terça-feira, 10 de novembro de 2015

Violência doméstica versus verbal

Violência doméstica versus verbal

Por Joaquim Carlos *

A notícia do jornal era chocante. O marido tinha deitado gasolina em cima da esposa e tinha-lhe pegado fogo! Segundo os familiares e vizinhos, isso foi o culminar de uma vida inteira de agressões. E tudo tinha piorado quando os filhos saíram de casa. Ele estava mais à vontade para a encher de pancada. A notícia dizia ainda que, quando a viu entrar para a ambulância, o marido chorava pedindo que lhe perdoasse porque estava arrependido.
Esta é apenas uma, entre dezenas de notícias que, diariamente, chegam ao nosso conhecimento através da comunicação social. A violência doméstica tem sido alvo da nossa atenção, dada a proporção com que acontece no nosso país.
Procuram-se causas, discutem-se consequências, arranjam-se soluções. Explica-se pela mentalidade machista, pela miséria, pelo alcoolismo, incluindo vícios de outra natureza que perturbam ou danificando as faculdades mentais. Fala-se nas marcas físicas e psicológicas que deixa nas crianças, no sofrimento que provoca na família. Promulga-se mais uma lei, como as que já existem não fossem suficientes ou imperfeitas. Há gabinetes de Estado para os assuntos da família.
Tristemente, temos que admitir que a violência no lar está longe de ser debelada. Porque há muitas formas de violência. Formas que, normalmente, como costumamos dizer, “não matam, mas moem”. Refiro-me, por exemplo, às palavras. As coisas que os membros da família dizem uns aos outros em forma de agressão pessoal: “tu és um estúpido…”, “és sempre a mesma coisa…”, “ és um malandro…”, “o menino é mau!...”,  “para que tiraste esse curso…”. E as discussões acesas de gritos, histeria, de asneiras, de ameaças passam a ser uma constante, culminando em agressões físicas, mesmo em homicídios bárbaros.
Há também a ausência de palavras. O silêncio agride, quando o que é preciso é diálogo, pelo menos essa é a receita que se recomenda nas sessões de terapia conjugal. Cônjuges que não falam um para o outro, às vezes, dias seguidos. E que dizer das ironias, das piadas de mau gosto, das indirectas, dos comentários negativos à sogra ou a outros elementos do núcleo familiar, e aos vizinhos?
Chocante? Talvez não tanto, à primeira vista, como deitar gasolina sobre uma pessoa e atear-lhe fogo. Mas, como é que a família pode subsistir saudável e feliz a um ambiente de agressividade contínua? Família, em que cada membro luta pela sobrevivência emocional, descarregando fora de casa as suas frustrações de variadas maneiras. Muitas vezes evidenciando claramente o que recebem lá dentro, levando uma vida de faz de conta, que está tudo bem, porque tem de ser assim. Nem sempre o andar na rua de mão dada, se traduz numa relação de respeito integral mútuo.
Haverá soluções capazes de recolher os cacos e restaurar as vidas de crianças, jovens, adultos – membros de famílias desfeitas pela violência, pelas atitudes negativas, demolidoras e humilhantes? Não parece um caminho fácil, com transformações radicais ou crescimento instantâneo.
Fonte:sicnoticias.sapo.pt
Muitas famílias nestas situações recorrem com frequência às diversas igrejas evangélicas, onde já é possível encontrar aconselhamento especializado. Em jeito de conversa de café dizia-me um Pastor Evangélico: ”Mas a verdade é que Deus, cujo plano para a humanidade foi desde o princípio a vida em família, tem poder restaurador e transformador de vidas. A verdade é que a Sua Palavra ensina, edifica, exorta, consola e liberta”. Pena é que poucas são as famílias que nela acreditam.
No seguimento do nosso diálogo continuou:”Famílias felizes? Uma realidade possível depois da violência? Sim. Com Deus na vida de cada um dos seus membros e a Sua Palavra no lar, tudo é possível, porque para Deus nada é impossível, assim está escrito na sua Sagrada Palavra, também, desde que cada um faça a sua parte”.
Se tivermos em conta a situação dramática que o país está a atravessar, a tendência é que situações semelhantes se generalizem provocando estragos em todas as áreas do núcleo familiar. Convém estarmos atentos aos sinais dos tempos de crise que nos vêm esmagar os limites da paciência e do bom senso.

*Editor|Administrador do Litoral Centro



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