É revigorante saber que o parlamento aprovou uma proposta de lei da Assembleia Legislativa da Madeira para a atribuição de um apoio extraordinário à habitação para as famílias afectadas pelos incêndios de Agosto do ano passado na ilha. Mas também é preocupante constatar que estamos de novo à mercê da fúria das chamas. Não que a terra arda, para já. Mas porque é gigantesca a apreensão resultante da balda instituída.
A secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade veio à Madeira revelar a mágoa pelo défice de projectos de voluntariado e de envolvimento dos cidadãos nas acções de promoção do ambiente. Qual é a cumplicidade da cidadania com a limpeza das florestas, com a plantação de espécies, com a separação de lixos para reciclagem, com a poupança de água, com a prevenção dos incêndios de Verão?
Com o calor que regressa e as imprudências que teimam em perpetuar-se ficamos nas mãos das boas vontades, que manifestamente não chegam para defender o que temos de único e diferenciador, vital e regenerador.
A esta hora, ainda ninguém conhece o relatório sobre os testes aéreos realizados no início de Maio para saber se é ou não viável o combate a fogos com aviões e helicópteros. A esta hora a actividade policial na área florestal continua excessivamente governamentalizada. A esta hora os melindres entre forças no terreno são diversos e temos menos meios humanos do que a Autonomia prometeu para que a vigilância e protecção da floresta fosse eficaz. A esta hora as queimadas continuam diabolizadas e os políticos preferem tirar fotografias a entregar carros de bombeiros do que enaltecer os agentes que limpam a mata e os matos. A esta hora os regulamentos abundam mas faltam apoios para que sejam cumpridos. A esta hora alguns regozijam-se com a pena de prisão prevista para o incendiário, mas desculpam as negligências dos poderes sedentos de férias e festas. Ou dos incautos que não limpam a fazenda, semeiam lixo nos arraiais e atiram foguetes nos casamentos.
Há quem prefira escrever na areia à espera que a maré suba. Há quem espere que os dramas não se repitam só porque não há muito mais para arder.
Por muito dinheiro que nos chegue e por muitos fundos que nos segurem, importa rever atitudes. O voluntariado, tal como a solidariedade, exige mais de nós.
Ricardo Miguel Oliveira
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