sábado, 16 de fevereiro de 2019

Deus dos exércitos, vinde em nosso socorro!

Deus dos exércitos, vinde em nosso socorro!
♦  Padre David Francisquini *
Nas Sagradas Escrituras — de modo particular no Novo Testamento — são variadas e empolgantes as parábolas que servem de ensinamento para a alma cristã. Suas incontáveis lições representam um farol para a vida, que nos encanta e anima.  Os conceitos e figuras utilizados por Nosso Senhor, na maioria das vezes, são da vida campestre. Por exemplo, o pai de família que ao romper da aurora sai para contratar operários para a sua vinha.
Tocante também é a parábola do semeador que plantou a boa semente em seu campo; da figueira que não produzia frutos; da árvore boa que dá bons frutos e da árvore má que dá maus frutos. Por trás dessas parábolas, Cristo Nosso Senhor nos ensina a entender a luta entre o bem e o mal, entre a verdade e o erro, entre a virtude e o vício. É a luz do farol divino a guiar os homens em meio às trevas deste vale de lágrimas.
Numa recente viagem de ônibus tive ocasião de contemplar lindas plantações emolduradas por uma vegetação caprichosa. A variedade do panorama era encantadora, podendo-se distinguir ali a mão do homem enquanto jardineiro de Deus. Lição dignificante e empreendedora do camponês que se dispôs a lutar pela prosperidade daquelas terras semeando nelas a boa semente, sem descuidar das ervas daninhas que sempre lhe disputam a luz. Estampava-se naquela paisagem uma lição para a vida. Do lado de fora, a exuberância e a vitalidade das plantas; de dentro, a perversidade dos que se esforçam para arrastar as almas na direção do mal.
Jesus Cristo
Uma digressão esclarecedora. Lembro-me da vida simples de um padre de aldeia que passeava pelos campos e se pôs a rezar. De repente, encontrou-se com um caçador acompanhado por um lindo cão. O padre era São João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars [imagem ao lado], que o cumprimenta elogiando a beleza do cachorro, e, ao mesmo tempo, lhe dirige palavras para conquistar o seu coração. Se o cão é tão belo assim, a sua alma deveria ser ainda mais bela, pois é imagem de Deus. O caçador cai de joelhos e faz a sua confissão.

A viagem prosseguia normalmente e minha mente peregrinava por essas considerações. Uma das características de nossos dias é que as trevas quase que circundaram a luz. As belezas criadas estão obnubiladas pela feiura da desordem e do pecado. Não há um momento, uma circunstância, um lugar em que não somos surpreendidos pelo trabalho sistemático e onipresente realizado pelo demônio através de seus asseclas revolucionários a fim de perder as almas.
Dentro do ônibus, as atenções dos passageiros se voltavam para as telas onde era projetado um filme fazendo a apologia do feio, do cacofônico, do monstruoso, de cenas desequilibradas e grotescas. Tratava-se de um desenho animado em que uma figura representava o mal e se jactava não apenas de propagá-lo, mas de encarnar o mal, aliás, para contentamento de quase todos!
Naquela representação, eu percebia o mundo da desordem, além de certa euforia em contrariar a beleza posta por Deus na criação. Por uma associação de imagens lembrei-me de outro cenário, quando celebrava a Santa Missa num vilarejo.
Do cânon até à consagração os pássaros orquestraram uma linda e emocionante sinfonia, como se estivessem honrando o Santíssimo Sacramento que se tornava presente na Hóstia Consagrada, numa espécie de manifestação de união entre a natureza e o Criador. Seria uma luz de esperança de um futuro melhor com a vitória da Santa Igreja e da civilização cristã?
Enquanto a natureza canta e louva a presença de Jesus Eucarístico, os adversários da Igreja conspiram contra toda e qualquer ideia de Deus e de sacralidade no mundo. Pode-se compreender perfeitamente por que os monges contemplavam os pássaros e ouviam seus cânticos para compor as músicas gregorianas.
Pelo contrário, entende-se também por que os maus, ao observarem tudo isso, procedem de modo contrário, com a intenção clara de negar a Deus e homenagear o demônio por meio da desordem e da cacofonia, sobretudo visando corromper as crianças e os jovens, o futuro e a esperança da Igreja.
Jesus Cristo
Há um trabalho sistemático, metódico e persistente para implantar o caos, a desarmonia e a intemperança, pois só assim se perde a Sabedoria divina, reguladora dos atos humanos. Sonho, aventura, espírito de luta e de cruzada, militância por um ideal, tudo isso é indispensável aos revolucionários quebrar o mais cedo possível nas crianças através de brinquedos monstruosos, músicas, vestes e de certos desenhos animados.

Jesus Cristo foi justo ao ensinar sobre a incomensurável gravidade do escândalo feito a um pequenino que em sua inocência e simplicidade crê n’Ele. Ai daquele que o escandalizar! Ser-lhe-ia melhor amarrar-se à mó de um moinho e se lançar nas profundezas do mar.
Não resta dúvida, aquilo que o canto dos pássaros, o verde dos campos, o brilho de um dia ensolarado, a gota de orvalho a brilhar ao sol nos faz lembrar… Eis a inocência da criança, cujos esplendores gritam dentro dela como um príncipe dentro de um castelo, com desejos de cruzados prestes a se lançarem no campo de batalha e que o demônio tenta destruir com seus símbolos macabros.
Os nobres sentimentos de uma alma de escol como a de Plinio Corrêa de Oliveira estão presentes na oração que ele compôs suplicando a Nossa Senhora a restauração da inocência primeva, na qual quem a reza diz sentir-se tocado por uma saudade indizível, saudade da época em que era amado por Ela na atmosfera primaveril de sua vida espiritual, bem como do paraíso em que vivia sua alma pela grande comunicação que tinha com a Santíssima Virgem e que a Revolução queria destruir.
Observando-se a História, há fatos gloriosos no campo do bem ao lado de acontecimentos desastrosos provocados pelos agentes da Revolução. Com efeito, não houve decadência maior do que aquela iniciada no final da Idade Média, uma crise sem precedentes não apenas na esfera social, mas também de decadência moral, que culminou com o Concílio Vaticano II.
Vem-nos à memória o que se passou com o povo judeu, com o qual Deus operava maravilhas, fazendo cair dos céus o maná, alimento finíssimo e de encantadora alvura, símbolo da eucaristia, ou ainda operando o milagre de transpor o Mar Vermelho a pé enxuto. Apesar dessa especial predileção, esse povo pecou contra o seu Deus, levando à morte seu filho unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Não obstante todos os feitos gloriosos da Igreja, a crise hodierna atingiu grau surpreendente. Mas não nos esqueçamos da advertência das Escrituras, de que os israelitas não creram nas maravilhas e pecaram, mas que seus dias passaram como um sopro e seus anos acabaram depressa, pois não guardaram a aliança feita com Deus e não quiseram andar segundo a sua lei.
Esqueceram-se dos benefícios e das maravilhas que Deus fez à vista deles.  Sem dúvida, os pecados atraem a justiça divina. Um processo revolucionário desencadeado pelas paixões do orgulho e da sensualidade para destruir os valores da civilização cristã atingiu o seu auge, mas terá o seu fim. Invoquemos a ajuda de Deus e de Nossa Senhora para que esse processo seja destroçado o quanto antes, e alcancemos assim a vitória do seu Imaculado Coração:
 “Tu que estás sentado sobre os Querubins, manifesta-te, mostra o teu poder e vem para nos salvar. Ó Deus, converte-nos, mostra-nos o teu rosto e seremos salvos. Fizeste de nós um objeto de disputa para nossos vizinhos e os nossos inimigos zombaram de nós. Deus dos exércitos restaura-nos, mostra-nos o teu rosto e seremos salvos” (Sl 79).

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(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria — Cardoso Moreira (RJ).

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