sábado, 27 de março de 2021

No ouvido do Procurador-Geral


  • Eugenio Trujillo Villegas*

Num fato sem precedentes na Colômbia, o ex-presidente da Suprema Corte de Justiça, Francisco Ricaurte, [foto] foi condenado por sua escandalosa e criminosa participação no chamado Cartel da Toga. O Ministério Público requereu a pena exemplar de 25 anos de reclusão, mas o montante da pena será fixado nos próximos dias pelo mesmo juiz que proferiu a condenação.

Os fatos são amplamente conhecidos na Colômbia e no mundo. Numa situação inverossímil, mas verdadeira, alguns magistrados desse Tribunal, em franca conspiração para delinquir, juntaram-se a altos funcionários do Ministério Público, a funcionários públicos processados e seus advogados de defesa, para criar a mais complexa rede de corrupção no país de que se tenha notícia na história colombiana.

Através desse empreendimento criminoso, que vinha operando há pelo menos dez anos, alguns parlamentares, governadores, prefeitos e funcionários das mais importantes entidades estatais, aliados a alguns empresários privados igualmente corruptos, desviaram enormes quantidades do dinheiro da Nação.

Os negócios do Cartel da Toga

Porquanto se roubava o dinheiro público à vista de todo o mundo, uma vez iniciadas a investigações pelos órgãos de controle e administração de justiça, os bandidos envolvidos contatavam magistrados, juízes e promotores do Cartel da Toga, para negociar com eles sua absolvição em troca de grandes quantias de dinheiro. Segundo as investigações, as somas exigidas dos processados ​​por esse Cartel chegavam a vinte bilhões de pesos (na época, cerca de dez milhões de dólares), com o que lhes era garantida a mais absoluta impunidade.

Assim, os integrantes desse monstro da corrupção encontraram uma forma de esconder seus crimes, fugir da justiça e aproveitar as enormes quantias de dinheiro roubadas do erário público. Mas, felizmente para as pessoas honestas, que são a grande maioria dos colombianos, essa teia de podridão veio a público, e agora os culpados estão começando a ser punidos como devem.

Este é, sem dúvida, um grande triunfo da justiça! Os colombianos estão horrorizados ao verem como nos últimos anos uma elite corrupta assumiu o governo, a política, a educação, a saúde, as obras públicas e quase todas as instituições do Estado para transformá-los em espólios de corrupção.

Esses fatos nos obrigam a felicitar muito sinceramente o Procurador Francisco Barbosa, os juízes e os funcionários que administraram a justiça, pois eles transmitem assim à Colômbia uma mensagem clara e contundente. Finalmente se veem alguns resultados contra a impunidade galopante que cercava esses eventos!

No entanto, não podemos ficar simplesmente nisso. Cumpre lembrar que o Cartel da Toga não era formado somente pelo ex-magistrado Ricaurte. Dois outros ex-presidentes do Tribunal estão sendo julgados pelos mesmos fatos e seus processos estão avançando pouco. São eles Leónidas Bustos, foragido no Canadá, acusado de ser o chefe da organização criminosa, e Camilo Tarquino, também processado. Tem ainda o ex-magistrado Gustavo Malo, que foi demitido, preso e está em julgamento. Todos eles devem responder por terem vendido sentenças em troca de somas milionárias, politizado decisões do Tribunal, se associado aos políticos mais corruptos do País, declarando-os inocentes de seus crimes e permitindo que roubassem o erário público.

É necessário continuar as investigações

Entre esses atos de corrupção estão também os milhões de dólares em propinas pagas pela Odebrecht, que por meio de alguns parlamentares e empresários chegaram à campanha presidencial do ex-presidente Santos em 2014. E outros, que foram entregues a governantes santistas para obter as maiores empreitadas de obras públicas, como a Rutadel Sol e a rodovia Ocaña-Gamarra, que envolvem gravemente duas ex-ministras santistas, Gina Parody e Cecilia Álvarez, que também estão foragidas.

Muitos funcionários públicos simplesmente se dedicavam a saquear o erário e depois recorriam ao Cartel da Toga para comprar sua absolvição. A captura do ex-governador de Córdoba, Alejandro Lyons, e seus vínculos com o promotor anticorrupção, Luis Gustavo Moreno, também condenado, foi o que expôs essa rede de corrupção em vias de ser desmantelada pela Justiça.

Nesse carrossel de corrupção não podemos ignorar os excessos administrativos do então prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, hoje senador, cujos milionários contratos da coleta de lixo deveriam desqualificá-lo não só para o exercício de seu cargo atual, como também para aspirar novamente à Presidência da República. Ele também recebeu grandes somas de dinheiro em sacolas plásticas, fato registrado pelo cúmplice que lhe entregou o valor eamplamente divulgado nas redes sociais.

Prefeitos de Bogotá, Medellín e Cali, na mira do Ministério Público

Há também a situação dos atuais prefeitos de Bogotá, Medellín e Cali, que se aproveitaram da crise gerada pela pandemia para assinar todos os tipos de contratos, em que amigos políticos ou parentes próximos foram favorecidos. Além disso, o prefeito de Cali, Jorge Iván Ospina, desde seu primeiro mandato de 2008 a 2011, tem dezenas de processos misteriosamente parados no Ministério Público.

Portanto, Senhor Procurador-Geral da Nação, é verdade que algo está começando a mudar graças às suas investigações, mas devemos também sussurrar em seu ouvido, com respeitosa firmeza, que isso não pode terminar aqui. O país precisa de justiça para recuperar o lugar de honra que já teve, sendo para isso fundamental que todos os corruptos recebam o merecido castigo. Do contrário, a Colômbia continuará mergulhando em um pântano de caos e incerteza, do qual certamente não conseguirá emergir por muitas décadas, com as consequências para o futuro de 50 milhões de compatriotas.

Esse é precisamente o compromisso político da extrema-esquerda, em todas as suas formas, que pretende tornar-se a campeã da moralidade, quando suas mais altas figuras políticas são as maiores corruptas.

ABIM

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Diretor da Sociedad Colombiana Tradición y Acción

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