sexta-feira, 24 de setembro de 2021

São Pio de Pietrelcina atrai multidões

 A figura deste santo sacerdote capuchinho — canonizado em 16 de junho de 2002, cuja festividade é celebrada no dia 23 de setembro — é apresentada por Mons. Juan Rodolfo Laise, O.F.M. cap., bispo emérito de San Luis, Argentina, em entrevista para a revista Catolicismo (janeiro/2009).

Francesco Forgione nasceu em Pietrelcina no dia 25 de maio de 1887, tendo falecido santamente, como Padre Pio, em San Giovanni Rotondo (Itália) em 23 de setembro de 1968. Foi ordenado sacerdote em 10 de agosto de 1910 na catedral de Benevento. Dedicou-se heroicamente ao ministério da confissão, a fim de salvar almas, perdoando os pecadores arrependidos, livrando-os das garras do demônio. Devotíssimo de Nossa Senhora, praticou as virtudes de modo extraordinário, atraindo com isso a veneração popular.

        Celebrava a santa Missa sempre em latim, pois nunca aceitou as reformas na Liturgia. Nos seus sermões, de grande proveito espiritual para os fiéis, abordava também temas como o combate à reforma agrária socialista e ao comunismo. Religioso consciente dos problemas de sua época, tanto os de caráter espiritual quanto temporal, era ao mesmo tempo um místico. Operou muitos milagres, possuía o dom da bilocação (estar em dois lugares ao mesmo tempo) e dos estigmas (feridas nas mãos, nos pés e no peito, como as recebidas por Nosso Senhor Jesus Cristo na crucifixão).

        Foi canonizado em 16 de junho de 2002 pelo Papa João Paulo II, na praça de São Pedro [foto acima]. Em 28 de fevereiro de 2008, seu corpo foi exumado –– sendo encontrado incorrupto –– e colocado numa urna de cristal para exposição pública e veneração dos fiéis.

 Sua Exa. Revma. Dom Juan Rodolfo Laise, O.F.M. cap., [foto ao lado] bispo emérito de San Luis, Argentina, reside atualmente no convento capuchinho em que o Padre Pio passou a maior parte de sua vida. Nessa abençoada casa religiosa, concedeu ao colaborador de Catolicismo, Sr. Luis Dufaur, entrevista exclusiva sobre seu santo irmão de hábito.

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Catolicismo — V. Exa. encontra-se em um local privilegiado para nos falar da exumação dos restos mortais do Padre Pio. Qual sua impressão sobre esse acontecimento?

Dom Laise — Estive presente à exumação [foto ao lado e abaixo]. Ela se estendeu até a 1 hora da manhã, tendo sido presidida pelo bispo da diocese de Manfredonia e San Giovanni Rotondo. Foram quatro horas de oração e louvor ao Senhor, Autor de todo o bem. A parte principal dos atos consistiu na abertura da sepultura do Padre Pio. Após ter sido levantada a pesada laje de mármore que encobria o caixão, foi a vez da chapa de zinco, colada no vidro, e que vedava o acesso ao ataúde. Ainda fechado, este foi trasladado solenemente a um quarto, cujas portas foram reforçadas para guardar o corpo do santo até que ele fosse colocado na urna de cristal, onde se encontra agora exposto à veneração dos fiéis. O corpo ficou nessa sala até o dia 24 de abril. Só podiam entrar os peritos do Vaticano que fazem o trabalho de preparação dos corpos dos beatos ou dos santos em urnas, onde permanecem para serem venerados pelos fiéis.

Catolicismo — O que disseram os peritos?

Dom Laise — Pude conversar com o responsável pelo trabalho de tratamento do corpo, feito com elementos especiais para sua conservação. Disse-me ele que o corpo do Padre Pio encontra-se intacto e incorrupto. Só foi danificado a partir da nuca por uma infiltração de água que tinha ficado no túmulo, pois este fora concluído poucos dias antes da morte do Santo Padre Pio. Por isso o rosto foi coberto, tal como foi encontrado, com uma máscara feita em Londres, de acordo com as feições naturais.

      Esse diretor disse-me que, em outros casos, ele pôde perceber um cheiro desagradável, gerado pela natural decomposição do corpo. Mas no caso do Padre Pio não notou nenhuma sensação desagradável, devido ao estado de incorrupção do corpo.

      Em 24 de abril, enquanto cantávamos a Ladainha de Todos os Santos, o corpo foi levado em procissão através da esplanada do santuário até a cripta, onde está exposto. Após a liturgia o corpo foi incensado, e começou a veneração pública. Verdadeiras multidões vêm a San Giovanni Rotondo para contemplar o corpo do Padre Pio e recomendar-se à sua intercessão.

Catolicismo — Em San Giovanni Rotondo V. Exa. deve ter ouvido muitos testemunhos de pessoas que conheceram o Padre Pio. Poderia transmitir alguns deles a nossos leitores?

Dom Laise — Ainda há hoje muitas pessoas que conheceram o Padre Pio. Posso contar-lhe o testemunho de um grupo de anciãs que não deixam de assistir à Missa e de comungar todos os dias. Como tinham muita dificuldade para andar, eu lhes perguntei: “Como é que as Sras. estão aqui numa manhã tão fria?”. Elas responderam: “Para nós, um dia sem Missa é um dia sem sol”.

— “E quem lhes ensinou essa idéia?”. — “O Padre Pio, que era o nosso guia espiritual”.

      Outros testemunhos mencionam graças recebidas. Uma anciã que vive no centro da cidade velha contou-me que seu filho estava morrendo, e foi então até o Padre Pio para pedir-lhe uma oração por ele. O menino recuperou a saúde. Ela voltou para agradecer o favor recebido, ao que o santo lhe esclareceu: “Por que a Sra. vem agradecer a mim? Vá a Nossa Senhora. Agradeça a Ela, que é a intercessora de todas as graças que recebemos de seu Filho”.

      No centro velho de San Giovanni Rotondo reside a pessoa que era criança quando foi objeto de um milagre aprovado no processo de canonização. Seu pai é médico. A família freqüenta a igreja de San Onofrio. Falando com seus membros, sente-se a ação miraculosa do Padre Pio, seja nesse milagre, seja em muitos outros de que eles foram testemunhas.

O corpo incorrupto do Padre Pio exposto para veneração dos fiéis

Catolicismo — Como é a obra do Hospital Alívio do Sofrimento?

Dom Laise — É a obra do Padre Pio para os que padecem doenças. Ele passou toda a sua vida enfermo. Suas doenças eram indecifráveis para os médicos, e isto desde sua infância até a morte.

      Com as esmolas recebidas após a II Guerra Mundial, em 19 de maio de 1947 o Padre Pio iniciou a obra — um imenso hospital —, que foi abençoada em 5 de maio de 1956 pelo Cardeal Lercaro. Posteriormente foram edificados mais cinco andares no edifício.

      Cada especialidade médica ocupa um setor, com sala de operações própria e o instrumental mais avançado. A capacidade é de dois mil leitos. Há 500 médicos, 2000 enfermeiros e pessoal especializado em cada um dos setores. O hospital está sempre cheio.

      O Padre Pio queria que o hospital acolhesse os mais carentes; e que médicos, enfermeiros e funcionários se preocupassem sobretudo em atender os doentes com especial caridade cristã. Este deveria ser o espírito próprio da obra. Atualmente é um dos hospitais mais reconhecidos por sua eficiência na Itália. Em 2002 foi-lhe acrescentado um pronto-socorro, com nove andares. Também ele está equipado com os mais eficazes recursos da medicina.

      O Alívio do Sofrimento é atendido espiritualmente por cinco capelães capuchinhos, dedicados à atenção espiritual dos doentes. Eles os visitam toda manhã, ocasião em que distribuem a Sagrada Comunhão. No Sollievo della Sofferenza [nome do hospital em italiano], exerce seu apostolado uma comunidade chamada Apóstolos do Sagrado Coração, que conta com 35 religiosas presentes em todos os setores do hospital.

Catolicismo — Certa vez V. Exa. me disse que o secretário do Padre Pio contou-lhe muitas recordações do santo. Poderia narrar algumas delas para nossos leitores? Por exemplo, o Padre Pio tinha o dom da clarividência?

Estado de impressionante conservação do rosto do Padre Pio

Dom Laise — O Padre Paolo (que no refeitório senta-se à minha esquerda) administrou a Santa Unção ao Padre Pio, momentos antes de seu falecimento, e escreveu um livro com base em testemunhos pessoais. Em mais de uma ocasião ele me disse: “O Padre Pio sabia tudo. Sabia o que os outros pensavam, o que ia suceder ou não. Sabia a respeito dos comunistas que havia no Vaticano nos tempos de Pio XII. Sabia tudo sobre as pessoas que vinham observá-lo, sem que ninguém lhe tivesse dito algo em cada caso”.

Catolicismo — O Padre Pio foi um apóstolo do confessionário. Existe hoje uma diminuição na prática desse Sacramento. O que diria o Padre Pio a respeito disso? Como ele nos ajudaria a fazer uma boa confissão?

Dom Laise — O confessionário foi, junto com o altar, o centro de sua ação apostólica. Confessava durante muitas horas, de manhã e à tarde. Às vezes recusava-se a atender quem vinha confessar-se sem estar com boa disposição. Um desses penitentes contou-me que ele viajava todos os meses de Florença até San Giovanni Rotondo, para agradecer ao Padre Pio a recusa de que fora objeto na primeira ocasião de confessar-se, porque tal recusa constituiu o ponto de partida de sua conversão.

      Ele pedia humildade aos penitentes, para receberem a graça do perdão, e o reconhecimento de que, sem o auxílio do Senhor, nada podemos. A absolvição perdoa o pecado, e ao mesmo tempo comunica forças para não se reincidir nele.

Catolicismo — Dizem que o Padre Pio via as razões profundas da crise da sociedade contemporânea. Como é que ele enfrentava o que Paulo VI qualificou de “fumaça de Satanás” que penetrou na Igreja?

Dom Laise — O demônio perseguiu o Padre Pio durante toda sua vida. Por isso, ele é um mestre quanto à recusa do demônio na vida cristã. Repetia que, na luta contra o poder do mal, devemos ser muito decididos em recusar a menor tentação, com o auxílio da graça divina. Devemos estar prevenidos, pela oração contínua, e fortalecidos pelo Sacramento da Eucaristia e a proteção maternal da Santíssima Virgem.

      Ele previa que a ação do demônio seria mais agressiva nos tempos vindouros. Às mães, pedia que rezassem muito por seus filhos e netos, a fim de que não decaíssem da condição de filhos de Deus, devido aos ataques cada vez mais virulentos do Maligno. Pudessem assim corresponder ao plano de salvação obtido pela morte de Cristo na Cruz.

Catolicismo — Após governar durante muitos anos a diocese de San Luis, na Argentina, a Divina Providência trouxe V. Exa. a San Giovanni Rotondo. Seria indiscreto de nossa parte perguntar algo sobre seu apostolado?

“O Padre Pio previa que a ação do demônio seria mais agressiva nos tempos vindouros. Às mães, pedia que rezassem muito por seus filhos e netos”

Dom Laise — Na diocese de San Luis, servi a Igreja durante 30 anos. Julguei que o melhor modo de continuar meu ministério episcopal até a morte era tornar-me instrumento para obter o perdão dos pecadores.

      Nosso Senhor Jesus Cristo conferiu aos Apóstolos o poder especial de perdoar os pecados. Administrar o Sacramento da penitência foi, portanto, conferido aos Apóstolos, e através deles a seus sucessores, os bispos, até o fim do mundo.

      Em San Giovanni Rotondo, a sala das confissões foi o lugar mais importante e mais amado pelo Padre Pio, e através do confessionário ele continua atraindo os pecadores. Ali podem-se perceber conversões verdadeiras, com seus efeitos de paz e alegria, não poucas vezes acompanhadas de lágrimas de reconhecimento e agradecimento pelo encontro com Deus, única fonte da única e autêntica felicidade. “O mais notável de sua atitude face à perseguição, injúrias e incompreensão, foi sua aceitação da dor, do sofrimento e da prova”.

     Catolicismo — O Padre Pio, durante sua vida, foi incompreendido por muitos, inclusive segregado injustamente. Qual foi o papel dessas provações na vida dele?

Dom Laise — A vida do Padre Pio foi uma contínua provação e sofrimento, por causa da incompreensão e perseguição permitidas por Deus para a sua santificação.

      A santidade do Padre Pio é uma expressão da santidade de Deus, não tanto por seus carismas particulares, pelas chagas nas mãos, pés e peito, mas pelas perseguições que, desde que ele recebeu os estigmas, o acompanharam até a morte.

      Incompreensão e perseguição de sacerdotes e bispos, gerando visitas apostólicas determinadas por dicastérios da Igreja, e conseqüentes decisões que o impediam de exercer seu ministério sacerdotal, de dirigir as almas, segregando-o durante dois anos. Ele foi proibido de se comunicar com aqueles que procuravam um conselho ou o perdão dos pecados, de celebrar a santa Missa em público, de ter contato até com seus próprios co-irmãos da Ordem Capuchinha, etc.

      O mais notável de sua atitude face à perseguição, injúrias e incompreensão foi a aceitação da dor, do sofrimento, da prova, com espírito de oblação, sem externar em momento algum, durante toda sua vida, uma palavra de queixa, de recusa ou de menosprezo em relação àqueles que o ofenderam.

      Sua fórmula de santificação foi: “Aceitar as provações que o Senhor permite ou suscita, para nos santificarmos e nos identificarmos com as injúrias sofridas por Cristo em toda sua vida, e particularmente na sua Paixão e Morte na Cruz, para salvar os homens até o fim dos séculos”.

     Catolicismo — Muitos santos capuchinos pregaram contra os males do seu tempo. O Beato Marco d’Aviano alentou os católicos que lutavam para liberar Viena dos turcos. O Padre Pio nos envia alguma mensagem análoga para libertar nossa época do neopaganismo?

Dom Laise — Na libertação de Viena, o Beato Marco d’Aviano infundiu coragem e confiança por meio do Rosário de Nossa Senhora e da união com Nosso Senhor Jesus Cristo presente na Eucaristia. Como ele, São Pio de Pietrelcina é também protagonista de uma cruzada que os filhos da Igreja devem realizar pela salvação da sociedade contemporânea. Com efeito, esta encontra-se impregnada de auto-suficiência humana, não levando Deus em conta ou negando-O direta ou indiretamente na vida privada e pública, impregnada do mais crasso relativismo e desprovida de conteúdos substanciais e de leis constitutivas para a realização do homem e da família.

      Para o triunfo da cruzada de salvação mundial, o Padre Pio colocou em primeiro lugar a oração, particularmente aquela que ele chamava “sua arma” — o Santo Rosário —, unindo-se ao pedido da Santíssima Virgem em Lourdes e em Fátima, para implorar de um modo especial pela conversão dos pecadores.

      A mensagem do Padre Pio é, além do mais, essencialmente eucarística,instando na assistência diária ao Sacrifício do altar e na recepção da comunhão do Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo. Ele próprio relembrava freqüentemente, no confessionário e na direção espiritual: “O que aconteceu no Calvário, quando Cristo morreu na Cruz pela salvação do mundo, volta a se repetir cada vez que o sacerdote celebra a Missa no altar”.

Catolicismo — Como era a devoção dele a Nossa Senhora?

Teca com relíquia do Padre Pio

Dom Laise — O Pe. Pellegrino, filho espiritual do Padre Pio, que viveu a seu lado muitos anos, atesta que ele havia se consagrado a Nossa Senhora, segundo os ensinamentos de São Luís Maria Grignion de Montfort no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, e foi escravo voluntário de Jesus e de Nossa Senhora “na vida e na morte”. E sugeria ao Pe. Pellegrino que fizesse o mesmo: “Eu te garanto que é infinitamente necessário e útil, para nós, colocarmo-nos nas mãos de Nossa Senhora como criancinhas”.

      Poucos dias antes de morrer, foi pedido ao Padre Pio uma lembrança, uma espécie de testamento espiritual. Ele disse: “Amate la Madonna. Fatela amare. Recitate la Coronna. Recitatela bene” (Amai a Nossa Senhora. Fazei-A amar. Rezai o Rosário. Rezai-o bem). 

      O Padre Pio unia-se a Maria Santíssima quando administrava o sacramento da Penitência, e pedia a Ela que agisse nas almas para a sua conversão e santificação.

      Eu teria muito mais a dizer. Mas espero já ter atendido ao desejo dos leitores da revista Catolicismo. Peço à Virgem Santíssima e ao Padre Pio que estas palavras possam fazer muito bem às almas e obtenham que muitas delas sigam a Jesus Cristo mais de perto, procurando se identificar mais com Ele, pela intercessão de Nossa Senhora, como o fez o Padre Pio nesta santa casa, durante 50 anos.

ABIM

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