sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Robô mais avançado é menos autónomo que uma barata

Luis Dufaur (*)
 
 

O robô Atlas da Boston Dynamics impressiona pela técnica
mas é menos autônomo que uma mísera barata.



O cinema, certos cientistas e especuladores do futuro gostam de imaginá-lo povoado de robôs “inteligentes”, capazes até de se emanciparem do homem e levar uma vida autônoma com autoconsciência ou sentimentos.
Alguns os imaginam maléficos, outros benéficos, outros imprevisíveis, fazendo guerra ao homem ou entre eles, ao gosto da fantasia do escritor, do cientista, do jornalista ou do usuário de Playstation. E os modelos mais avançados de robôs em desenvolvimento podem reforçar temores e fantasias.
Mas o que há de verdade nessas projeções, anúncios ou novelas?
O físico investigador da Universidade Politécnica de Madri, José Antonio Villacorta Atienza, falando no reputado Curso de Verão da Universidade Complutense fez cair uma “chuva de realidades” sobre esses temores.
Ele explicou que “o robô mais avançado é menos autônomo que uma simples barata”. E ele pensava não apenas no presente, mas também no futuro.
O investigador desenvolve há anos um robô capaz de esquivar obstáculos, detectar as emoções ou intenções dos humanos e agir em consequência. “O único robô que vocês vão ver em casa vai ser o aspirador”, brincou, antes de enumerar os motivos.

Outro robô da Boston Dynamics, empresa da Google:
a complexidade denuncia a limitação.


É preciso ir esquecendo a ideia de termos na vida real oTerminator ou androides similares, disse Villacorta. “Não há perigo de um robô se tornar pensante e atacar. O perigo consiste em que os humanos possam exterminar outros humanos usando robôs”, explicou, apontando para as novas armas com tecnologia robótica.
“Criar uma máquina que mata está ao alcance da mão.Qualquer um pode matar uma pessoa com um drone como [se estivesse] brincando num videojogo. Até já existe um software que permite identificar determinada pessoa em concreto e executá-la”.
O uso dos robôs pode trazer monstros mecânicos, mas menos
dotados que um inseto

Os problemas éticos e morais vão além do uso bélico. Por exemplo, os carros autodirigidos: de quem seria a culpa se o carro atropelar alguém? E se o carro for programado para provocar a morte do passageiro com o intuito de salvar a vida de outros? A casuística é enorme.
Para Villacorta, supor que um robô terá uma mente parecida à humana “não faz sentido, pelo menos nos próximos séculos. Os robôs não têm cognição, não são capazes de entender o que acontece”.
O especialista observou que “o cérebro humano é o sistema mais sofisticado conhecido, mas 30% falham ou falharam alguma vez”, e isso só mostra a enorme dificuldade de reproduzir algo similar que funcione e não se degrade.
O robô nunca poderá ter sentimentos. “O problema fundamental é a inexistência de uma definição operacional de consciência”, não se sabendo, portanto, como simulá-la numa máquina, disse Villacorta.
Mas, poderia objetar alguém, o que aconteceria se por um passe de mágica, por uma interferência extraterrestre ou infraterrestre, os robôs passassem a ter consciência?
Poderiam então pular as leis da robótica, como numa novela de Isaac Asimov, e fazer dano aos humanos?
Isso parece pouco provável segundo as leis da matéria e da tecnologia, cortou o especialista. “Nem bêbados conseguiríamos”, concluiu.
Então, acrescentamos nós, se isso acontecer será por um fator externo às leis da matéria, e seria um assunto de teologia moral e/ou exorcismo e não de ciência ou de tecnologia.


          ( * ) Luis Dufaur é escritor, jornalista, conferencista de política internacional e colaborador da ABIM

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