sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

“EÇA DE QUEIROZ, JORNALISTA” “ALÉM DE ROMANCISTA, EÇA FOI UM GRANDE, FORMIDÁVEL, JORNALISTA.

Os dois papéis não eram, aliás, incompatíveis, podendo facilmente argumentar-se que um enriqueceu o outro. O jornalismo obrigou-o a estar atento ao que o rodeava, a ficção contribuiu para que desse importância ao estilo.

Excerto da Introdução.

Foi por conhecer mal esta vertente de jornalista, que requisitei este livro. Da sua participação em jornais, conhecia os romances-folhetim que escrevia no DN, tinha uma ideia de Eça ter dirigido um jornal alentejano e sabia da sua participação n’ ”As Farpas”.

Eça de Queiroz, Jornalista é uma recolha da autoria de Maria Filomena Mónica de alguns dos mais marcantes e entusiasmantes artigos de Eça.

O tal jornal alentejano em que Eça participava, era O Distrito de Évora, criado em 1867 e os artigos que apresenta são de pseudónimos do escritor/jornalista. Tratava-se de um jornal de crítica ao Governo, financiado por José Maria Eugénio de Almeida, um grande lavrador alentejano.

“O que são há 20 anos os partidos em Portugal? Que pensamento traduzem? Que grande facto social querem realizar? Formam-se, desagregam-se, dissolvem-se, passam, esquecem, sem que deles fique uma edificação aceitável, uma criação fecunda. Estabelecem patronatos, constroem filiações, arregimentam homens e braços trabalhadores, preparam terreno e solo robusto, onde eles possam sem embaraço tomar as livres atitudes do aparato e da vaidade reluzente. Nada mais fazem. Nascem infecundamente, morrem esterilmente.”

Publicado in O Distrito de Évora, 14 de Fevereiro de 1867 (nº11)

Eça é uma referência na pródiga Geração de 70, a par de Ramalho Ortigão ou Oliveira Martins. Trata-se de uma geração de intelectuais que espelha uma época em que a informação estava já mais acessível ao povo, em grande parte graças ao aparecimento do Diário de Noticias.

Mas o escritor nunca teria o acesso à cultura e informação se não tivesse decidido sair do país, primeiro para Cuba, como cônsul – não era o país que uma mente insaciável de cultura como a de Eça procurasse, mas foi a primeira hipótese de sair do país – e de seguida para Inglaterra. De Newcastle para Bristol, vai escrevendo para jornais portugueses, brasileiros e, em 1889, concretiza o seu sonho e funda a “Revista de Portugal”, que viria a falir três anos mais tarde.


Este é um livro fundamental para saber isto e muito mais. Acima de tudo, ensina-nos que tivemos um soberbo jornalista, para o qual “apenas” olhamos como soberbo escritor.


editorlitoralcentro@gmail.com

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