segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Sermões de um protestante que os católicos podem aproveitar

MILAGRES NO CORAÇÂO
Tiago Cavaco
Quetzal
216 páginas
16,60 euros


“Este é o livro de um crente que quer mesmo impingir a sua crença a quem ainda não a tem. Este é um livro de um crente que acredita sinceramente que o seu credo é a diferença entre a vida e a morte. Se ficar zangado com isso, não faz mal. Ao insistir conhecer o Evangelho de Marcos, vai ver que Jesus ainda vai irritá-lo mais do que eu. E que promissor isso é!” Palavras de Tiago Cavaco no final do Prelúdio de “Milagres no Coração”.
O livro recolhe uma série de 24 sermões pregados há quase sete anos numa “cave estreita em frente ao Hospital da Cruz Vermelha”. Era na cave que se reunia então a Igreja Batista de São Domingos, em Lisboa.
Os sermões são todos sobre versículos de São Marcos, o mais cru, o mais direto, o mais narrativo e desconcertante evangelista. “O Evangelho de Marcos – escreve o pastor batista que também é músico rock – ficou para mim como aquele texto que imediatamente recomendo a alguém que quer começar a ler a Bíblia”. E afirma que acrescenta que à recomendação um aviso: “Toma nota daquilo que te surpreende em Jesus, sobretudo daquilo que nele te ofende”. “Acarinhar os aparentes maus-tratos que Jesus nos inflige é um dos meus credos”, remata. Maus-tratos de Jesus? Sim, esclarece Ricardo Araújo Pereira, o humorista, no prefácio, remetendo para uma teóloga americana: “O Cristo de Marcos é um homem que tem pressa. É mais áspero que sedutor, mais enigmático do que amável. Em linguagem moderna, diríamos que não tem sensibilidade para o marketing”.
E como são os sermões? São muito bons. Um católico só pode lamentar que para ler sermões atuais tenha de ler os dos protestantes. Há homilias católicas, reflexões, comentários… Mas nada de sermões, nada que mantenha a oralidade, as repetições, as oposições, as duplas negativas, as perguntas retóricas, as generalizações, a oratória inflamada – isto para apontar apenas os recursos que o próprio pregador batista diz que usa, e usa, como já usava no livro “Cuidado com o alemão”, sobre Martinho Lutero, que também foi recenseado no Correio do Vouga. Alguns protestantes cuidam melhor da Palavra, pelo menos os que não a manipulam, até porque absolutizando a palavra bíblica são mais propensos ao risco do fundamentalismo.
Porque “Cristo é sempre uma novidade”, este livro é ótimo para dele nos aproximarmos pelo caminho de Marcos. Como se lê na contracapa, “a Bíblia é o livro mais lido de sempre ao mesmo tempo que continua a ser o livro mais por ler, até por aqueles que julgam conhecê-lo”. E é sempre tempo de voltar à Bíblia. Marcos é uma boa porta.

Fonte: Correio do Vouga
(sites.ecclesia)


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