quinta-feira, 21 de abril de 2022

Negócio de canábis em Portugal roda de mãos por 26 milhões de euros


Com cultivo em Sintra e Aljustrel, a Holigen, até agora detida pela canadiana Flowr e uma das 18 licenciadas pelo Infarmed, foi comprada por um grupo britânico que já produz canábis em África.

A Holigen, que detém uma propriedade de cultivo indoor de canábis com cerca de 7.600 metros quadrados em Sintra e ainda uma instalação exterior com perto de 40 hectares no concelho alentejano de Aljustrel (Beja), acaba de ser comprada pela Akanda Corp, sediada no Reino Unido, por um valor a rondar os 26 milhões de euros.

A multinacional que já era dona de um campo de cultivo no Reino do Lesoto — pequeno país da África Austral que forma um enclave na parte oriental da África do Sul — e da empresa de importação e distribuição CanMart, que abastece farmácias e clínicas no território britânico, fechou negócio com a canadiana The Flowr Corporation.

Foi em julho de 2019 que este grupo de Toronto recebeu autorização do Infarmed para avançar com a plantação de canábis medicinal em Portugal, tendo nessa altura anunciado um investimento de 45 milhões de euros. Menos de três anos depois, a operação roda para as mãos da Akanda, que assim espera “melhorar a capacidade para atender à crescente procura” por este produto.

No arranque deste ano, os antigos donos anunciaram que a subsidiária Holigen tinha concluído com sucesso a primeira colheita de canábis medicinal com elevado teor de THC nas instalações sintrenses, esperando colher aproximadamente 300 quilos no primeiro trimestre. As previsões apontam para uma produção anual de mais de duas toneladas de “canábis premium“ nessa que é uma das poucas unidades com certificação europeia de boas práticas de fabrico (GMP), além de uma quantidade superior a 100 toneladas de canábis outdoor.

Portugal é uma das principais jurisdições da União Europeia para acolher negócios de canábis, com um Governo voltado para o futuro, além de um regulador responsivo".
Tej Virk

CEO da Akanda Corp
Além de dar escala aos ativos da Akanda no espaço da União Europeia, esta operação em Portugal vai permitir “otimizar a sazonalidade” através das operações de cultivo nos hemisférios Norte e Sul, o que diz ser “único no setor”. A nova proprietária da Holigen destaca ainda o potencial de desenvolvimento do mercado nacional, adiantando a intenção de ter a “distribuição do produto e parcerias B2C [diretamente entre a produtora e o consumidor final] em Portugal, respondendo a uma procura não satisfeita no mercado”.

“Portugal é uma das principais jurisdições da União Europeia para acolher negócios de canábis, com um Governo voltado para o futuro, além de ter um regulador responsivo”, elogia o presidente executivo da Akanda, Tej Virk, citado num comunicado divulgado esta quarta-feira e em que sublinha ainda que esta aquisição “acelera significativamente a estratégia” do grupo e “posiciona-o para criar valor significativo e sustentável” no país.

O cofundador da Flowr, Tom Flow, que no outono do ano passado se tinha mudado para Portugal para controlar o negócio da Holigen, deve manter-se na empresa e continuar a liderar esta operação em Sintra e Aljustrel, assim que esteja fechado com sucesso este processo de aquisição. Já foi aprovado pelas administrações de ambas as empresas e deve ficar concluído em termos regulamentares no segundo trimestre deste ano.

Investimentos e exportações a disparar
A lei que autorizou o cultivo e a exportação de canábis em Portugal entrou em vigor em fevereiro de 2019 e no final desse ano o então presidente do Infarmed, Eurico Castro Alves, advertiu que “em poucos anos a canábis medicinal vai notar-se no PIB português”. Em 2021 foram exportadas quase 30 toneladas de flor seca de canábis, seis vezes mais do que no ano anterior. Canadá, Israel, Austrália, França, Reino Unido e EUA são os principais destinos.

Segundo o Infarmed, que já recebeu um total de 99 pedidos de licenciamento, existem atualmente 18 empresas com autorização para cultivar canábis para fins medicinais. É o caso da canadiana Tilray, que tem uma unidade de produção em Cantanhede, ou da colombiana Clear Leaves, que no final do ano passado foi autorizada a mais do que duplicar a área de cultivo em Odemira e que está a construir uma unidade de secagem, corte e embalamento em Setúbal.

Apesar de ser dominado por multinacionais, também há empresas portuguesas a apostar neste setor. A Cannprisma, localizada em Castro Marim, iniciou o cultivo no último trimestre de 2021 e vai produzir 20 toneladas por ano. Com o projeto a prever uma fábrica em Vila Real de Santo António para produzir óleos e preparados de canábis para fins medicinais, a sociedade liderada por João Nascimento prevê chegar a uma faturação entre 30 e 50 milhões de euros por ano.

Também a start-up portuguesa AceCann, que reclama o estatuto de primeira empresa em Portugal a receber um certificado de idoneidade para prática de atividades de I&D por parte da Agência Nacional de Inovação (ANI), fechou em outubro uma ronda de financiamento de 15 milhões de dólares, liderada pela sociedade de capital de risco Casa Verde, para construir em Vendas Novas um centro de produção dedicado ao cultivo, processamento e extração de canábis, dirigido ao mercado europeu que até 2024 deverá valer quase 3 mil milhões de euros.

António Larguesa/ECO

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