sábado, 7 de abril de 2018

A música dos Paus é uma ilha tropical


P
 
 
Ipsilon
 
 
  Vasco Câmara  
Paus: cada vez mais uma banda sem igual, isolada, embora de ouvidos despertos para todos os sons à sua volta. Como uma ilha.
Mas Madeira, título do álbum, refere-se menos à ilha, que permanece referência distante, para corporizar antes a vibe das canções, o seu ambiente e a sua emoção, coisas nebulosas e dançáveis. Não é um espaço físico, portanto. Esta "Madeira" também acontece em Lisboa: a união entre África, América do Sul e Europa. Estes assomos de tropicalidade e de africanidade já são Lisboa, como dizem os 4 Paus em conversa com Gonçalo Frota.
Mais música aqui, At The Still Point Of The Turning World, de Joana Gama + Luís Fernandes. Aqui é o espaço onde nem sempre é perceptível quem é o actor central, o piano, as electrónicas ou os arranjos. "Disco desafiante, tem tanto de desorientador como de inspirador", escreve Vítor Belanciano.
Já por aí se vêem, no ecrã da Cinemateca, homens e mulheres das classes médias europeias, da “burguesia” industrial ou intelectual, na iminência de um apocalipse. Chegou a altura de Marco Ferreri. Há ciclo na Festa do Cinema Italiano que defende que é chegada a altura de colocar o cineasta italiano “no panteão dos arcanjos da destruição e da ressurreição”, para citar um documentário recente sobre o cineasta – La Lucida Follia di Marco Ferreri, realizado por Anselma Dell’Olio – de quem se conhecem pontas do iceberg, dois ou três títulos que deram origem a escâdalo (A Grande Farra, por exemplo), mas o que se propõe até 23 de Abril na Cinemateca é, afinal, a redescoberta de uma obra.
Isabel Lucas entrevistou Chimamanda Ngozi Adiche, nigeriana, 40 anos, um dos rostos mais celebrados do feminismo. Querida Yeawel é um manifesto em pleno movimento Me Too. A escritora diz que não quer ser porta-voz de nada para ter a liberdade de poder ter opiniões fora da caixa.
Mais livros: Publicação da Mortalidade, de Walter Hugo Mãe. Sobre esta recolha dos poemas que o seu autor quis preservar, Hugo Pinto dos Santos escreve: "a solenidade de tom tantas vezes se vê preterida pela banalidade tímbrica" e é tão "frequente que a estilização seja ultrapassada pelo desleixo estilístico, que nada do que parece um momento afirmar-se resiste ao teste de uma leitura integral". Está aqui o texto, exaustivo na sua investigação.
Fascinante a biografia, escrita por David Bolchover, de Béla Guttmann, o treinador húngaro que conseguiu, em 1961 e 1962, levar o Benfica a conquistar títulos europeus. Bolchover andou durante três anos a investigar uma vida, seus mitos e mistérios. O que revela é uma estarrecedora fuga da morte. Béla Guttmann: de sobrevivente do holocausto a glória do Benfica: como foi possível ignorar durante tanto tempo uma história tão crucial, tendo em conta a importância da historiografia do holocausto, e também a dimensão da personagem envolvida?, pergunta neste texto Rui Catalão.

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