e não quis fazer o certo, dar exemplo e responsabilidade.
Espero que esta edição seja esquecida como um entretenimento... Não foi. Está muito longe de ser. Não existe nenhum eufemismo que diminua o mal-estar que se tornou acompanhar a rotina dessa casa. A humilhação do outro só pode ser entretenimento quando se está gravando um episódio do Jackass.

P.S.: Violência doméstica e familiar contra a mulher é qualquer ação ou omissão baseada no género que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, conforme definido no artigo 5o da Lei Maria da Penha, a Lei nº 11.340/2006

Entre os mais de 67 mil relatos de denúncia de violência contra a mulher, mais de 51% se referiam a casos de violência física (34.730). A violência psicológica vem em segundo lugar (31,1%), seguida da violência moral (6,51%).

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