terça-feira, 16 de novembro de 2021

Proença-a-Nova | Gastronomia e literatura de mãos dadas no Prémio Literário Pedro da Fonseca


O livro com os textos premiados na III edição do Prémio Literário Pedro da Fonseca, promovido pelo Município de Proença-a-Nova, foi oficialmente apresentado no dia 14 de novembro, na Casa das Associações, com a presença de Elsa Ligeiro, editora da Alma Azul e responsável por esta edição, que moderou a conversa, Pedro Batista – com o pseudónimo Xavier Zarco, vencedor na categoria de poesia, Hélio Loureiro, gastrónomo convidado para integrar o júri, e ainda o vice-presidente da Câmara Municipal, João Manso. Inês Cardoso, diretora do Jornal de Notícias e elemento do júri, e Nuno Sobral, que recebeu a menção honrosa, deram os seus contributos via online.

Subordinados ao tema “O Palato: Gastronomia Tradicional do Concelho de Proença-a-Nova”, os textos vencedores refletiram alguns dos sabores mais característicos deste território. “Devo dizer que gostei particularmente da temática deste ano porque, como diz o conto vencedor, há muitos paralelismos entre a criação na cozinha e a criação noutras vertentes, como na leitura e na criação da palavra: é muito a paixão e a procura dos ingredientes, do trabalho apurado, de levar cada frase até ao ponto certo de cozedura, por assim dizer, que permite chegar a algum resultado”, referiu Inês Cardoso, júri desde a primeira edição deste concurso literário, que agradeceu ao Município o “papel que tem tido na promoção da criação literária, na promoção do livro, da palavra, da leitura”.

A gastronomia como forma de unir as pessoas, em que a mesa é um ato de partilha, foi abordada por Hélio Loureiro, também ele escritor publicado. “Há três palavras que me surgem quando se fala de gastronomia e literatura: comer, memória e amor. Comer semanticamente quer dizer estar na companhia de e não há nenhuma língua no mundo que use uma palavra igual, que reflita esta vontade da partilha, de estarmos à mesa com alguém (…) Nós não comemos só hidratos de carbono, proteína e vitaminas, mas alimentamo-nos de memórias e são elas que nos fazem escrever estas histórias (…) Em relação ao amor, quando pensamos numa avó, numa mulher ou homem de família que cozinha a tarde toda, isto não é um serviço, isto é uma forma de amar, de me entregar aos outros por completo”.

Xavier Zarco é já um autor conhecido e publicado, principalmente poesia. “A vida sem poesia, sinceramente, não tem grande piada, é exatamente como a vida sem um bom repasto ou sem um bom vinho, sem podermos conversar, por exemplo”, referiu na apresentação. Com mais de 30 participações em concursos literários, tem já um longo currículo de prémios, a que se junta agora o Prémio Literário Pedro da Fonseca. “O acesso à edição é muito complicado em Portugal, é mais fácil publicar por exemplo no Brasil que aqui. A forma mais simples de chegar à edição é através dos prémios, por isso é que eu já concorri a vários. Aliás, a maior parte dos meus livros são premiados”. Nuno Sobral é autor de “Um repasto póstumo”, distinguido com a menção honrosa, um texto que se divide em duas partes, uma delas escrita há mais tempo. “Quando vi o anúncio, achei que o tema era bastante sugestivo e lembrei-me que podia completar aquele texto que tinha feito com algumas particularidades inerentes ao tema do concurso”.

João Manso, vice-presidente da Câmara Municipal, recordou o tema do próximo Prémio Literário Pedro da Fonseca: “A Resina”. Aconselhou quem queira participar no concurso a ver o documentário “Vida de Resineiro”, filmado na aldeia de Corgas. “Tem tudo: tem a história, tem as vivências, também tem os sabores do que eles levavam para comer no campo. Muitas das pessoas que têm cursos superiores em Proença-a-Nova foi à custa do dinheiro que os pais ganhavam na resinagem. Há aqui uma certa dinâmica de cultura que nós queremos que permaneça e que fique imortalizada nalguns dos textos que possam surgir, como ficaram nesta parte do palato, da nossa gastronomia”.

A apresentação do livro foi antecedida pela peça de teatro “O Aristóteles Português”, pelo Teatro à Faca, no âmbito do Projeto Beira Baixa Cultural 2.0 - financiado pelo Centro2020, Portugal 2020 e Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) da União Europeia. Com três atores ao lado da estátua do ilustre proencense, foram recordadas alguns dos principais marcos da vida deste padre jesuíta que nasceu em Proença-a-Nova em 1528. O facto de apadrinhar o Prémio Literário dinamizado pelo Município também não foi esquecido, recordando-se os temas abordados.

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