segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Macroscópio – Ainda a tempo de comprar um livro para oferecer neste Natal?

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!
 

O prometido é devido. Um pouco em cima da hora – sobram poucos dias para dar um salto a uma livraria para fazer as últimas compras de Natal e sobra ainda menos tempo para mandar vir algum livro pela Amazon a tempo do sapatinho –, mas ainda assim cumprindo a tradição anual do Macroscópio, hoje falamos de livros. Dos melhores do ano, dos melhores para oferecer aqueles de quem gostamos, dos que valem a pena ler.
 
Começo pela selecção do Observador, que foi extensiva. Pedimos a 15 dos nossos colaboradores para nos dizerem quais os livros que mais gostaram de ler em 2016 e qual aquele de que não gostaram. O resultado está em Livros. Os 79 melhores (e piores) que lemos em 2016 e, mesmo que com respostas muito diferentes, registaram-se algumas tendências comuns: “A primeira: este ano não deu só Brasil mas foram os autores brasileiros os que mais vezes chegaram aos favoritos dos colaboradores e críticos do Observador, através de primeiras edições de clássicos intemporais ou até em obras de autores portugueses que escreveram sobre o Brasil. A segunda tendência: 2016, como ano de decisões, mudanças e incógnitas, foi terreno fértil para títulos que pensam a sociedade, a economia, a política e a religião. Reflexões de outros tempos, do presente e a tentar apontar pistas para o futuro.” Eis as ligações directas para essas 15 listas:
 
Ainda no Observador, mais duas referências: Livros para o Natal, a crónica de hoje de João Carlos Espada, onde fala de “Dez livros que, com vozes e perspectivas diferentes, celebram a tradição ocidental da liberdade sob a lei.” E um Conversas à Quinta em que Jaime Gama, Jaime Nogueira Pinto e eu próprio trouxemos cada um cinco livros (os meus não foram os mesmos da crónica), daí resultando 45 minutos de troca de ideias sobre 15 livros para este Natal. Dos que valem a pena
 
Como em Portugal a tradição é deixar estes balanços para as últimas edições do ano, tenho de saltar já para além da fronteira e começo pelo madrileno El Pais onde encontrei Los 10 mejores libros de 2016. São escolhas de outros tantos colaboradores, e de todas elas deixo aqui uma passagem de uma que me suscitou mais atenção, relativa a La España vacía: “Escrito en estado de gracia, el ensayo de Sergio del Molino desmonta el imaginario de la España rural: marcada por el “deseo de huir”, tremendista o arcádica, nido de orgullos. De la alabanza de aldea renacentista al regeneracionismo del 98, del Quijote al cine actual, Del Molino evidencia la debilidad de los mitos fundacionales con rigor, potencia narrativa y un humor polemista.”


De Madrid sigo directamente para Londres e para uma das selecções que aguardo sempre com grande expectativa, a da revista The Economist. Este ano, no Books of the Year 2016, são bastante numerosas as sugestões, mas de todas elas escolhi quatro:
  • Hillbilly Elegy: A Memoir of a Family and Culture in Crisis, de J.D. Vance: “Why so many people want to believe that Donald Trump will bring back manufacturing jobs and keep immigrants out. Possibly the most important recent book about America”.
  • The Water Kingdom: A Secret History of China, de Philip Ball: “How two great rivers—the Yellow river and the Yangzi—shaped China’s history. By a British science writer who for 20 years was an editor at Nature.
  • The Rise and Fall of American Growth: The US Standard of Living since the Civil War, de Robert Gordon: “Why economic growth soared in America in the early 20th century, and why it won’t be soaring again any time soon, by an outspoken economist who teaches at Northwestern University”.
  • Free Speech: Ten Principles for a Connected World, de Timothy Garton Ash: “How urbanisation and the spread of the internet has increased the possibilities of freedom of expression, but also the consequences that stem from it. A distillation of a lifetime’s research and writing, by the Oxford academic who also created freespeechdebate.com”.
 
Continuando em Londres e nas revistas, na Spectator a escolha é menos sistematizada, cabendo a diversos autores. Um dos seus Spectator Books of the Year é sobre uma biografia de Lutero, bem oportuna no ano em que se celebram 500 anos da Reforma Protestante. Como sempre, o estilo da recomendação é provocador, fiel à imagem de marca da revista: “Lyndal Roper’s Martin Luther: Renegade and Prophet is an impressive and fascinating read. I have no idea what Lutherans have made of it, but for those of us who have harboured an irrational dislike of this extraordinary and unpleasant man, it’s a comfort to know we weren’t completely wrong”.
 
Já o Guardian arrumou as suas sugestões em dois blocos Best books of 2016 – part one e Best books of 2016 – part two, e das muitas recomendações dos colaboradores daquele diário (e são dezenas de colaboradores), escolhi estas duas:
  • John Gray sugere “Teffi’s Memories: From Moscow to the Black Sea recounts the flight of the author as she fled the Bolshevik revolution in a single pair of silver shoes. Light, witty and elegiac all at once – I found it captivating”.
  • John Banville gostou de “Roger Scruton’s characteristically titled Fools, Frauds and Firebrands: Thinkers of the New Left is a splendidly invigorating assault on the likes of Eric Hobsbawm, Jacques Derrida and Edward Said”.
 
À seleccção de The Telegraph, The best history books for Christmas, também fui buscar duas sugestões de obras sobre a história da Europa, ambas referidas noutras listas: “The Holy Roman Empire by Peter H Wilson distils in over a thousand pages the millennium from Charlemagne to Napoleon. It is indispensable to any serious library, as should be The Habsburg Empire by Pieter M Judson, which takes the story on from the Napoleonic Wars to the abdication of the last Habsburg emperor in 1918”.
 
Finalmente, para fechar o capítulo britânico, confesso que fiquei esmagado pelas listas do Financial Times, que em The best books of 2016 arruma as suas sugestões em nada menos de 24 categorias: EconomicsBusinessPoliticsHistoryScienceSportArt & photography;  Architecture & designCinemaClassical music & operaPopFictionFiction in translationPoetryChildren’s fictionPicture booksYoung adultCrime fictionScience fictionLiterary non-fictionFoodTravelFashion e Gardening. Uf! De tudo o publicado, deixo esta passagem, do texto de introdução geral de Lorien Kite, que me chamou a atenção: “I’m still struck (…) by the elegance of Ali Smith’s Autumn, a genuine “Brexit novel” that captured the mood of a country in which “what had happened whipped about by itself as if a live electric wire had snapped off a pylon in a storm”.
 
De Londres vamos agora até Paris, mas uma vez que a tradição da imprensa francesa não é tão exaustiva como a da britânica, acabou por só vos sugerir um artigo do Le Figaro, Les dix livres photos à offrir. E por causa de um daqueles livros que, julgo, quase todos gostariam de descobrir no sapatinho: Henri Cartier-Bresson Photographie, com 155 das suas melhores fotografias. Como escreve aquele diário, “Ceci est la bible de Henri Cartier-Bresson dit HCB (1908-2004), la somme assez renversante de ses plus belles photographies. (…) Cette réédition modernisée d'un classique absolu est soignée comme toujours chez Robert Delpire, pionnier de la photo et grand perfectionniste (nouvelle maquette, papier, jacquette, reliure et photogravure). Le poète Yves Bonnefoy, disparu le 1er juillet 2016, en a écrit la préface délicate.”



Falta agora ir até Nova Iorque (e a Washington), sendo que neste salto além-Atlântico começo pelos Holiday Books do Wall Street Journal. Nesta página de introdução a uma lista também longa de sugestões há “portas de entrada” para algumas sub-áreas e uma selecção de alguns títulos mais sugestivos. Comecemos por aqui, com duas referências:
  • The Father of Europe, sobre Charlemagne, de Johannes Fried, já que “It wasn’t easy ruling a medieval empire”.
  • Why Men Die First, a propósito de How Men Age, de Richard G. Bribiescas, um título que naturalmente me prendeu a atenção: “Men are all too willing to bet a stack of survivorship chips if the big payout is the possibility of sex”.
Já no que respeita a What to Give, eis algumas das sub-áreas com breves referências aos temas dos livros que são sugeridos:
  • History Books – Sherman, Grant, the Romanovs and the heroes who hunted the Nazis
  • Nature Books – Brilliant birds, wily coyotes, the 'Doomsday Vault,' and more.
  • Science Books – Time travel, the 'pope' of physics and the real power of mind over matter.
  • Art Books – Velázquez, Matisse, Picasso, Arts & Crafts, Pop Art and naked people.
  • Business Books – The man who wired the world, the Elon Musk of the 1940s and the race to make a spaceship.
 
Já da selecção The 10 Best Books of 2016 realizada pelo Washington Post o título que escolhi para vos destacar aqui é The Gene, An Intimate History, de Siddhartha Mukherjee, sobre o qual se nota: “Genetics has two histories: the history of what we have found out, and the history of the uses and abuses of those discoveries. In “The Gene,” Mukherjee explores the nature of this double narrative. He never loses sight of the tension between those who wish to understand genetics and those who wish to apply such emerging knowledge, but neither does he fall into the obvious trap of seeing the first category as good and the second as bad.” No mesmo jornal, há mais escolhas, algumas delas naturalmente marcadas pela indicação de obras que ajudam a perceber o que se passou na eleição presidencial. É o caso da lista de Notable nonfiction books in 2016, que abre precisamente com uma referência a um dos livros mais citados em todo o lado, ‘Hillbilly Elegy’, mas não só, pois também se refere ‘Exit Right,’ ‘Engines of Liberty’ e ‘White Trash’. Há ainda Best romance novels of 2016 (“The grand tales of love from Beverly Jenkins, Erika Kelly, Joanna Shupe and others”), Best memoirs of 2016 (“The life stories of Bruce Springsteen, John Le Carre, Diane Rehm, Sue Klebold and more”) e Notable fiction books in 2016, com “‘The Girls,’ ‘Here I am,’ ‘The Nix,’ ‘The Wonder,’ ‘Zero K’ and more”.
 
A fechar, um livro eterno, um clássico – e, como vimos logo a abrir, a preferência por clássicos foi uma constante das escolhas dos colaboradores do Observador. Neste caso o artigo que sugiro é Eight Creative People Recommend Their Favorite Classic Books, uma escolha de seis criativos para a T Magazine, do New York Times. Em concreto acompanho
Laura Linney na sua opção: Anna Karenina, de Leão Tolstoy. Uma opção que justifica assim: “There is a section in “Anna Karenina” where Levin goes into the fields to assist the peasants with his harvest. It is hard work, at first awkward and frustrating. The labor requires strength, patience and a centered connection to one’s self before productivity and pleasure are possible. This passage has always stuck with me as an example of the level of commitment it takes to do anything well in life. I try to remind myself of Levin when life or work feels overwhelming. The rest of the book, of course, is just a big, fat masterpiece.”
 
E por aqui me fico, pois creio que a carteira dos meus leitores, e porventura as suas estantes e a sua disponibilidade para a leitura, dificilmente comportariam mais sugestões que são, também, grandes tentações. Fora isso, hoje é que é mesmo dia de terminar desejando bom descanso e, sobretudo, boas leituras.

 
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