Rafael Barbosa | Jornal de Notícias, opinião

Umas eleições em que parece desenhar-se um primeiro facto político notável: pela primeira vez, podem ficar de fora, logo à primeira volta, os dois grandes partidos do Centro que governam a França desde a II Guerra Mundial. François Fillon, do centro-direita, atolou-se no escândalo dos empregos públicos fictícios que criou para a mulher e os filhos. Mas tem ainda hipóteses de sobrevivência, ao contrário do representante do centro-esquerda, o socialista Benoit Hamon, vencedor das primárias, mas entretanto renegado, com a deserção dos notáveis para o Centro e dos eleitores para a Esquerda.
Outro facto político notável é que o principal favorito, Emanuel Macron, não tem qualquer partido a suportá-lo. Aliás, procura, a todo o vapor, institucionalizar o seu movimento En Marche (note-se o narcisismo de as iniciais serem as mesmas do nome do candidato) para as legislativas de junho (uma espécie de terceira volta). Acresce que Macron é, sem dúvida, o mais europeísta dos candidatos. Defende, sem sofismas, o aprofundamento da União Europeia, seja ao nível económico (propõe um Parlamento, orçamento e ministro da Economia e Finanças para os países da Zona Euro), seja na partilha da soberania em matéria de segurança e defesa.
O oposto de dois dos seus principais adversários: Marine Le Pen (extrema-direita, que defende o fim do euro e da Europa) e Jean-Luc Mélenchon, do movimento esquerdista França Insubmissa (que quer uma revisão dos tratados e se assume eurocético). A julgar pelas sondagens, há vários candidatos ao trono, como há vários à guilhotina. E entre eles o ideal e o futuro da União Europeia. E, por arrasto, o de Portugal.
* Editor-executivo
* Editor-executivo
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