terça-feira, 15 de maio de 2018

O veículo do futuro


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4.0 Tecnologia, inovação e empreendedorismo  
  João Pedro Pereira  

Juntaram-se durante um Verão, pintaram bicicletas de branco e espalharam-nas pela cidade, para que qualquer pessoa pudesse pegar nelas e largá-las quando já não precisasse.
Podia ser o começo de um qualquer artigo sobre um grupo de empreendedores a lançar mais uma startup na era da “economia da partilha”; ou podia ser o princípio de um texto sobre activistas ambientais; ou, então, mais uma história sobre aquelas iniciativas que se espalham pelas redes sociais e vivem um ou dois dias de fama passageira. Na verdade, o Verão era o de 1965 e a cidade, Amsterdão. Um grupo de anarquistas decidira espalhar bicicletas brancas pela cidade, numa acção simbólica contra “o carro autoritário e espalhafatoso”, cuja poluição se começava a fazer sentir nas ruas.
Venha acompanhado do jargão que vier, o bike sharing não é uma ideia nova. Mas só nos anos recentes – e apesar de terem existido projectos de razoável sucesso, alguns dos quais implicavam o obsoleto sistema de moedas em ranhuras – a partilha de bicicletas parece ter um caminho amplo pela frente. Isto acontece por uma mistura de políticas públicas e de mudanças de hábitos; e, claro, graças à ubiquidade das tecnologias de informação, que vieram resolver muitos dos problemas associados ao conceito.
Hoje é possível fazer pagamentos electrónicos de múltiplas formas. Alguns toques numa aplicação bastam para ver onde estão as bicicletas mais próximas (e também motas e carros) e para as desbloquear. Os sistemas de geolocalização também permitem às autoridades locais e às empresas saber onde estão os veículos (algumas modalidades já não requerem docas para prender as bicicletas, que podem ser largadas em qualquer ponto). E a recolha e análise computacional de grandes quantidades de dados faz com que as cidades possam integrar melhor esta forma de transporte.
Estamos numa altura em que os carros são cada vez mais autónomos, em que um ícone da tecnologia chamado Elon Musk tenta revolucionar os transportes urbanos com túneis subterrâneos e comboios de alta velocidade, e em que empresas como a Uber e a Intel estão a desenvolver aquilo a que – com liberdade descritiva – se tem vindo a designar como “carros voadores” (são uma espécie de pequenos helicópteros não tripulados). É, por isso, curioso notar – como faz este artigo da Wired – que um dos veículos do futuro pode bem ser a velha e humilde bicicleta, uma invenção que tem raízes na segunda metade do século XIX (num veículo de duas rodas, mas sem pedais, inventado por um alemão). Às vezes, não vale a pena reinventar a roda.

Digno de nota

- O Facebook suspendeu cerca de 200 aplicações no âmbito das investigações internas a usos indevidos dos dados dos utilizadores. O escrutínio surge no seguimento do caso da empresa de consultoria política Cambridge Analytica, que acedeu a informação de 87 milhões de pessoas. Mas a rede social não especificou que aplicações foram suspensas. Entretanto, depois de um porta-voz do PPE, um dos grupos do Parlamento Europeu, ter confirmado há três semanas que Mark Zuckerberg seria questionado por eurodeputados, ainda não entrou na agenda do Parlamento Europeu nenhuma audição ao presidente do Facebook.
- O coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança demitiu-se na semana passada, anunciando a saída a meio de um exercício que reuniu quase meia centena de entidades públicas e privadas. Pedro Veiga, um académico com um longo historial na Internet em Portugal, diz que o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior quebrou uma promessa (o ministro não comentou o caso). Em causa está a gestão do domínio .pt, que está a cargo de uma associação sem fins lucrativos chamada DNS.pt
- Foi uma experiência que mostrou como a inteligência artificial e a inteligência biológica têm pontos em comum. Investigadores (muitos dos quais da DeepMind, do Google) usaram redes neuronais e técnicas de aprendizagem automática para ensinar agentes de inteligência artificial a descobrir caminhos em espaços virtuais. Sem que ninguém lhes tivesse dado instruções para isso, as máquinas desenvolveram um sistema de mapeamento do espaço semelhante ao do cérebro de mamíferos.
4.0 é uma newsletter semanal dedicada a tecnologia, inovação e empreendedorismo. O conteúdo patrocinado nesta newsletter não é responsabilidade do jornalista. Críticas e sugestões podem ser enviadas para jppereira@publico.pt. Espero que continue a acompanhar.

Fonte: Público

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