sexta-feira, 4 de agosto de 2017

A Força da Imprensa Escrita, quem a tene?

Por Joaquim Carlos *

No mundo das letras o jornal ocupa incontestavelmente um lugar de particular relevância. A imprensa escrita contribui em larga escala para formar a opinião pública. Ela entra em milhares, senão em milhões de casas, consequentemente atinge milhões de leitores.
A imprensa escrita exerce uma influência extraordinária nas suas inteligências e na vida do dia-a-dia. A formação ou deformação das massas e a evolução do pensamento humano dependem, não digo totalmente, mas quase exclusivamente do que vem escrito num jornal.
O jornalista desempenha um papel decisivo na construção social da realidade, expresso na função do agenda-setting. Ao mesmo tempo, ele sistematiza a produção e distribuição da cultura a partir de princípios de conduta incontornáveis - as rotinas produtivas - que funcionariam à maneira dos paradigmas científicos (Ortega e Humanes, 2001).
A maior parte das pessoas que lêem o seu jornal não se encontram em condições de fazer passar pelo crivo duma crítica pessoal, séria e prudente, o que lhe é apresentado. Por isso quase todos os leitores aceitam sem pestanejar e aceitam como seu o que o jornal lhe dá a ler. A imprensa escrita pensa pelos leitores. É o seu cérebro, o seu mestre, o seu condutor ideológico. Daqui se conclui quão grande e tremenda é a responsabilidade que pesa sobre a imprensa quando informa a opinião pública. A imprensa, informando, pode ao mesmo tempo formar ou deformar.
Acima de tudo e antes de tudo, a imprensa não pode esquecer ou minimizar o inviolável respeito pela verdade e, consequentemente, o respeito pelo espíritos a quem se dirige. A pena numas mãos hábeis deve ser um instrumento de trabalho sério e contínuo ao serviço da verdade, o que nem sempre acontece.
Todas as grandes iniciativas humanas, os êxitos ou insucessos do homem estão fortemente condicionados pela imprensa escrita no seu geral. Altíssima e benemérita a função da imprensa que pode imprimir ao mundo e às ideias que o regem um rumo novo de abertura para a luz ou um resvalar vertiginoso para abismos tenebrosos.
A imprensa na sua generalidade deve procurar o bem-estar da família com base na justiça social; princípios básicos da liberdade, do direito, do dever; procurar lealmente a verdade e nada dizer que a possa ferir, como vem acontecendo nestes últimos tempos em que vale tudo com um único objectivo: vender papel e deformar os valores sociais.
Nobre, em dúvida, o seu intento revelador do sentido das proporções e da responsabilidade que cabe à imprensa. Importa, para seu contínuo prestígio, dignificar a imprensa colocando-a incondicionalmente ao serviço da verdade e aproveitando toda a gama de potencialidades extraordinárias que ela contém na condução do mundo e dos povos. Os valores que acima defendi quase poderiam considerar-se um abreviado código de deontologia jornalística, cuja publicação reputo mais necessária do que «pão para a boca».
Para quando um código bem elaborado de deontologia jornalística, já que o existente é frequentemente esmagado pelos jornalistas, os tais que se arrogam defensores da liberdade de expressão? Oh! A força extraordinária da imprensa escrita! Será que alguém já fez uma reflexão séria sobre o poder dominante da imprensa escrita na sociedade contemporânea, que se deixa manipular tão facilmente? É esta força que desperta as energias adormecidas, latentes, na alma humana. Os sociólogos e psicólogos sociais sabem disso, mas, mantêm-se silenciosos porquê?
Em todos nós há um anjo que repousa ou um demónio que vela pela notícia mais atroz, por vezes até sanguinária. No fundo, bem no fundo da alma humana, há centelhas de luz ou trevas densas, amor que redime ou ódio que avilta e cega; brilho de pérolas cintilantes de pureza ou charcos de águas mortas e podres de luxúria; de tudo existe na alma humana.
A imprensa escrita manejada habilmente pela pena do jornalista tantas vezes vai despertar o anjo da luz ou o demónio das trevas que parecia adormecido, no íntimo, bem no íntimo da alma humana.
A palavra do jornalista pode ser um raio de luz que ilumina e aponta caminho aberto e seguro, ou treva densa que atira para a escuridão mental que desorienta e se perde. Tudo isto pode ser a imprensa. Grande e nobre a missão da imprensa escrita, grande imensamente grande a sua responsabilidade social.
Que a pena do jornalista seja candeia a espargir luz, instrumento válido ao serviço da verdade, da justiça, do amor e nunca cutelo homicida a cortar os lírios da pureza que crescem nos jardins da alma humana, nem nefasto vento impetuoso que extingue o raio de luz, ou nuvem pardacenta que encobre o sol que ilumina e aquece.
O que pretendo dizer com esta verborreia (pensarão alguns)? Não foi justo a notícia que o JN publicou na edição do Dia 14 de Junho (Dia Mundial do Dador de Sangue) como ainda no dia 27 daquele mesmo mês, que versaram o subaproveitamento do Plasma Humano em Portugal. Nós sabemos que a substância das “denúncias” são outras.
Nem sempre as duas partes são tratadas em pé de igualdade, isso verificou-se durante o mandato do Hélder Trindade enquanto Presidente do Conselho Directivo do IPST, quando ofendeu dezenas de dirigentes associativos, sem que fossem ouvidos pela imprensa que deu cobertura às suas ofensas, chamando aos dirigentes "terroristas de sangue", "sindicalistas"  e mal formados.
Por vezes certa imprensa usa e abusa da liberdade que lhes foi conferida, esquecendo-se que esse bem valioso é património de todos.
Afinal a censura existe, e está onde menos devia estar: nas redacções a partir das decisões que são tomadas.

*Jornalista, Director do Litoral Centro - Comunicação e Imagem e Ex-Director  da TRIBUNA da ADASCA
NB: As Revistas Tribuna da ADASCA podem ser lidas desde a edição 0 à edição 7 no site:www.adasca.pt

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