quarta-feira, 4 de março de 2020

Moçambique “no âmbito da malária, está numa situação de emergência” afirma Pedro Alonso da OMS

Foto de Adérito Caldeira
Embora as mortes por malária estejam a reduzir o número de moçambicanos que adoece não pára de aumentar por isso o director do Programa Mundial da Malária na OMS, Pedro Alonso, alertou que Moçambique “no âmbito da malária, está numa situação de emergência (...) temos uma carga de doença que é muito alta, Moçambique está entre os países com mais alta carga de malária no mundo”. O novo ministro da Saúde, Armindo Tiago, recomendou “terapêutica de chuveiro”.
Em Maputo durante uma semana para a revisão do Plano Estratégico da Malária o alto funcionário da Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou às autoridades de saúde nacionais que: “O país, no âmbito da malária, está numa situação de emergência, estamos muito longe de atingir os objectivos que definidos até 2022, temos uma carga de doença que é muito alta, Moçambique está entre os países com mais alta carga de malária no mundo, entre 4º e 5º lugar, portanto temos de fazer algumas coisas de forma diferente (...) para mudar a dinâmica que temos na luta contra a malária”.
Pedro Alonso, intervindo na passada sexta-feira (27), após a apresentação dos Resultados da Revisão do Plano Estratégico da Malária, recordou que Moçambique “é um país com uma complexidade, uma heterogeneidades de transmissão desde quase nada até lugares onde temos 57 por cento de prevalência, algumas das zonas de mais alta transmissão no mundo”.
“Temos possivelmente cerca de 9 milhões de casos (de malária) por ano e em redor de 14 mil mortes anuais. E este números são sempre difíceis de verificar, (...) nem sempre é fácil saber se a morte foi por malária e então se o doente morre fora da unidade sanitária é ainda mais difícil de saber”, assinalou o director do Programa Mundial da Malária.
O nosso país deveria ter reduzido os casos de malária para 208,1 por 1.000 habitantes no entanto ficou-se pelos 366 casos por 1,000 habitantes em 2019. No que a casos de malária severa diz respeito a meta era reduzir para 11,5 casos por 10.000 habitantes mas Moçambique registou 24 casos por 10.000 habitantes. Dos 10 indicadores "chaves da OMS" o nosso país cumpriu a meta de reduzir os óbitos para 2 por 100 mil habitantes, a meta era de 4,2, e a taxa de reporte das fichas que a meta era de 100 e Moçambique realizou 98.

Comentando sobre as novas estratégias para ultrapassar os constrangimentos actuais e levar Moçambique a atingir os objectivos a que se propôs até 2022 o responsável da OMS chamou atenção que: “A pesquisa que se está a fazer pode ser importante mas ainda não sabemos qual vai ser o resultado, portanto no final o que temos é fazendo o que quer que façamos nos próximos 2 a 3 anos podemos estar bastante seguros que não vamos regredir, mas quando vamos melhorar não está claro. Distintos modelos apresentam distintas expectativas, uns dizem que vamos reduzir em 20 por cento outros 25 por cento mas não há certezas”.
Durante o encontro, dirigido pelo novo ministro da Saúde, Armindo Daniel Tiago, a OMS assinalou a redução da contribuição do Governo de Filipe Nyusi no financiamento do combate à malária, reduziu dos milhões de dólares para algumas dezenas de milhares de dólares norte-americanos, muito aquém dos mínimos sugeridos pelo Plano Estratégico da Malária.
O director do Programa Nacional de Controlo da Malária, Dr. Baltazar Candrinho, revelou que a título experimental uma “nova geração de redes mosquiteiras” vai começar a ser distribuída em Moçambique, são 4,5 milhões de redes que das províncias de Nampula e Zambézia vão ser distribuídas em Manica, Tete e Niassa que se tornaram prioritárias devido ao aumento da prevalência da malária.
Baltazar Candrinho assinalou, dentre vários desafios que o combate enfrenta no nosso país, o facto da maioria das habitações serem precárias, a pulverização é feita contudo os mosquitos facilmente voltam a entrar pelo tipo de cobertura do tecto e paredes que tem fendas.
Ministro da Saúde recomenda “terapêutica de chuveiro”
Foto de Adérito Caldeira
Na perspectiva do ministro Armindo Tiago mais importante do que ter um bom documento no nosso gabinete, “é garantir que o documento se transforme em acções e as acções resultem em impacto, e impacto em malária é o que nós queremos”.

“E eu quero chamar atenção, para mesmo naquela situação em que estamos a fazer festa de diminuição da mortalidade nos certifiquemos que aqueles dados que estamos a ter são os verdadeiros, para depois não termos complicações. Se nós diminuirmos o peso da malária nas nossas unidades sanitárias vamos diminuir entre 50 a 70 por cento do trabalho perdido e diminuindo esta percentagem nós imediatamente vamos melhorar a qualidade de serviços”, declarou o ministro da Saúde.
Armindo Tiago desafiou aos académicos e profissionais envolvidos no combate da malária a usarem “o vasto manancial de saber de cada um de nós para que em conjunto possamos ser capazes de em 2022 estarmos reunidos e celebrar a diminuição da malária. O que disse o professor Pedro Alonso é válido, nós não temos certeza que as intervenções vão dar o elemento que desejamos, mas vamos fazer como com um doente na cama se não funcionar (o tratamento) devemos rapidamente adoptar outras estratégias, porque caso contrário o doente vai morrer, terapêutica de chuveiro alguma coisa vai mudar”.

Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique

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