sábado, 17 de abril de 2021

Recebendo a Sagrada Comunhão no espaço

 

  • Plinio Maria Solimeo

Écorrente que aqueles que se dedicam especialmente às ciências e às coisas técnicas, são pouco propensos para seguirem à risca seus deveres religiosos. Pois, em grande número de casos, tratando somente com coisas práticas e concretas, acabam amortecendo o senso religioso e se tornando materialistas ou agnósticos. Isso, que infelizmente é muito frequente, não foi o que ocorreu com quatro astronautas americanos dedicados ao que há de mais moderno na ciência e na técnica, que é a carreira espacial. Pois, não só conservaram e afervoraram sua fé em suas aventuras pelo espaço, mas tiveram a grande graça de nele receber a Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia.

A folha de serviço do mais antigo deles, Thomas Jones [foto], nascido em janeiro de 1955 em Baltimore, por exemplo, é considerável. Ele participou de quatro missões espaciais, e quando deixou a NASA em 2001, trabalhou depois como cientista planetário e consultor em operações espaciais, cientista pesquisador sênior no Instituto de Cognição Humana e de Máquina da Flórida, envolvido no planejamento de expedições de robôs e astronautas ao espaço profundo e asteróides próximos à Terra, palestrante e escritor de quatro obras. De 2006 a 2009, ele serviu no Conselho Consultivo da NASA, e foi membro do conselho da Astronauts Memorial Foundation. Por tudo isso, mereceu ser colocado no Astronaut Hall of Fame dos Estados Unidos em 21 de abril de 2018. Portanto, é um cientista de muito renome.

Jones, detentor de quatro prêmios concedidos pela NASA e pela Força Aérea dos Estados Unidos, seu livro autobiográfico Sky Walking: An Astronaut’s Memoir (Caminhando pelo céu: Memória de um astronauta), de 2006, foi escolhido pelo Wall Street Journal como um dos cinco principais relatos dedicados ao assunto do espaço. Católico convicto, Jones narra sua experiência espiritual, no livro acima citado, de receber a Sagrada Comunhão no espaço.

Isso se deu em sua primeira participação em uma missão espacial como membro da tripulação da nau espacial Endeavour no programa STS-59, entre 9 e 20 de abril de 1994. O objetivo da missão era o de colocar em funcionamento, no espaço, um radar para estudo do ecossistema terrestre, além de coletar dados sobre a quantidade e distribuição de monóxido de carbono nos níveis mais altos da atmosfera terrestre e fazer, por radar, observações oceanográficas, geológicas, hidrológicas e estudo e observação de placas tectônicas ao redor do planeta.

O astronauta considerou o participar dessa grande aventura um privilégio pois, além de adquirir experiência e de o familiarizar com a vida no espaço, sobretudo ia lhe proporcionar a possibilidade de ver a Deus em suas obras no imenso firmamento.

Suas expectativas, entretanto, ultrapassaram toda expectativa. Pois ocorreu que, como três dos seis tripulantes da nave espacial eram católicos — ele, o comandante, Gutiérrez, e o piloto Kevin Chilton, que era ministro extraordinário da Eucaristia —, eles puderam receber a Sagrada Comunhão em pleno vôo da nave espacial. Pois Kevin tinha recebido do seu vigário licença para levar consigo em sua missão algumas hóstias consagradas.

Isso ocorreu da seguinte maneira: no domingo, duas semanas depois da Páscoa, quando estavam já no espaço, os três astronautas se reuniram na cabine de vôo para comungar. Nesse momento, diz Jones, “os três agradecemos a Deus pelas vistas de Seu universo, pela boa companhia, e pelo êxito que tínhamos tido até então. Kevin então repartiu o Corpo de Cristo com Sidney e comigo, e permanecemos na cabine de vôo refletindo no silêncio, esse momento de paz e de verdadeira comunhão com Cristo”. Quando acabaram de comungar, conforme narra Jones, ocorreu que, “enquanto meditávamos tranquilamente na escura cabine, uma deslumbrante luz branca irrompeu pelo espaço, e nela penetrou. A luz radiante do sol que se avistou através das janelas dianteiras da nau espacial e nos deu calor, que outro sinal [da presença de Deus] podíamos pedir senão esse? Foi a afirmação gentil de Deus de nossa união com Ele”. Comovido até às lágrimas, o astronauta se afastou de seus companheiros, e contemplou então através das janelas da nave o amanhecer e, debaixo, o Oceano Pacífico, cuja superfície azul resplandecia com a luz do sol. Acrescenta ele que “com esta formosa luz entrando na nave, e o formoso oceano azul em baixo, estive a ponto de chorar”. E então se lembrou das palavras do evangelho de São Mateus (18, 20): “Onde dois ou três estão congregados em meu nome, ali estou Eu no meio deles”.

O astronauta comenta que, “cada vez que tens algum tempo livre [na nave espacial], e olhas pela janela, há um tremendo sentimento de gratidão [para com Deus] por olhar abaixo com esta perspectiva única de teu mundo. Tu te sentes muito especial e muito humilde ao mesmo tempo. É muito comovedor e inspirador”.

Comentando 10 anos depois essa aventura, afirma Jones: “Estamos destinados a nos assombrar no espaço. Se nossa espécie imperfeita encontrou tais cintilações de deleite em nosso primeiro encontro com o cosmos, então verdadeiramente encontramos a um Deus muito carinhoso e generoso”. Ele diz que “era consciente de que cada dia no espaço era um regalo especial [de Deus], e sabia que me havia sido concedido esse regalo único. Cada noite, antes de dormir, agradecia a Deus por essas maravilhosas vistas da Terra, e pelo êxito de nossa missão. Continuamente pedia pela segurança de nossa tripulação, e para que tivéssemos um feliz encontro com nossas famílias”. Ele era casado com Liz Jones, e tinha duas filhas.

Tom Jones confessa que, ao contrário do que se poderia pensar, no espaço sempre lhe foi mais fácil rezar. Ele levava consigo textos das leituras das Missas dos domingos e outras passagens da Sagrada Escritura, anotados em um caderno que tinha para utilizar em suas missões. Sobretudo, afirma ele, o Rosário sempre fez parte de sua equipagem pessoal.

Depois dessa inesquecível viagem espacial, Thomas Jones participou de mais três missões, e realizou três passeios espaciais durante a construção da Estação Espacial Internacional. No total, ele passou 53 dias no espaço o que, segundo afirma, o ajudou a acrescentar ainda mais a fé católica que já professava quando voou ao espaço pela última vez em 2001.

Atualmente Jones é paroquiano na igreja de São João Newmann, em Reston, na Virginia, onde exerce a função de leitor.

Outro astronauta que teve a graça de comungar no espaço foi Michael Hopkins [foto]. Nascido em dezembro de 1968, ele é coronel da Força Espacial dos Estados Unidos e astronauta da Nasa.

Casado com Júlia Stutz e pai de dois filhos, antigo membro da Igreja Metodista, ele se converteu e foi recebido na Igreja Católica em 2013, unindo-se assim na mesma fé à sua esposa e aos filhos.

Hopkins participou de várias missões da NASA, sendo o primeiro membro de sua aula a voar no espaço, e o primeiro astronauta a se transferir para a Força Espacial dos Estados Unidos, participando de uma cerimônia de transferência na Estação Espacial Internacional.

Em setembro do ano de 2013, o astronauta americano foi designado para participar, com seus congêneres soviéticos, da missão Soyuz TMA-10M. Essa nave espacial permaneceu seis meses no espaço, acoplada à Estação Espacial Internacional para servir como veículo de escape em caso de emergência.

Para se ter uma idéia da profundidade da conversão à verdadeira Igreja deste ex-metodista, que ocorrera nesse mesmo ano de 2013, considere-se que, para não ficar durante esse longo período sem receber a Sagrada Comunhão, Hopkins obteve do arcebispo de Galveston-Houston, por intermédio de seu pároco, o Pe. James H. Kuczynsky, que fosse nomeado ministro extraordinário da Eucaristia, e licença para levar consigo ao espaço uma teca com seis hóstias consagradas, número suficiente para que ele pudesse comungar aos domingos, durante as 24 semanas que ficaria no espaço. Afirma ele que isso “foi extremamente importante para mim”.

Desse modo, chegando o domingo, ele se recolhia na Estação Espacial, e preparava-se para a Comunhão com algumas leituras e orações. Depois comungava. Nos dias da semana em que não comungava, Hopkins sempre fazia alguns momentos de adoração do Santíssimo Sacramento.

Esse astronauta genuinamente católico, também procurava ver a Deus no espaço. Para ele, “quando você vê a Terra desde esse ponto de vista [de uma obra de Deus], e a beleza natural que existe, é difícil não sentar-se aí, e dar-se conta de que tem que haver uma força superior que fez tudo isso. Isto é, um Deus criador do Céu e da Terra, e de tudo quanto existe[i].

ABIM


[i] Fontes

– https://www.religionenlibertad.com/ciencia_y_fe/734263843/tom-jones-astronauta-catolico-comulgar-espaci-nasa.html?utm_source=boletin&utm_medium=mail&utm_campaign=boletin&origin=newsletter&id=31&tipo=3&identificador=734263843&id_boletin=218880017&cod_suscriptor=452495753

– https://en.wikipedia.org/wiki/Michael_S._Hopkins

– https://www.catholicherald.com/News/Local_News/For_veteran_astronaut_and_Catholic_Tom_Jones,_space_was_a_spiritual_experience/

– https://www.religionenlibertad.com/personajes/55296/astronauta-revela-tremenda-experiencia-comulgar-espacio.html

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