terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Espanha | Detida terrorista que mudou de nome e era a "alma" de um bar madrileno


A mulher, de 47 anos, pertenceu ao Sendero Luminoso, considerado o maior movimento terrorista do Peru. É acusada de ter participado no homicídio de dois polícias e um civil em 1990

A Polícia Nacional de Espanha prendeu este mês, em Madrid, uma mulher de 47 anos suspeita de ter pertencido ao grupo terrorista Sendero Luminoso. Maria Hilda Pérez Zamora era procurada pela participação em pelo menos três assassinatos no Peru. As autoridades descreveram a mulher como "muito perigosa" e revelaram que se tinha escondido em Espanha, mudando de aparência física e de nome e que usava documentos falsos. Terá estado envolvida no homicídio de dois polícias e um civil em 1990. Quando foi detida, era uma avó que explorava um bar madrileno e que todos os dias levava a neta ao colégio.

Sobre ela pende um mandado de extradição solicitado pelas autoridades peruanas e os crimes pelas quais está acusada - ligados ao terrorismo - são puníveis com até 30 anos de prisão.

Segundo a polícia espanhola, citada pelo El País, a operação foi "de grande complexidade" devido à dificuldade em localizar a alegada terrorista, não só pelo uso de documentação falsa, mas "pelas mudanças físicas substanciais que foram feitas para evitar ser identificada", de acordo com os agentes.

Maria Hilda Pérez Zamora mudou o nome para Marian Hilda Pérez Zambrano. Essa pequena modificação conseguiu com que vivesse escondida em Espanha por mais de uma década.

Quando a polícia bateu à sua porta e perguntou por Maria, Marian e toda a vida que tinha construído começaram a desaparecer. O marido, o filho, as duas filhas e a neta, que ela mesma levava à escola todas as manhãs, fazem agora parte do passado, assim como o bar "Puerto Bahía", do qual era a fundadora e proprietária (embora estivesse no nome de uma das filhas).

"Ela era a alma deste lugar, um bar de cocktails com alma latina", revelou um dos investigadores que seguiu o rasto de Maria até Madrid.

Maria Hilda Pérez Zamora nasceu numa família humilde em Cajamarca, uma cidade na região montanhosa do norte do Peru. Aprendeu técnicas de guerrilha nos anos oitenta, tal como os irmãos e muitos outros camponeses. Uma das suas irmãs morreu num dos confrontos armados com a polícia, de acordo com os investigadores e outro irmão ainda está preso por ter participado em alguns dos ataques terroristas.

Nas fotos dos arquivos da polícia, Maria surge a segurar uma arma Kalashnikov e a fazer tiro ao alvo com outros guerrilheiros do Sendero Luminoso nas montanhas. Aos 47 anos, e a viver em Madrid, os investigadores encontraram uma Maria completamente diferente: cabelos muito curtos e muito pintados. Tinha cortado radicalmente com o passado terrorista até um polícia lhe bater à porta num dos bairros mais populares de Madrid.

"Ela não queria sair de casa", contaram os agentes encarregues da sua detenção. As filhas e o marido continuam com o bar aberto e Maria permanece "em detenção preventiva, mas o seu regresso ao Peru é iminente ", revelaram fontes próximas ao caso.

Depois de ser presa, Maria contou aos investigadores sobre esses tempos: da pobreza da família, das poucas saídas que existiam para os jovens da região e confessou o medo em regressar a um país que já não conhecia. No entanto, " estava muito consciente de que passaria o resto da vida atrás das grades", dizem os agentes que a acompanharam.

O Sendero Luminoso é considerado o maior movimento terrorista do Peru, e está entre os dois maiores grupos de ação da América do Sul (ao lado das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC), sendo inspirado no antifascismo contra o regime militar do país nos anos 60. O seu nome oficial é Partido Comunista do Peru - Sendero Luminoso (PCP-SL).

DN

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