sexta-feira, 3 de julho de 2020

Bolsonaro tem 48 horas para se manifestar sobre a proteção de povos indígenas em contexto de pandemia

Um juiz do Supremo Tribunal Federal brasileiro deu 48 horas ao Presidente, Jair Bolsonaro, para que se manifeste no âmbito de uma ação na qual se pede que o Governo proteja indígenas face à covid-19.
Além de Bolsonaro, o magistrado Luís Roberto Barroso concedeu na quinta-feira o mesmo prazo para que o procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, e o advogado-geral da União, José Levi, que defende o executivo em processos judiciais, se manifestem sobre o tema.
Em causa está uma ação apresentada ao Supremo esta semana pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), em conjunto com o Partido Socialista Brasileiro (PSB), Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Partido dos Trabalhadores (PT), Rede Sustentabilidade e com o Partido Democrático Trabalhista (PDT).
Segundo a APIB, organização que coordena a luta dos povos originários pelos seus direitos, o “principal objetivo da ação é que o Governo Federal execute um plano de emergência para proteger os povos indígenas, em especial os isolados”, e que instale barreiras sanitárias.
A associação mencionou como fatores para o agravamento da situação dos indígenas a “presença impune” de invasores nas suas terras, estimulados por “políticas governamentais e pelo discurso de ódio do próprio Presidente da República”.
A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde do Brasil, informou na quinta-feira que 166 indígenas morreram e 7.198 foram infetados pelo novo coronavírus, desde o início da pandemia. Contudo, segundo a APIB esses números são bem superiores, com a organização a apontar 10.341 casos de infeção e 408 óbitos de índios.
A divergência entre os dados do Governo e de entidades indígenas tem sido uma constante desde o início da pandemia, e foi criticada no mês passado pela coordenadora da APIB, Sonia Guajajara.
Segundo Guajajara, o problema na contagem está na forma como o executivo avalia se o cidadão é ou não indígena.
“A Sesai faz uma seleção de quem eles acham que é indígena e quem não é. Então, eles não registam indígenas que estão em contexto urbano. A própria estrutura da Sesai, sem atendimento próximo a algumas aldeias, faz os indígenas irem para os municípios. Lá, eles entram na contagem normal do município, sem serem considerados indígenas com covid-19″, explicou Guajajara.
Na avaliação da coordenadora da APIB, trata-se da “negação de querer mostrar a situação real”.
Na maioria, a população indígena brasileira está distribuída por milhares de aldeias, sendo que grande parte das infeções pelo novo coronavírus foi registada na floresta Amazónia, onde está localizada a generalidade das tribos isoladas.
Uma das principais preocupações das autoridades é a vulnerabilidade dessas populações face a doenças respiratórias, o que aumenta o risco de agravamento em caso de contágio pelo novo coronavírus.
Face ao aumento de casos, vários povos indígenas estão a implementar as suas próprias barreiras de proteção, para impedir a entrada de invasores nos seus territórios.
O Ministério da Saúde informou na quinta-feira que enviará profissionais de saúde para a ilha do Bananal, no estado de Tocantins, após o aumento nos registos de casos de coronavírus entre indígenas nas aldeias daquela região.
A tutela informou que pretende controlar a movimentação dos indígenas através de barreiras sanitárias, mas que procura montar um plano que permita o acesso a serviços essenciais.
Em pouco mais de quatro meses, o Brasil tornou-se no foco latino-americano da nova pandemia de coronavírus e é o segundo país no mundo mais afetado pela doença, totalizando 61.884 óbitos e 1.496.858 casos confirmados, informou o executivo.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 517 mil mortos e infetou mais de 10,76 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Lusa

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