sexta-feira, 1 de julho de 2016

A GUINÉ-BISSAU: DE MICROESTADO A “NARCO-ESTADO”

Jorge Heitor*

O mais actualizado e abrangente relato da dramática transformação da Guiné-Bissau, da promessa socialista de Amílcar Cabral ao "narco-estado" dos nossos dias, saiu agora no Reino Unido, por iniciativa dos editores C. Hurst & Co.

Dedicado à memória de Patrick Chabal, académico falecido em Janeiro de 2014, o livro "Guinea-Bissau: Micro-state to ´Narcostate' é assinado conjuntamente por ele e por Toby Green, professor no King's College, de Londres.

"Não faz sentido continuar a esconder a verdade", disse Chabal em 2011, querendo significar que a Guiné-Bissau não evoluiu de forma alguma de acordo com o que tinham preconizado Amílcar e Luís Cabral.

O sociólogo Miguel de Barros, o historiador gambiano Hassoum Ceesay, o norte-americano Joshua B. Forrest, Philip J. Habik, Cristoph Kohl e Aliou Ly foram algumas das muitas pessoas que contribuíram para as 290 páginas deste estudo, dividido em sete capítulos.

Trata-se de um trabalho antropológico e político, que evita explicações simplistas para a permanente crise guineense, conforme já notou Michel Cahen, investigador de Bordéus.

Na capa do livro, uma estátua em bronze de Amílcar Cabral jaz, dentro de um camião, num quartel de Bissau, como que a significar o abandono a que na prática foram votados muitos dos sonhos do fundador do PAIGC, assassinado em Janeiro de 1973.

"O país é visto como uma verdadeira ameaça à comunidade internacional, acolhendo redes de traficantes e outros canais de comércio ilícito", conclui Toby Green, continuador da obra de Patrick Chabal.

"O prognóstico para o futuro não pode deixar de ser negativo", escreve Hassoum Caesay, ao falar da "primeira Colômbia da África", que é como ele classifica a Guiné-Bissau, um Estado falhado e imensamente complicado.

A cronologia incluída neste volume vai desde a Conferência de Berlim, 1884-1885, até à eleição de José Mário Vaz como Presidente da República, em 13 de Abril de 2014, nove dias depois da morte inesperada de Kumba Yalá, que em 2003 fora derrubado por um golpe militar.

A obra, editada em Londres, está também a ser distribuída nos Estados Unidos, no Canadá e na América Latina pela Oxford University Press, de Nova Iorque. E inclui um mapa da autoria de Agostinho Palminha.

*Jorge Heitor é jornalista, ex-correspondente da agência ANOP em Bissau

**Em África Monitor

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