quinta-feira, 13 de abril de 2017

ELEIÇÕES EM FRANÇA: UMA FOSSA ABISSAL. HEIL LE PEN, SCHAUBLE E ASSOCIADOS!


Que faltam 11 dias para as eleições em França, o coio de nazi-fascistas. Também é verdade que França elegeu antes um xuxalista cheio de não presta, Holland. Esse, atual PR, não se candidata. Ao menos isso. Olha-se ao espelho e sabe que para bisar trampa não vale o “sacrificio”. Para já porque decerto não seria reeleito, nem ele nem a sua mediocridade.

França está na fossa. A direita ressabiada e nazi-fascista duma filha de um grande outro que tal Zé da Viola, Le Pen, vai com intenções de voto de 20 por cento, mas há mais à direita, o que revela que mais de 30 por cento dos eleitores franceses ou são estúpidos ou realmente fascistas. Não lhes chegou o que Hitler fez de França, gato-sapato, agora são eles próprios que querem ver Paris a arder. Depois há um tal que se diz de esquerda e que, dizem, está a subir nas sondagens. Se assim acontecer torna claro a enorme divisão que vai naqueles país. Aliás, não é o único, na Europa. Os povos parece que gostam sempre de levar porrada e vai daí elegem os que não devem. E agora, se lessem isto, perguntariam: “E então em quem devemos votar?” Pois. Boa pergunta. Sabemos lá em quem devem votar! Sabemos, isso sim, que na maioria dos casos os candidatos são uns grandes mentirosos. Ah! E sabemos que não devem votar nesses radicais de direita, nesses mordomos do nazismo. Ou não vos bastou o tempo que a França esteve ocupada pelos estuporados ao serviço de Hitler? Então têm aí a tresloucada Marine Le Pen que é fascista, nazi, e só não o assume porque isso ainda não lhe convém. Só o fará, se fizer, depois de tomar o poder que, eventualmente, lhe ofereçam de bandeja. Adiante. Façam o que devem e como devem: preservem o mais possível as liberdades, a democracia – mesmo a atual, que é tão deficitária. Ainda mais por via da UE estar sob a ameaça igualmente nazi de marmanjos como Schauble e esse tal Dijsselbloem, seu lacaio. Adeuzinho, até ao meu regresso, disse Hitler. Aí estão eles, radicados naquela zona europeia que nunca mais aprende e tende sempre para dar abébias aos ditadores, aos fascistas, aos nazis. Heil, Schauble e seus seguidores. Até a Merkel é metida no saco por aquele poder rodosentado schaubliano. Ora porra, meus!

Seguindo para a praia. Hoje não há mais pão para malucos. Vão ao Expresso Curto tirado por Pedro Santos Guerreiro. Tem muita espuma e trato de muitos temas. Não percam. Bom dia, se conseguirem. (MM / PG)

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Pedro Santos Guerreiro - Expresso

Faltam 11 dias

Daqui a semana e meia, há eleições em França. Mesmo sem se saber se muda tudo, já tudo mudou. Mudou na esquerda francesa mesmo que a direita não ganhe. Mas mudará toda a Europa se Marine Le Pen vencer. As sondagens dizem que não, que pode até ganhar na primeira volta mas perde na segunda. Mas o que acertam as sondagens?

“É inédito. Tudo pode acontecer", afirmou ontem o diretor do Departamento de Estudos do Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop), citado pelo DN: quatro candidatos estão com intenções de voto próximas dos 20%: Marine Le Pen já era uma séria candidata, assim como Emmanuel Macron, mas Jean-Luc Mélenchon desatou a subir nas últimas semanas e já ultrapassou François Fillon. Ou seja, uma nacionalista de direita e um populista de esquerda assomam, residindo s esperanças europeias (incluindo as de Angela Merkel) em Macron. E, como escreve o Ricardo Costa, de surpresa em surpresa um facto emerge: “o PS francês está em vias de desaparecer”.

Estas são as eleições mais importantes do ano na Europa: uma eleição de Le Pen será uma pedrada na União Europeia, que a ameaça muito mais do que o Brexit, escrevia ontem, no Público, Teresa de Sousa.

O crescimento de partidos anti-europeus (sejam eles nacionalistas, populistas ou ambas as coisas) resulta do fracasso da UE em dar respostas aos problemas de que ela passou a fazer parte. Esses problemas não têm apenas a ver com falta de liderança, com derivas ideológicas ou com paralisias institucionais. A esquerda deixou-se capturar pelo sistema financeiro, sendo incapaz de produzir um discurso e uma política que reaja à condição de endividados. E a direita da social-democracia resignou-se à condição de uma desigualdade crescente. Ainda esta semana o FMI emitiu um relatório que confirma o agravamento do fosso de distribuição da riqueza entre o capital e o trabalho, em desfavor deste. Isto é, dos salários. Aceitar este efeito colateral do capitalismo financeiro e globalizado como inevitável é muito mais do que não saber lidar com resgates, é ignorar uma das principais razões pelas quais o eleitorado europeu vota contra o projeto que lhe vem garantindo a paz. Mas não a prosperidade.

Faltam 11 dias para as eleições francesas e nenhumas outras fora de Portugal são este ano tão importantes para o que se passa – e passará - também connosco.

OUTRAS NOTÍCIAS

Final da tarde de ontem. Três engenhos explodiram junto do autocarro do Borussia Dortmund, quando este levava a equipa alemã para o estádio do clube, onde tinha jogo marcado contra o Mónaco, na primeira mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões. Pouco mais houve do que vidros partidos, pode aliás ver as imagens do autocarro aqui. Mas as explosões provocaram ferimentos ligeiros em Marc Bartra, defesa central espanhol, que foi transportado para um hospital. No Borussia Dortmund alinha Raphaël Guerreiro, internacional português, que estava convocado para o jogo. Mas foi o guarda-redes Roman Bürki o primeiro a falar: “Após o estrondo atirámo-nos todos para o chão”.

No estádio, não houve incidentes. Antes de abandonarem o recinto, os adeptos do Monaco entoaram cânticos de apoio ao Borussia Dortmund. O jogo foi adiado para hoje. O Jornal “A Bola” faz do ataque, ainda não reivindicado, a manchete de hoje com “Terror chega à Champions”. A Tribuna recorda outros ataques junto aos estádios de futebol, de Istambul e Paris.

(Onde houve jogo foi em Turim. Resultado, três secos: o Barcelona foi goleado pela Juventus, na 1ª mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões. Como escreve a Mariana Cabral, ou há uma “remontada épica” na segunda volta, ou este assunto está arrumado.)

Um inquérito realizado pelo Centro Árabe para Estudos de Investigação e Políticas, sediado no Qatar, revela que o auto-denominado Estado Islâmico, o Daesh, é mal visto no mundo árabe: 89% da população tem dele uma perspetiva “negativa” ou “muito negativa”.

Foram executadas 1032 pessoas no mundo em 2016, revela a Amnistia Internacional. O número é inferior ao de 2015, mas as sentenças de morte emitidas pela justiça foram mais. A maioria daquelas penas foi cumprida em cinco países: China, Irão, Arábia Saudita, Iraque e Paquistão. Ao Expresso, Pedro Neto, diretor-executivo da Amnistia Internacional Portugal, fala numa “projeção conservadora”. Mas também em esperança. E lembra dois casos de sucesso: Benin e Nauru, que aboliram a pena de morte em 2016.

A China informou esta madrugada que o presidente Xi Jinping falou por telefone com Donald Trump sobre a Coreia do Norte, pedindo-lhe calma. A informação surge depois de o presidente norte-americano ter ontem dito que “a Coreia do Norte está a querer arranjar problemas” e que está pronto para “resolver o problema” sem a China. Os Estados Unidos destacaram meios militares para o oeste do Pacífico em resposta aos testes de mísseis de médio-alcance, efetuados na semana passada, na altura em que o Presidente Xi Jinping estava com Trump na Flórida. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte anunciou depois que o país está preparado para responder à exibição de força americana.

Malala Yousafzai foi nomeada Mensageira da Paz pelas Nações Unidas. A paquistanesa de 19 anos tornou-se conhecida pelo ativismo a favor da educação para todas as raparigas no mundo.

Sobre outro cenário de conflito, os EUA afirmam que "o domínio da família Assad está a chegar ao fim" (no Público) mas as declarações do assessor de imprensa da Casa Branca que estão a provocar grande polémica são outras: condenando o apoio de Moscovo ao regime de Bashar al-Assad, após o ataque com gás Sarin da semana passada numa zona da Síria controlada pelos rebeldes, Sean Spicer afirmou que “mesmo alguém tão desprezível como Hitler não desceu ao nível de usar armas químicas”. Hitler usou câmaras de gás nos campos de concentração nazis durante a Segunda Guerra Mundial.

“É fácil imensos idiotas formarem a opinião pública”, afirma Eric Frattini em entrevista ao Expresso Diário, sobre o fenómeno das “fake news”, notícias falsas, demagogia e desinformação. O espanhol especialista em serviços secretos é autor de “Manipulação da Verdade” (Bertrand).

A investigação jornalística internacional aos “Panama Papers” ganhou um prémio Pulitzer, na categoria de “Explanatory Reporting”. É para o Expresso um enorme orgulho estar associados ao consórcio que ganhou um dos prémios de jornalismo mais importantes do mundo. A investigação reuniu trezentos jornalistas de mais de 70 países, que revelaram um esquema de offshores a partir de documentos confidenciais, que o próprio consórcio tornou entretanto públicos. O Micael Pereira e o Rui Araújo, jornalistas do Expresso e da TVI, estiveram envolvidos na investigação. Em Portugal, as consequências prosseguem. Ainda este sábado o Expresso revelou que o Fisco está a investigar portugueses envolvidos nas revelações dos “Panama Papers”. Também a Operação Marquês tem usado informação revelada pelo Expresso e pela TVI, nomeadamente a denúncia de utilização de uma rede de sociedades offhshore pelo Grupo Espírito Santo através da qual se fizeram pagamentos e até contratos de fachada. Infelizmente, o poder político ainda não produziu alterações legislativas para atacar a fundo o problema dos paraísos fiscais.

Greve dos médicos agendada para 10 e 11 de maio, a primeira deste governo. O protesto contra as políticas de Adalberto Campos Fernandes dita o fim do 'estado de graça', escreve a jornalista Vera Lúcia Arreigoso. As razões foram explicadas em comunicado: “ As promessas ministeriais continuam a não ter tradução em atos concretos e em medidas de solução dos problemas existentes, as reuniões ditas negociais não passam de simulacros e de passar de tempo, esgotando-se no recurso ao argumento de dificuldades financeiras.”

O apoio extraordinário a desempregados de longa duração deverá ser atribuído este ano a 10.000 beneficiários. Este subsídio, que corresponde a 80% do subsídio social de desemprego cessado, é pago durante um máximo de seis meses. O custo total para o Estado é de 213 milhões euros. Os dados estão no Programa Nacional de Reformas, relatório que a imprensa tem vindo a revelar esta semana.

O Fisco e Segurança Social levam 41,5% do salário médio dos portugueses. São dados calculados pela OCDE.

O PCP anunciou uma resolução para a libertação da submissão ao euro, a renegociação da dívida e o controlo público da banca. O documento será apresentado na segunda quinzena de maio, com o agendamento de uma interpelação ao Governo centrada nas condições para o desenvolvimento da produção nacional. A jornalista Rosa Pedroso Lima analisa os três pontos de fricção entre PCP e governo: Novo Banco, proteção de longas carreiras contributivas na reforma e legislação laboral.

A banca tem €33 mil milhões de crédito em risco, quantifica o Plano Nacional de Reformas. Os dados são de setembro. Entretanto, Paulo Macedo já cortou empréstimos de risco dos prejuízos da Caixa, avança o Negócios. E o Governo quer punir bancos que não limpem créditos de risco, adita o Público.

Portugal realiza hoje leilões de dívida pública, esperando obter entre €1000 milhões e €1250 milhões em Obrigações do Tesouro, nos prazos de cinco e oito anos.

“A Câmara do Porto já baixou mais o endividamento neste mandato do que nos três mandatos anteriores”. No relatório de prestação de contas de 2016 apresentado ontem, e citado pelo Eco, a autarquia de Rui Moreira parece responder a Pedro Passos Coelho, que no fim de semana, na apresentação do candidato do PSD Álvaro Almeida, acusou o Porto de “estar parado” há quatro anos, aproveitando da herança de Rui Rio. Quem responde mesmo é Miguel Guedes, em opinião no Jornal de Notícias: “O lado risível da declaração não se confina aos seus termos. É quase cândida a forma como Passos não aceita que o país tenha mudado sem ele.”

Mas as declarações do PSD não foram inócuas, ao acusarem Rui Moreira de ser o rosto do PS. Ana Catarina Mendes disse ao Expresso no sábado que o PS terá “representação forte” nas listas de Moreira e ambas as posições levaram a uma demarcação. Nuno Santos, assessor do presidente da Câmara do Porto, diz que as listas não estão feitas, que não haverá “jobs for the boys” e Moreira não estará na reunião de maio da concelhia socialista. Já o eurodeputado socialista Manuel dos Santos escreveu ontem no Facebook que Costa fez um “negócio” eleitoral com Moreira, prometendo-lhe um lugar de ministro ou a liderança da lista para o Parlamento Europeu, o que deixaria o lugar vago para um presidente da Câmara socialista. Rui Moreira respondeu-lhe, desmentindo, acusando-o de “mentira e insídia” e garantindo que cumprirá o próximo mandato até ao último mandato, se vencer as eleições.

Lá como cá. Marcelo Rebelo de Sousa sai esta manhã de Cabo Verde para o Senegal, deixando um rasto de vídeos e “selfies” que tomou conta das contas nas redes sociais dos cabo-verdianos, relata o Público.

Há mais portugueses que querem estudar no Reino Unido apesar do Brexit, explica o nosso correspondente em Londres, Ricardo Garcia. As candidaturas de alunos de outros países da União Europeia a universidades britânicas caíram este ano 6% em relação a 2016, mas as de Portugal subiram 17%. “Foi de longe a maior taxa de aumento entre os poucos Estados-membros com mais candidatos do que no ano passado.”

Foi uma das notícias do início da semana, propagada através de imagens captadas por outros passageiros: a expulsão de um passageiro da United Airlines de um avião sobrelotado por “overbooking”. O presidente da empresa da transportadora pediu desculpa mas realçou que o passageiro se recusou a sair ordeiramente. O caso teve como consequência a queda das ações da empresa em Bolsa, que chegou a 4,4% - uma desvalorização de quase 800 milhões de dólares. A Fortune deixa entretanto perguntas: onde estava o piloto e os agentes do aeroporto?

Em Portugal, mais de 11 mil passageiros ficaram no ano passado em terra por causa de overbooking. Mas cenas como a da United Airlines são impensáveis, diz a TAP. O regulador, a ANAC, explica como tudo funciona – os passageiros nem sequer chegam a entrar no avião. A Maria João Bourbon e a Conceição Antunes explicam como funciona o “overbooking” aqui.

Há 21 adeptos proibidos em Portugal de entrar em estádios de futebol. Leia na Tribuna Expresso.

O Benfica prossegue a transformação de parte da dívida à banca em dívida a obrigacionistas: ontem, a SAD aumentou de 50 para 60 milhões o montante máximo do seu empréstimo a três anos, que está a colocar a uma taxa de juro de 4%, noticia o Eco.

FRASES

“Há uns anos, receava-se a “espiral recessiva”. Não deveríamos recear agora a “espiral eufórica”? Sobretudo, quando o défice mais pequeno da democracia esconde a maior dívida da democracia?”Rui Ramos, no Observador.

“Em toda esta história [da viagem de finalistas a Torremolinos e subsequentes reações], não há nada de mais grotesco do que o paternalismo, que pressupõe que os jovens são tontos e lhes devemos oferecer a viagem para a tontice, que é afinal onde não incomodam ninguém.” Francisco Louçã, no Público.

"O risco de um conflito entre EUA e Rússia é real e assustador".Peter Kuznick, historiador e especialista em questões nucleares, em entrevista ao Diário de Notícias.

O QUE EU ANDO A LER

“Se ainda acreditarmos no «progresso» (uma conclusão que está longe de ser óbvia), temos agora a propensão de o encarar como uma mescla de bênção e maldição – as maldições a aumentarem cada vez mais à medida que as bênçãos vão sendo em menor número e com maiores intervalos entre si.”

Este é um excerto de um texto inédito de Zygmunt Bauman, o grande pensador que morreu este ano e de quem já aqui falámos. O Expresso vai publicar no sábado este texto, que deois estará incluído no livro “O Grande Retrocesso”, um “debate internacional sobre as grandes questões do nosso tempo”, editado pela Objetiva.

“Enquanto os nossos antepassados recentes ainda acreditavam que o futuro era o mais seguro e promissor depósito das suas esperanças, nós tendemos a projetar nele, essencialmente, os nossos múltiplos medos, ansiedades e preocupações – perante a crescente escassez de empregos, o decréscimo de rendimentos que reduz as oportunidades nas nossas vidas e nas dos nossos filhos, a ainda maior fragilidade da nossa posição social e a efemeridade das nossas conquistas, o gradual alargamento do fosso entre as ferramentas, os recursos e as capacidades à nossa disposição e a enormidade dos desafios com que nos deparamos. Acima de tudo, sentimos que estamos a perder o controlo sobre a nossa própria vida, relegados que ficamos ao estatuto de peões que avançam e recuam num jogo de xadrez travado entre jogadores desconhecidos, indiferentes às nossas necessidades – quando não se revelam, pura e simplesmente, hostis e cruéis para connosco – e que nunca hesitam em sacrificar‑nos para atingirem os seus próprios objetivos. Até há relativamente pouco tempo, a ideia do futuro era associada a mais conforto e menos inconveniência, mas presentemente aquilo que mais nos faz evocar é a terrível ameaça de sermos apontados ou rotulados como sendo incapazes ou desadequados para o desempenho de uma tarefa, sendo‑nos negado valor e dignidade, e, por esse motivo, sermos vaticinados à marginalização, exclusão e expulsão.”

O texto parte de conceitos desenvolvidos por Bauman, como o da realidade líquida, para falar de migrações. Socorrendo-se de um famoso texto de Umberto Eco de 1997, Bauman sublinha a diferença entre emigrações/imigrações (de/para) e migrações (de, mas para onde?). E posiciona o fenómeno numa realidade social mais ampla, em que se quer fugir mas não sabe para onde. É por isso Bauman abre o seu texto com uma citação de um livro de Franz Kafka, “A Partida”:

“Escutei um trompete, e perguntei ao meu criado o que significava. Ele não sabia de nada e não tinha ouvido nada. Junto ao portão, ele deteve‑me e perguntou:

– Para onde é que o Senhor vai?

– Não sei – respondi –, simplesmente para fora daqui. Para fora daqui, nada mais, é a única forma de eu alcançar o meu objetivo.

– Então sabe qual é o seu objetivo? – perguntou ele.

– Sim – respondi. – Acabei de te dizer. Fora daqui – é esse o meu objectivo.”

Ao ler, lembrei-me de um livro de poemas de José Anjos: “Manual de Instruções para Desaparecer” (Abysmo). E deste poema, “porta líquida”:

“viver não chegava era preciso matar trucidar violar em nome da ânsia
em nome do fogo respirar não chegava era preciso destruir o ar todo não chegava
era preciso emborcar todos os corpos angustiados devorar bocas nuas
engolir flores pela pele luxúria perfumes todos era preciso
explodir babilónias construir céus livres com as mãos líquidas
sobre todos os corpos de terra e desvendar aos deuses depostos
mamas de mar concupiscência e verdade ao mesmo tempo
todas luz e carne sem segredo
- e encher-se nelas de vida até o corpo ser todo de novo pela boca renascido

junto à porta
antes da qual tínhamos sabido
morrer sem nunca ter sido”

Tenha um excelente dia. Aqui, como ali, sempre por .

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