quinta-feira, 20 de abril de 2017

Interrompida entrevista de bilionário que quer denunciar corrupção na China

Antes da entrevista China revelou que a Interpol emitiu um mandado de captura em nome do bilionário

Um bilionário chinês que ameaça tornar pública a corrupção envolvendo a liderança chinesa teve a sua entrevista a uma emissora norte-americana interrompida, depois de Pequim ter avançado que foi colocado sob mandado de captura pela Interpol.

Na quarta-feira, Guo Wengui estava a ser entrevistado pela rádio Voz da América (VOA), financiada pelo Governo dos Estados Unidos, quando os apresentadores interromperam o programa, que devia prolongar-se por três horas.

Seis horas antes de Guo falar à radio norte-americana, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Lu Kang disse que a Interpol tinha emitido um "alerta vermelho" para a captura de Guo Wengui.

A VOA negou qualquer alegada interferência política da China na interrupção do programa.

Lu Kang recusou adiantar quais os crimes de que Guo é acusado, mas o jornal de Hong Kong South China Morning Post avançou que o bilionário é suspeito de ter subornado um responsável dos serviços secretos chineses, condenado por corrupção em fevereiro passado.

Guo deixou de ser visto em público, em 2014, mas voltou a aparecer recentemente, em duas entrevistas a órgãos de comunicação publicados em chinês além-fronteiras e numa série de mensagens difundidas através da rede Twitter, nas quais dizia ter informações comprometedoras para a liderança chinesa.

Em mensagens enviadas à agência noticiosa Associated Press (AP), Guo disse acreditar que o alerta emitido pela Interpol tinha como objetivo pressioná-lo a desistir da entrevista à rádio VOA.

O bilionário do setor estatal recusou responder a questões sobre a ligação ao antigo vice-diretor dos serviços secretos chineses, mas considerou o alerta da Interpol uma manobra inútil da liderança chinesa.

"É tudo mentira, tudo ameaças (...) Demonstra que eles temem que eu revele informação explosiva", acrescentou.

Observadores consideraram que a informação divulgada por Guo poderá agitar as disputas internas entre fações do PCC, antes do congresso que se realizará no outono e que promoverá uma nova geração de líderes.

O "alerta vermelho" reaviva também preocupações sobre a eleição de um antigo vice-ministro chinês para presidente da Interpol, em novembro passado.

Guo viverá atualmente no Reino Unido ou nos Estados Unidos, dois países sem acordo de extradição com a China.

A ascensão de Guo, desde as origens humildes na província central de Henan até se tornar um bilionário do setor estatal com projetos prestigiados, como o Parque Olímpico em Pequim, tem suscitado histórias escabrosas na imprensa chinesa.

O bilionário terá alegadamente cooperado com Ma Jian, o antigo quadro dos serviços secretos chineses, para obter um vídeo de um vice-prefeito de Pequim, que travou um projeto imobiliário de Guo, a ter relações sexuais. A difusão do vídeo levou à queda do vice-prefeito.

Guo é suspeito de ter subornado Ma com 8,8 milhões de dólares, segundo o South China Morning Post, que cita fontes anónimas.

No início da entrevista com a VOA, na quarta-feira, os responsáveis do programa informaram os ouvintes de que funcionários chineses avisaram os representantes daquela rádio em Pequim sobre dar espaço a Guo para difundir alegações infundadas.

O programa chegou abruptamente ao fim quando Guo começou a descrever as intrigas e suspeitas que envolvem os líderes do Partido Comunista Chinês (PCC), incluindo o Presidente chinês, Xi Jinping, e um dos aliados mais próximos.

O apresentador disse que o programa tinha que ser interrompido devido a "algumas questões".

Na rede de mensagens instantâneas Twitter, Guo escreveu que o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês está por detrás da interrupção.

Esta semana, o jornal norte-americano The New York Times publicou um artigo, que cita documentos corporativos e entrevistas que parecem confirmar pelo menos alguma da informação avançada por Guo sobre negócios envolvendo a elite do PCC.
O Ministério de Segurança Pública chinês recusou comentar o caso.
Fonte: DN

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