sábado, 16 de setembro de 2023

Será rir mesmo o melhor remédio?


Uma recente revisão da literatura realizada no Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte) sugere que o humor está associado a um aumento do bem-estar, nomeadamente do bem-estar psicológico.
Raquel Oliveira, aluna do Doutoramento em Psicologia do Iscte e primeira autora deste trabalho, explica que “Não se sabe ao certo porque é que as pessoas riem, mas há evidências de que possa estar relacionado com a socialização. Por exemplo, as pessoas tendem a rir mais na presença de outras, e o humor tem sido associado ao fortalecimento de laços sociais”. Para além do seu valor social, o humor e o riso têm sido associados a diferentes tipos de bem-estar.

A equipa de investigação pretendia compreender a relação entre o humor e o bem-estar. Patrícia Arriaga, investigadora do CIS-Iscte e orientadora de Raquel, esclarece que “Existem muitas teorias sobre o humor e o bem-estar, e cada teoria tem o seu próprio entendimento destes dois conceitos. Isto é um desafio quando se tenta compreender se o humor tem um impacto no bem-estar das pessoas, porque depende do estilo de humor e do tipo de bem-estar considerados”. Ao analisar 128 estudos empíricos com participantes adultos, a equipa de investigação quis resumir sistematicamente as evidências da associação entre o riso, o humor e o bem-estar. Para isso, analisaram diferentes componentes do humor, como os estilos de humor e os estilos de comédia.

Segundo Raquel Oliveira, “Os estilos de humor referem-se às formas habituais como as pessoas utilizam o humor no seu quotidiano e podem ser classificados em quatro categorias: afiliativos (positivos, dirigidos aos outros), auto-reforçadores (positivos, dirigidos a si próprio), agressivos (negativos, dirigidos aos outros) e auto-destrutivos (negativos, dirigidos a si próprio)”. Os estilos de comédia baseiam-se na literatura clássica do humor e incluem diferentes tipos de humor, como a sátira, a ironia e a comédia física. Já o riso, por sua vez, é um tipo específico de vocalização que está tipicamente (mas nem sempre) associado ao humor. A investigadora refere ainda que “também encontrámos estudos que exploraram a forma como as pessoas utilizam o humor como mecanismo para lidar com o stress e a adversidade (humor de “coping”), e o sentido de humor – a capacidade do indivíduo para perceber e apreciar o humor”.

Esta revisão debruçou-se sobre as diferentes dimensões do bem-estar, nomeadamente o bem-estar psicológico, físico, social e geral. João Barreiros, terceiro autor do artigo, explica as diferenças entre elas: “O bem-estar psicológico refere-se à avaliação subjetiva que um indivíduo faz da sua própria vida, incluindo o sentido de propósito e o crescimento pessoal, por exemplo. O bem-estar físico refere-se à saúde física de um indivíduo e o bem-estar social está relacionado com um sentimento de pertença e de ligação aos outros. O bem-estar geral refere-se ao sentido mais global de felicidade e satisfação com a vida.”

Os resultados da revisão de literatura indicam que os estilos de humor parecem ser os mais investigados. Os resultados deste conjunto de estudos apoiam a ideia de que os estilos de humor positivos (afiliativos e auto-reforçadores) estão associados a um maior bem-estar psicológico. Verificou-se também uma associação entre os estilos de humor positivos e o bem-estar social e geral. Embora a relação entre o humor e o bem-estar físico seja menos explorada na literatura, os resultados sugerem que o humor auto-reforçador está associado a um maior bem-estar físico. No entanto, não se observou uma associação consistente entre quaisquer outros estilos de humor e o bem-estar físico. Por fim, as intervenções baseadas no riso e no humor produziram resultados positivos em muitas dimensões do bem-estar, especialmente no bem-estar psicológico.

Em suma, este estudo fornece evidências da importância do humor na promoção do bem-estar e salienta os potenciais benefícios de cultivar estilos de humor positivos, em particular o humor auto-reforçador. Embora a equipa de investigação reconheça a limitada evidência empírica que existe na literatura relativamente à associação entre humor e bem-estar físico, considera que a sua natureza positiva estabelece um caminho promissor para investigação futura. Além disso, “estes resultados podem ter implicações importantes para intervenções destinadas a melhorar o bem-estar, em particular o bem-estar psicológico”, conclui Raquel Oliveira.

Pedro Simão Mendes
Comunicação de Ciência (CIS-Iscte)
 APImprensa

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