domingo, 21 de abril de 2019

Opinião | O Escravo da consciência

Joaquim Carlos *

O escravo da consciência! Este titulo lê-se como o de um romance de detectives, pensarás.
Mas enganas-te. Se se pode dizer de um jovem que é senhor da sua vontade e escravo da sua consciência, é a maior honra que se lhe pode fazer. Se fores capaz de permanecer invencível e continuamente fiel a tudo o que a consciência te ordena, és um rapaz de carácter nobre.
Em todos os veículos há um pequeno prego que mal se vê, mas que tem a maior importância: é o do eixo. Se cair, o carro pode continuar a andar ainda durante algum tempo. Mas a roda não tardará a cair e o veículo voltar-se-á.
No caminho do carácter encontrarás também um pequeno princípio, na aparência superficial, mas, de facto, muito importante: a adesão sem reserva à voz da consciência. É indispensável que te tornes servidor submisso, seu dócil cordeiro.
Tem dois inimigos, esta voz da consciência. Primeiro: o mundo que te rodeia e a contradiz quase sempre; segundo: dentro de ti, as tuas desordenadas inclinações, os teus instintos que despertam e que procuram levar-te a não lhe dares ouvidos.
Acontece-te, algumas vezes teres momentos de entusiasmo em que pareces andar pelas regiões etéreas, muito acima dos nevoeiros terrestres; tomas então a resolução firme de seguir sempre a voz da consciência, de jamais abandonar o caminho da honra, de nunca pensar, dizer ou fazer uma coisa que seja considerado pecado, dentro de uma perspectiva teológica. Nestes momentos sentes-te tão leve, tão feliz! Mas, uma hora mais tarde, já te apercebes de que tal ou tal colega, e ainda este e aquele, não observam os mandamentos de Deus que tal livro, tal peça de teatro, tal filme, não fazem senão meter a ridículo os teus nobres princípios, do primeiro ao último. É a provação, talvez a maior das provações; porque, se toda a gente fosse má, como poderias tu permanecer bom? Se todos os teus colegas fossem sem carácter, como poderias tu sozinho permanecer fiel ao teu nobre ideal?…
Eu te digo, quando toda a gente viesse a mentir, seria então necessário que nunca mentisses; quando todos os colegas fossem para o campo passear ao domingo, durante a missa, seria então necessário que tu os não imitasses; quando todos fossem grosseiros na linguagem, seria necessário que tu ficasses calado.
E encontrarás ainda outras provas, porque os inimigos da consciência não são somente externos; há-os internos no teu próprio coração.
É costume chamar-se à consciência a voz de Deus. E não haverá razão para isso? Quem nunca ouviu esta voz, no seu foro íntimo?
Sempre que um rapazinho queria intrometer-se com um colega, uma voz, suave como o som de uma pequena campainha de prata começava a retinir dentro dele. «Não o faças, não o faças». Quando queria o que lhe não pertencia, a mesma voz se ouvia ainda. E quando estava tentado a cometer um pecado muito maior, deixava de ser a voz suave da campainha, para se assemelhar ao som de um grande sino que dá pancadas desesperadas: «Não o faças! Não o faças!» dizia a consciência agitada.
Recomendo-te, ainda uma vez mais e bem alto, que te habitues, desde hoje e sem reserva, a escutar a voz da consciência. É a tua juventude que decidirá se, mais tarde, serás ou não homem consciencioso. E tu bem sabes que, para a sociedade, o homem consciencioso é como que o pilar sobre o qual repousa o edifício inteiro, apesar dos valores cívicos e educacionais estarem cada vez mais em decadência.
Quem diz escravo da sua consciência , diz escravo de Deus; e quem diz escravo de Deus, quer dizer completamente livre.
Não conheço louvor comparável ao que se fez, um dia, de um deputado inglês, falecido ainda novo: «Todo o seu ser parece estar impregnado dos dez mandamentos de Deus».
Nada receies do mundo, salvo a tua consciência! Aquele que, com receio de ser ridicularizado, omite as coisas que a consciência lhe ordena, é um carácter muito fraco.
Aquele que, antes de cada uma de suas acções, se pergunta medrosamente o que, a tal respeito, dirão os outros, não tem vontade, e o seu carácter está longe de ser firme. Quem age segundo os seus instintos, sem ouvir a voz do bom-senso, quem coloca os desejos agradáveis antes dos estritos deveres, igualmente não é um carácter firme.
Os antigos reis da Pérsia mandavam pôr no seu travesseiro 50 mil talentos de oiro, uma soma enorme, a fim de assegurar-se um bom repouso. O imperador Calígula, além da sua guarda pessoal, tinha animais selvagens às portas do palácio para não deixar chegar ninguém junto dele, enquanto dormia. Artemon punha um escudo por cima da cabeça, para impedir que o tecto o esmagasse, se, por acaso, caísse durante a noite. Mas o que é tudo isto!…
O melhor dos travesseiros é uma consciência tranquila. Sê senhor da tua vontade, escravo da tua consciência!
Pedro de Verona sofreu o martírio pela sua fé. Foi rasgado com estiletes. Depois dos primeiros golpes, exclamou com firmeza: «Credo!», «Eu creio!». E, quando caiu por terra, já sem poder falar, molhou o dedo no próprio sangue e escreveu no solo esta mesma palavra: «Credo». Era um carácter, um escravo da sua consciência.
É doloroso assistir, actualmente, na civilização das massas, à angústia que sofrem as pessoas com a destruição de seus autênticos valores.
Toda a pessoa possui, por uma tendência natural, a noção do valor. Essa noção, porém, é, muitas vezes, deturpada por ser uma consequência da vida que leva cada indivíduo.

*Director


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