segunda-feira, 23 de julho de 2018

Sequoias, ecologia e os Evangelhos


♦ Marcos Machado

Sequoia
Um artigo de Thomas Fuller sobre a reforma do bosque californiano Maripose Grove, publicado no “The New York Times” (11-6-18) e reproduzido pelo “Estado de S. Paulo”, traz preciosos conceitos para corrigir o tortuoso enfoque de muitos naturistas e ecologistas, ensinando ao mesmo tempo como preservar e aprimorar a natureza para uso, serviço e visão do homem.

Como se sabe, as sequoias são mundialmente famosas por seu grande porte e sua resistência aos séculos, atraindo incontáveis turistas. Fuller escreve que, graças a uma reforma que custou 40 milhões de dólares, acabou de ser reaberto o bosque Mariposa Grove [foto acima e abaixo], formado por cerca de 500 sequoias gigantes.

Para visitá-lo, as pessoas poderão deixar seus automóveis a 10 minutos de lá, caminhar ou tomar um ônibus gratuito, pois os bondes que conduziam os visitantes foram retirados porque expeliam fumaça de óleo diesel.

A reforma exigiu a destruição de um trecho de 5 mil metros quadrados de pavimentação — junto às árvores, por onde carros e bondes passavam —, o qual foi substituído por caminhos de terra prensada misturada com resina. Scott Gediman, porta-voz do parque, comentou: “Não estamos querendo tirar a liberdade de ninguém. […] Venha com seu carro, mas depois estacione. E ande um pouco”.

As sequoias — “as árvores mais nobres criadas por Deus”, segundo John Muir —, tiveram grande influência na criação do Parque Nacional de Yosemite.

Cabe ao homem preservar, embelezar e contemplar os reflexos de Deus na Criação. Por isso, vamos além dos comentários de John Muir, um naturista, influenciado pelo romantismo do século XIX. Ao elogiar a reforma do bosque, mostramos como o homem, dotado de inteligência e vontade, é capaz de usar os meios que Deus lhe deu para preservar, corrigir e embelezar a natureza.

Segundo Plinio Corrêa de Oliveira, é desígnio da Providência que os homens completem de algum modo a excelência da Criação. Quando a técnica se deixa guiar inteiramente pela doutrina da Igreja, ela concorre para produzir o verdadeiro progresso, muito diverso do imenso caos a que o tecnicismo neopagão nos conduziu. O verdadeiro antídoto contra os abusos da Revolução Industrial não está, portanto, no naturismo, e menos ainda na ecologia panteísta.

A Sagrada Escritura nos ensina em inúmeras passagens como servir-se da natureza para subir a patamares superiores e, por fim, até Deus. Sendo o homem o Rei da Criação, recebeu de Deus esta missão: “Crescei e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a, e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu, e sobre todos os animais, que se movem sobre a terra” (Gen. I, 28).

Nosso Senhor serviu-se inúmeras vezes de comparações. Por exemplo: “Jerusalém […] quantas vezes quis eu reunir os teus filhos como a galinha reúne os pintainhos e tu não o quisestes”. Frase simples, mas que encerra grandes lições. Nosso Senhor observou o procedimento da galinha, seu senso de proteção aos pintinhos ante algum perigo, ou ainda para aquecê-los.

A fim de nos ensinar a meditar — devemos ter sempre presente que o atual movimento ecológico é cego para esse aspecto —, o Divino Mestre foi além do instinto “materno” da galinha e comparou o Seu amor aos filhos de Israel ao da galinha que reúne os pintainhos.

A escola espiritual denominada Quarta Via tem como base os ensinamentos de São Tomás de Aquino e São Boaventura. Afirma este último: “A Criação do mundo é como um livro no qual resplandece, manifesta-se e se lê a Trindade criadora em três graus de expressão, isto é, como vestígio, como imagem e como semelhança” (S. Boaventura, Breviloquium, 2-12).

Ou seja, vendo o “amor materno” da galinha, elevamos o pensamento — como o fez Nosso Senhor — às relações humanas, em que o “amor materno” se realiza de modo muito mais sublime, consciente, nobre. O amor de uma mãe em relação a seu filho ultrapassa em muito o instinto materno da galinha. E o Filho de Deus vai muito mais além, quando compara seu amor a Jerusalém ao instinto da galinha.

Outra comparação linda é voltada para “os lírios do campo, não tecem nem fiam, entretanto, nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles”. Aplicam-se aqui as mesmas considerações anteriores. Nosso Senhor conheceu os lírios do campo, analisou-os, amou a perfeição refletida por eles, e tirou daí uma aplicação para o homem.

Se o lírio do campo, que não tece nem fia, tem essa beleza dada por Deus, indizivelmente maior será a beleza da alma humana, a beleza das perfeições de Nossa Senhora, de Nosso Senhor! E por que é mais bela? Simplesmente por provir de uma esfera superior.

Há aqui um princípio da Criação que apenas enunciamos: as esferas inferiores existem porque Deus criou as superiores. Assim como os seres brutos e irracionais existem para o homem — “sujeitai-a, e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu, e sobre todos os animais, que se movem sobre a terra” (Gen. I, 28) —, assim também os homens existem em razão de uma realidade superior que são os Anjos. E os Anjos existem porque temos no ápice da Criação a Deus Nosso Senhor.

Por essa sucessão de degraus ascendentes chegamos à beleza incriada de Deus. O homem, fazendo livre uso de sua inteligência e de sua vontade, é capaz de restaurar o bosque Maripose Grove e tornar as imponentes sequoias acessíveis aos visitantes do mundo inteiro.

Servindo-nos da Quarta Via procuramos no homem — de uma natureza superior aos irracionais, porque dotado de alma espiritual — as mesmas qualidades de beleza, elegância e proporção. Que homens? Um deles foi certamente Salomão.

Se daí subirmos para a consideração dessas qualidades enquanto presentes no Homem-Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo — ápice do gênero humano, ligado hipostaticamente à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade —, teremos demonstrado quão estritos são os limites da ecologia, e quão grandiosas as perspectivas a que as passagens do Evangelho nos remetem.

Fonte: ABIM

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