segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Editorial | os dadores de sangue sustentam milhares de postos de trabalho

Admito que o título deste editorial provoque alguma perplexidade, mas, é mais do que real. Desde o fabrico das agulhas, aos locais onde se efectuam as colheitas de sangue, bolsas de plástico para o sangue, tubos para separação do sangue que vai ser analisado nos laboratórios, os especialistas que realizam as análises, armazenamento no frio, distribuição pelo circuito comercial até que chegue aos hospitais públicos e privados, como ainda pelas clínicas que recorrem a tratamentos à base de componentes sanguíneos, concluindo no consumidor final, o doente, ocupa milhares de pessoas, que por sua vez recebem os ordenados no final de cada mês.

Provavelmente, existem ainda outras tarefas associadas ao sangue, que nos escapa ou não é do nosso conhecimento.

Aqui chegados é da mais elementar justiça social colocar a seguinte observação: por norma o dador é uma pessoa saudável, logo não transporta qualquer despesa para o ministério da saúde vs IPST, e continua a ser tão desrespeitado? Ele paga para doar o seu sangue…

O dador por via da sua presença nos locais de sessões colheitas, contribui ainda para sustentar um conjunto de sujeitos impregnados no sistema da dádiva que nos deixa preocupados. O dador não deve ser visto e tratado como um herói, mas, sim como um cidadão que cumpre com o seu dever cívico, que se preocupa com a saúde do seu semelhante, preocupado também com o que lhe pode acontecer no dia de amanhã, a um dos seus familiares.

O autor deste texto sabe o que escreve, não só como dador que foi cerca de 36 anos, como ainda como dirigente associativo, e por fim como receptor de transfusão quando foi sujeito a uma operação ao coração.

Sempre estive do lado dos colegas dadores, nunca senti a necessidade de alinhar com qualquer uma das federações existentes, por essa e outras razões a factura a pagar tem sido elevada, mesmo dolorosa. Os meus colegas dadores sabem com o que podem contar deste lado…

Quando nos editorais anteriores foco a minha atenção no Centro de Sangue e Transplantação de Coimbra (CSTC), faço-o porque me sinto indignado, injustiçado, desconsiderado, usado, abusado, enganado, na medida em que tinha uma visão daquele centro completamente diferente da que tenho hoje. Manifestava uma confiança cega em determinadas pessoas, para ser recompensado com a ingratidão. 

O desrespeito pelo trabalho que tem sido feito ao longo de quase 11 anos em Aveiro, é assustador, senão mesmo arrepiante. Quando se dá conhecimento do que acontece aos ditos superiores, na esperança de uma actuação eficaz, a ilusão é brutal. O encobrimento de uns para com os outros, tornou-se num manto espesso, assim se compreende a dimensão da impunidade ali reinante (pelo menos é percepção que se fica pelas decisões administrativas tomadas).

Uma queixa que há uns anos foi movida contra a administrativa Odete Madureira, funcionária do CSTC, a pedido do ex-secretário de estado adjunto da saúde, Dr. Fernando Leal da Costa, ainda que tenha seguido nos termos legais, chegou ao responsável pelos recursos humanos daquele centro em Coimbra, foi despachada para o lixo. Porque não houve audição em sede de inquérito como determina o Código Procedimento Administrativo (CPA)? Quem está acima da lei? Ali não se aplica os direitos e deveres dos funcionários públicos? A ser verdade, estamos muito mal.

O mais caricato de tudo, os conselhos directivos do IPST têm tido conhecimento dos acontecimentos. Porque não actuam? Será que lhes é dito: está tudo bem, não se passa nada? O que aconteceu faz parte do passado? Nós tomamos conta do gajo?

Ser funcionário do CST de Coimbra é usufruir duma impunidade total? Quem fiscaliza as actividades dos funcionários? Será o CST de Coimbra, um centro onde ninguém assume responsabilidades directivas?

Oh, senhor ministro a saúde, senhores secretários de estado, afinal o que vem a ser isto? Os senhores não actuam porquê?

O alvo definido há muito tempo pelo CST de Coimbra é destruir o trabalho da ADASCA, conseguido com imensos sacrifícios durante quase 11 anos? Onde está o respeito que dizem ter pelos dadores, pelas associações de dadores, por todos aqueles que entregam à causa da dádiva? Devemos ser consequentes com o que dizemos e praticamos. De artimanhas, e malabarismos de natureza administrativa estou cheio.

Os mais velhos, dizem que o respeito nunca fez mal a ninguém. Os dadores de sangue sustentam mesmo milhares de postos de trabalho.

J. Carlos

Director 

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