domingo, 20 de janeiro de 2019

No Rio, Ocupação Vito Giannotti completa três anos de luta por moradia digna

A data foi marcada com um dia de debates e festa com colaboradores e moradores do prédio que fica na Zona Portuária
Flora Castro
Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ),19 de Janeiro de 2019 às 21:37

Para comemorar o aniversário de três anos da ocupação foi montada uma programação composta por debates e confraternização / Pablo Vergara
A ocupação Vito Giannotti, no bairro do Santo Cristo, na Zona Portuária do Rio, completou três anos e a data foi comemorada neste sábado (19), com uma programação composta por debates, confraternização e com a inauguração do espaço de cultura e resistência Marielle Franco, no terraço da ocupação. 
Referência na questão urbana do estado, a ocupação teve início no dia 16 de janeiro de 2016, com a chegada de 28 famílias ao prédio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Atualmente, o local é a casa de cerca de 25 famílias e recebe grupos e movimentos de toda América Latina para atividades.
O historiador e escritor Luis Antonio Simas participou da comemoração e explicou a importância das ocupações urbanas. “A cidade é um território em disputa, então é legítimo que se recupere e lute por esses territórios porque são áreas que foram espoliadas dos povos do Rio de Janeiro. Nesse sentido, os três anos da Vito Giannotti é um marco, este talvez seja o grande exemplo que temos de ocupação do espaço numa parte da cidade que é fundamental, por ser na zona portuária e que foi usurpado da população mais pobre”, disse.

Paulo Virgílio, 59 anos, morava no Rio Comprido, na zona norte da cidade, antes de chegar à Vito Giannotti. Participou do dia de “quebrar as correntes”, como ele mesmo diz, que abriu as portas para a criação da nova ocupação. “Participei da primeira reunião, estou aqui desde o primeiro dia. A nossa luta é para que a gente não pague aluguel e consiga a moradia aqui, com a justiça definindo esse local como moradia popular.”
O prédio no Santo Cristo já havia sido declarado “local de interesse social” em 2006 pelo Ministério das Cidades. Na data da ocupação ele já poderia ter sido destinado a projetos de moradia popular há pelo menos 10 anos. Três anos depois essa ainda é a luta dos moradores.
Em diversos momentos, as famílias foram assombradas por pedidos de reintegração de posse - anulados repetidas vezes na articulação entre os moradores, movimentos populares e advogados. “A gente está sempre tomando sustos no dia a dia. Com a definição de moradia da ocupação, a gente teria mais segurança e tranquilidade para poder pensar em ter um lazer, investir nos filhos e melhorar até nossa alimentação”, desabafa o técnico em aparelhos de aquecimento solar.
A ocupação é construída desde o início pela Central dos Movimentos Populares (CMP), o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e a União Nacional de Moradia Popular (UMP), que também se articula com outros movimentos, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Dentro do espaço do antigo prédio do INSS, os moradores criam outro tipo de sociabilidade. Virgílio afirma que aprendeu muito nos últimos três anos. “Adquiri grandes amizades e conhecimento para continuar na luta diária. E também aprendi a resistir a esse governo que está aí, porque a opressão é todo dia, toda hora”, conclui o também militante da UMP.
A ocupação homenageia o militante sindical e comunicador popular Vito Giannotti, que faleceu em julho de 2015. Gianotti é criador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), referência em comunicação sindical e popular no Brasil, e foi um dos fundadores do Brasil de Fato, cujo conselho editorial ele integrou até sua morte.

Edição: Eduardo Miranda
Fonte:brasildefato

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