sábado, 10 de setembro de 2016

CENSURA DO FACEBOOK À FOTO DA MENINA DO NAPALM GERA REVOLTA


 
Imagem do cartoonista dinamarquês Inge Grodum que critica a censura do Facebook à foto histórica de Nick Ut.
Imagem do cartoonista Inge Grodum que critica a censura do Facebook à foto histórica de Nick Ut.
É uma das fotografias mais emblemáticas da história e uma das imagens mais terríveis da guerra do Vietname, mas para o Facebook é pornografia infantil. A rede social censurou a foto de 1972 de uma menina nua a chorar, após um ataque com Napalm, e o mundo reage com revolta.
Tudo começou quando o escritor norueguês Tom Egeland publicou a fotografia, tirada por Nick Ut em 1972, durante a guerra do Vietname, no seu perfil do Facebook.
A rede social removeu a imagem, considerando que viola as regras quanto à exibição de nudez, e suspendeu a conta do escritor.
Uma atitude que chamou a atenção da imprensa norueguesa, levando vários jornalistas, mas também políticos, nomeadamente a primeira-ministra Erna Solberg, a criticarem o Facebook e a publicarem a imagem como sinal de protesto. Ora, também estes viram a foto censurada.

Facebook diz que é difícil distinguir a nudez

“Embora reconheçamos que esta foto é icónica, é difícil criar uma distinção entre permitir uma fotografia de uma criança nua num instante e noutro não”, explica o Facebook numa nota divulgada pela BBC.
“As nossas soluções não são perfeitas, mas continuaremos a tentar melhorar as nossas políticas e as formas como as aplicamos”, salienta ainda a rede social.
“O Facebook comete um erro ao censurar fotos assim. Estamos a falar de uma imagem que contribuiu para a história universal, a imagem de uma criança aterrorizada que foge da guerra“, escreveu a primeira-ministra norueguesa num comentário ilustrado com a foto de Nick Ut.
Horas depois, este comentário foi eliminado do Facebook, denunciou a própria Solberg, que voltou a publicar a mesma imagem, acusando a rede social de estar a “reescrever a nossa história comum”.

Jornal acusa Zuckerberg de “abuso de poder”

O diário norueguês Aftenposten dedica toda a sua primeira página de hoje ao tema, não só reproduzindo a foto como divulgando uma carta aberta que o redactor-chefe da publicação, Espen Egil Hansen, enviou ao fundador do Facebook, Mark Zuckerberg.
EPA / Eric Johansen / Lusa
Espen Egil Hansen do jornal dinamarquês Aftenposten com edição que critica Facebook por censura a foto de 1972.
Espen Egil Hansen do jornal norueguês Aftenposten com edição que critica Facebook por censura a foto de 1972.
Na carta, Hansen diz que o Aftenposten não vai retirar, nem agora nem no futuro, a fotografia da sua página do Facebook.
“Escuta, Mark, isto agora é sério. Primeiro vocês fazem regras que não distinguem entre pornografia infantil e fotos de guerra famosas, depois aplicam-nas sem deixar espaço para o bom-senso e depois censuram também a crítica e o debate e castigam quem se atreve a criticar”, escreve Hansen.
O jornalista nota que Zuckerberg é “o editor mais poderoso do mundo” e acusa-o de estar a “abusar do [seu] poder”, manifestando-se “chateado, desapontado” e até “receoso” quanto ao que o Facebook está a fazer aos “pilares da nossa sociedade democrática”.
“Se não distinguem entre pornografia infantil e fotografias documentais de uma guerra, isto simplesmente promove a estupidez“, escreve ainda Hansen.
Na mesma carta aberta, o Aftenposten divulga uma imagem do cartoonista Inge Grodum, de 73 anos, em que surge o logótipo do Facebook a tapar as partes genitais da menina da foto e onde pergunta se, desta forma, a imagem respeita os algoritmos da censura.
No Twitter já há vários utilizadores de todo o mundo a abordarem o assunto e muitos caricaturam a situação, com muitas críticas à postura do Facebook.
Mais a sério, a Associação de Imprensa da Noruega já exigiu ao fundo soberano do país, o Fundo do Petróleo, que detém 0,52% das acções do Facebook, que tome medidas concretas para castigar a empresa norte-americana por considerar que está a violar a liberdade de expressão.

“Momento de verdade do horror da guerra”

A foto, que valeu ao repórter Nick Ut um Pulitzer, foi tirada a 8 de Junho de 1972, na localidade de Trang Bang que estava ocupada pelas forças do Vietname do Norte.
Kim Phuc, então com apenas 9 anos, surge a correr nua enquanto foge de um bombardeamento denapalm levado a cabo por um avião sul-vietnamita com o patrocínio dos EUA.
A porta-voz da Fundação de Kim Phuc, Anne Bayin, já disse que a mulher que tem agora 53 anos está “triste porque se centram na nudez desta imagem histórica mais do que na poderosa mensagem que transmite”, conforme declarações divulgadas pelo jornal norueguês Dagavisen.
“Ela apoia totalmente a imagem documental tirada por Nick Ut como um momento da verdade que capta o horror da guerra e os seus efeitos sobre as vítimas inocentes”, diz ainda Anne Bayin.
Em 1972, o jornal New York Times também hesitou em publicar a foto por causa da nudez da menina, mas acabou por publicá-la em nome do interesse público.
A imagem mudou a forma como os norte-americanos olhavam para a guerra e há quem diga que contribuiu para terminar o conflito.
SV, ZAP / Lusa
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