domingo, 14 de abril de 2024

Informadores e Informados – Técnica e Características da Informação

 

Vamos dar início a esta sessão subordinada ao tema «Informadores e Informados – Técnica e Características da Informação.

Se a informação deve ou não adoptar técnicas de persuasão à maneira publicitária e de propaganda, como se de propaganda se tratasse, ou antes métodos pedagógicos e formativos, como processo esclarecedor e educacional.

Na realidade, para estabelecermos bem esta diferença e perdermos desde o início qualquer ideia mais ou menos confusa sobre este ponto, há que comparar o processo de propaganda com o processo de educação, a fim de se tirarem as primeiras ilações para discussão do nosso tema.

Se nos voltarmos para as opiniões dos modernos psicólogos sociais que têm realizado estudos e pesquisas cientificas neste campo, encontramos a propaganda definida como sendo «o uso mais ou menos planeado e sistematizado de símbolos, por meio principalmente de sugestão e de técnicas psicológicas afins, tendo por objectivo alterar e controlar opiniões, ideias e valores e, em última análise, provocar reacções segundo linhas predeterminadas» (como por e ex. Kimbal Young do Queen´s College de Nova Iorque).

Ora exactamente o que resulta logo numa primeira comparação entre a educação e propaganda é a diferença de objectivos: a primeira visa a opção por independência de julgamento, a segunda pretende adesão por julgamentos previamente criados. O educador procura um lento processo de desenvolvimento, o propagandista busca produzir resultados rápidos; um esforça-se por criar responsabilidade individual e espírito aberto para uma opção, o outro, utilizando efeitos de massa, procura um resultado imediato mas bloqueado.

Situando sempre a propaganda dentro dum quadro sócio-cultural determinado, o psicólogo social Leonard Boob afirma que a essência da educação é a sua subjectividade à luz das verdades científicas vigentes numa época, enquanto a propaganda é a tentativa de controlar as atitudes das pessoas, em direcções muitas vezes destituídas de toda a racionalidade. Como exemplo, diremos que não foi propaganda ensinar ou difundir a imagem precopérnica de sistema solar quando ela era uma teoria aceite na generalidade e vigente na época; essa era a ciência da época, a verdade vigente nessa altura. Mas foi certamente propaganda o esforço feito para censurar a nova teoria quando ela surgiu… ou até para ocultar o facto de haver uma alternativa.

A liberdade de escolha pressupõe plena apreciação de todas as alternativas em jogo e um aspecto comum a toda a propaganda, seja ela publicitária ou política, é tentar limitar propositadamente a nossa escolha, quer evitando discussão, quer afirmando perentoriamente um ponto de vista com exclusão dos demais, quer ainda pela censura e crítica emocional e não objectiva do lado oposto da questão. Ora, a sensação de constrangimento de muitas pessoas em face da propaganda é absolutamente justificada, porque elas dão conta de que está a ser feita uma tentativa para manipulá-las por métodos quiçá obscuros: quase sempre há algo de oculto na propaganda; aliás é-lhes inteiramente indiferente se a matéria apresentada é verdadeira ou falsa; o que caracteriza, é a maneira como a matéria é apresentada.

Daqui se infere que, para o caso de que nos ocupamos, a Informação visando pôr no seu devido lugar todos os parâmetros do problema à luz das verdades cientificas vigentes, é pelo conteúdo um processo esclarecedor só admitido por isso mesmo a verdade… ou melhor, as verdades científicas vigentes, a primeira das quais é esta: a necessidade permanente e cada vez maior de sangue; a segunda: que só há uma única fonte de proveniência – as veias do Homem; a terceira – tal e tal… e assim por diante. Não vou preocupar-me mais com o conteúdo da Informação; outras pessoas estão ainda para o fazer.

O estabelecimento desta diferença entre educação, e propaganda, e o explanar ainda que duma forma telegráfica um assunto que é já hoje motivo de muito estudo e pesquisas, serve apenas para nos situar nas coordenadas do problema e fornecer-nos uma óptica para escolhermos esclarecidamente as técnicas a adoptar: técnica de persuasão ou métodos esclarecedores?

No primeiro caso, já o dissemos, atingir-se-á talvez um efeito rápido, porém efémero, já que por natureza é bloqueado. No segundo caso, havendo um processo instrutivo, o efeito será certamente lento como em todo o processo educacional, mas persistente porque essencialmente formativo e seguro porque fundamentalmente estruturante.

Sem querer fazer aqui qualquer apreciação ao que tem sido a Informação, - nem isso nos pode interessar, já que é para o futuro que estamos voltados, - direi apenas que o seu insucesso se deve encontrar não só no conteúdo mas principalmente no tipo da técnica adoptada: - muito mais de campanha do que de permanência, muito mais de propaganda do que de educação.

Parece-nos pois, salvo melhor opinião (e a melhor será certamente a resultante da discussão que se vai seguir), que a técnica de Informação, respeitando a deontologia que a deve orientar sempre, decorrerá dos seus próprios objectivos: educar, com vista à dádiva regular e difundir a transmissão da Informação aos outros.

Consequentemente, como processo educativo, deve ser instruída por especialistas e transmitida conscientemente por todos aqueles que dela tomem conhecimento.

A sua acção tem de ser programada e coordenada, como todo o processo educativo e isto obriga a que sejam programados e coordenados também os processos, métodos e técnicas que deve adoptar. Tudo isto quer dizer em suma que a Informação terá de ser tecnicamente estudada. Este estudo, encarado no triplo aspecto programação-coordenação-difusão, só deve poder conseguir-se por uma orgânica própria que compreenda um Centro elaborador de Informação e uma Rede de Difusão.

Rede de difusão – Já se concluiu que se nem todos podem dar sangue, todos podem ser receptivos à Informação; por isso nenhum sector da população, nem nenhum indivíduo deve deixar de ser atingido pela Informação. Quer dizer que há que atingir todos em geral e a rede informativa poderá vir a atingir o mesmo indivíduo por via diferentes, mas o que importa é que não deverá deixar nenhum indivíduo sem ser informado. Aqui, vale mais pecar por excesso do que por defeito. Isto poderá realizar-se por uma uma difusão estruturada através dos organismos existentes e aos quais está sempre ligado qualquer indivíduo seja por que tipo de ligação for.

Certamente que pelo volume de indivíduos que alguns organismos agrupam, haverá um interesse especial em ser difundida neles a informação até duma forma prioritária; é o caso, por exemplo da Universidade de Aveiro, o maior estabelecimento de ensino de Aveiro. Mas não é apenas pelo volume de informandos que nos interessa em especial uma prioridade, é talvez e muito mais pela características específicas dos indivíduos como, por exemplo, os jovens em idade escolar, ou melhor ainda, em todas as idades. Se a informação é processo educativo e formativo, há que prioritariamente começar a difusão nos estabelecimentos de ensino, com uma total informação dos professores.

Todas as vias, em suma, se devem empregar para difundir a Informação previamente elaborada, quer dizer estudada e coordenada.

O público em geral será atingido pelos grandes meios de penetração: Imprensa diária ou também chamada a grande imprensa e pela imprensa regional (esta, quanto a nós, muito importante), a Rádio e redes sociais.

Colectivamente, serão atingidos os organismos que agrupam os indivíduos e aqui temos de considerar a Informação ao próprio organismo como entidade impessoal e a Informação que esse organismo vai permitir fornecer aos indivíduos pessoalmente.

Decorre de tudo isto que a técnica de Informação terá de ser diversificada, quer dizer adaptada aos informandos, sem todavia lançar mão de alguns dos recursos da publicidade comercial, o que atingiria a sua peculiar dignidade. Não devemos distrair-nos de que efectivamente estamos em presença de factos científicos, de cunho marcadamente humanitário, é certo, mas científicos, e imperativos como dever cívico, se não quisermos evocar aqui o tão discutido dever moral.

Assim não nos parece haver lugar para exploração emocional em dominância mas apenas a necessária para interessar alguns indivíduos mais avessos à racionalidade científica, pelo menos no arranque do problema. Não nos parece dever também apelar para métodos de persuasão. Há apenas que esclarecer. Por isso, para além de todos os meios de penetração habitualmente utilizados, julgamos que a educação directa, em contacto pessoal, pessoa a pessoa a pequeno grupo, será a forma eficiente para difundir a informação.

Mas em última instância sois todos vós aqui a apontar o melhor caminho. Para isso aqui estamos com todo o nosso espírito aberto às soluções construtivas.

A informação aos Jovens

Sobre a Informação aos jovens, apresentarei a alguns pontos para sobre eles poder incidir o diálogo que nos possa conduzir, mesmo assim, a algumas conclusões.

Este assunto da participação dos jovens na dádiva de sangue tem ultimamente chamado as atenções e tem sido versado em imensas reuniões e congressos a nível nacional E internacional.

Em diversos países tem havido acções positivas neste sentido, principalmente pela redacção de artigos e estudos, e algumas organizações internacionais, têm feito inquéritos visando, além de outros, determinar quais serão os meios educativos que se mostram mais eficazes para fazer compreender aos jovens o valor da dádiva de sangue e, dessa compreensão, fazer nascer a decisão de virem a ser dadores e de transmitirem a informação. Esta será até a forma de os jovens participarem activamente na comunidade e realizarem assim o ideal de maior idade.

O ensino tem, com estes meios educativos, um papel primordial na informação dos jovens. Por todas as formas pedagógicas e utilizando todos os meios adaptados às variantes etárias, (livros escolares, programas, actividades extra-escolares, etc.) se atingirá a consciencialização do jovem face à dádiva. Pode haver mesmo, a exemplo de alguns países, como a Bélgica, um certo material didáctico específico, simples, de fácil realização e pouco oneroso: uma brochura de informação tratando da transfusão sanguínea, material iconográfico ilustrando as diferentes etapas da colheita de sangue, um texto de leitura silenciosa tratando da transfusão, seguido de um questionário referente a ela que é entregue a cada aluno, etc.

Entre nós também já nos foi dado observar algumas redacções escolares baseadas no texto de um livro distribuído pelo então I.N.S. para uma iniciação muito primária. É contudo uma louvável iniciativa que terá de ser multiplicada e desenvolvida e, principalmente, permanente e inserida num estudo coordenado e estruturado da Informação.

Em todos os países são introduzidos nos programas de ensino noções, a propósito da circulação do sangue, de que este problema da dádiva é um prolongamento lógico: mostrar a importância da inocuidade da dádiva do sangue, mostrar o aspecto científico da questão e indirectamente os aspectos moral e cívico.

Mas há ainda, para além propriamente do ensino, algumas formas de informação aos jovens em idade escolar que se revestem de muito interesse, como por exemplo concursos de desenho sobre o tema nas escolas primárias, as visitas a centros de transfusão, palestras, filmes e debates nos cursos secundários; no ensino superior e técnico os aspectos mais aprofundados do assunto podem ser apresentados de uma forma mais cativante, explorando-se a iniciativa e a participação activa já que, neste escalão, o jovem está na idade de poder ser dador de sangue.

De qualquer maneira e em última análise, o que é preciso é esclarecer o jovem dos problemas da dádiva regular do sangue e isto em todas as idades, para que ele, quando chegar à idade de poder candidatar-se a dador, o faça por opção consciente ou melhor por formação cívica esclarecida e não emocional; na realidade o jovem é principalmente motivado pela «solidariedade»… mas é indispensável a informação para que ela possa desabrochar em plenitude.

A vida carece de organização, todos nós vivemos inseridos em várias Organizações e sujeitos à acção de outras em que não estamos inseridos. Às Organizações, porém, artificiais e complexas como são, é preciso estar sempre a insuflar-lhes vida. Essa tarefa de insuflar vida é vital, difícil e permanente: por isso, é ou tem de ser preocupação premente e prioritária dos dirigentes.

De entre tais ensinamentos justifica-se referir aqui alguns que se referem à motivação, à participação e à comunicação, deixando apenas os tópicos:

- A motivação (motivo + acção)

- A motivação pode ser contagiosa

- A participação (tomar parte)

- A comunicação, finalmente é a transmissão (ou troca) de mensagens, sinais, informação, entre uma origem ou emissor e um destinatário ou receptor.

É importante ter familiares ou amigos que apoiem a dádiva de sangue ou que sejam dadores. O contacto interpessoal com amigos, parentes ou colegas serve como uma ferramenta motivacional forte e é normalmente a principal (ou das principais) razão para dar sangue pela primeira vez. Mais ainda, os dadores estão muitas vezes disponíveis para ajudar e tentar recrutar amigos ou familiares.

Os métodos dador-angaria-dador ou traga um amigo implicam novas maneiras de recrutar novos dadores a força centra-se na influência directa do dador sobre o potencial dador.

Obrigado pela preciosa atenção, na certeza que todos acolheram de bom agrado esta exposição e o seu alcance.


*Joaquim Carlos
Presidente da Direcção da ADASCA
Aveiro, 13 de Abril de 2024

NB: Comunicação apresentada na Acção de Formação promovida pela ADASCA no dia 13 de abril na Sala Diatosta no Centro Hospitalar do Baixo Vouga, cujas oradoras foram Dra. Lúcia Borges, Directora do Serviço de Imunohemoterapia. e Dra. Catarina Almeida, médica da mesma área. 
A participação não atingiu quantidade esperada. O desinteresse, a indiferença, o comodismo têm vindo a conquistar espaço na nossa sociedade assustadoramente. Quiçá, se um dia necessitarem mudem de comportamento.

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