domingo, 23 de abril de 2017

BANCA Bancos cobram comissões cada vez mais altas e muitas sem justificação

Só no ano passado, os quatro maiores bancos cobraram mais 90 milhões de euros em comissões. Deco diz que “não há nada que justifique” os aumentos. 

Fotografia: direitos reservados
Os custos das contas ordenado nos cinco maiores bancos portugueses aumentaram 47% entre 2015 e 2016. E as anuidades dos cartões de débito também estão mais caras. No final do ano passado, custavam mais 28% – o aumento médio aplicado pelos 17 maiores bancos a operar em Portugal. E não são apenas os aumentos que saltam à vista. De acordo com a Deco, há cada vez menos isenções e serviços que até agora eram gratuitos, como as operações via homebanking, já implicam custos. E mesmo que o dinheiro esteja parado na conta, sem nenhum produto ou serviço associado, os bancos estão a cobrar comissões de manutenção. 

Só no ano passado, os quatro maiores bancos – CGD, BCP, BPI e Santander Totta – arrecadaram 1371 milhões de euros em comissões líquidas, mais 90 milhões do que no ano anterior. A evolução dos preços é um dos argumentos da banca para justificar a subida. Mas o aumento médio das anuidades dos cartões de débito ultrapassou em 56 vezes a inflação, sublinha Nuno Rico, economista da associação de defesa do consumidor. “Não há nada que justifique esta subida”.

Nuno Rico defende que há “dois momentos distintos” neste processo. Em primeiro lugar, o incentivo à utilização do cartão de débito, que permitiu aos bancos “poupanças de muitos milhões de euros, quer em termos de pessoal, quer em termos de estrutura física”, e que acabou por terminar com a cobrança de anuidades, “que já superam, em média, os 15€ euros”. Agora, os bancos começam a taxar operações via homebanking, como as transferências. “Uma vez que somos nós que fazemos as operações e assumimos o risco, o homebanking permitia-nos aceder à gratuitidade. Hoje já nem isso nos é garantido”.

O economista diz que os bancos “estão à procura de compensar as receitas que deixaram de ganhar pela sua habitual atividade de intermediação financeira”. Com as taxas de juro historicamente baixos, a banca “virou-se para as comissões como a nova fonte de receita.” 

A “lógica está completamente invertida”. Se o início do negócio da banca era “receber depósitos, pagar por esses depósitos e depois vender esse montante, ganhando na intermediação financeira”, agora a situação é outra. “Os bancos já não nos pagam, nem sequer em juros, e obriga-nos a pagar para lá colocarmos o nosso dinheiro”. 

A adequação do modelo de negócio para garantir a “qualidade do serviço prestado” e a eficiência dos “meios de pagamento colocados à disposição dos clientes” explicam os aumentos, defende o BCP, o único dos cinco maiores bancos – CGD, Millennium BCP, Santander Totta, BPI e Novo Banco – que respondeu ao Dinheiro Vivo sobre os ajustes nos preçários. 

O banco liderado por Nuno Amado explicou ainda que a regulamentação europeia aprovada em 2015, que levou a mudanças significativas no modelo de negócio dos cartões, causou uma “diminuição significativa dos proveitos”. Esta quebra teve de ser compensada com “o incremento do valor das anuidades”, que o BCP procurou aplicar “progressivamente”, para evitar “impactos significativos e repentinos para os consumidores”.

O BCP diz que não estão previstos novos ajustamentos nas comissões de manutenção das contas à ordem. O mesmo para as anuidades dos cartões, embora com a ressalva de que o “acompanhamento permanente da evolução do negócio” possa originar novas alterações. 

“O cerco tem vindo a apertar e há cada vez menos possibilidades para fugir a estes custos”, diz Nuno Rico. Em alguns bancos, perderam-se as vantagens da domiciliação do ordenado, até agora uma das principais recomendações da Deco para evitar custos. Agora, o consumidor precisa de adotar uma atitude proativa e procurar “as soluções mais baratas”. 

Fonte: Dinheiro Vivo

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