domingo, 27 de dezembro de 2015

A ENFERMAGEM DÁ SAÚDE A PORTUGAL


Nos tempos actuais, o saber que a enfermagem detém deve ser mobilizado para proporcionar conhecimentos e soluções de cuidados para todos os cidadãos tendo em vista a equidade. A potenciação de projectos de promoção da saúde que levam a menos gastos, ou seja, tornando a Saúde mais eficiente e sustentável, é também uma oportunidade a não perder.
Os enfermeiros devem pensar global e agir local, onde a sua motivação é fundamental para mobilizar projectos com proactividade e empreendedorismo. Acredito que os enfermeiros não se rendem às dificuldades. É verdade que a profissão não tem sido devidamente respeitada pelos políticos e gestores deste país.
No entanto, a maioria dos cidadãos residentes em Portugal utilizadores dos cuidados de enfermagem sabem bem qual é o valor destes profissionais, sabem que precisam de nós para terem saúde. Os enfermeiros não irão permanecer passivos a aguardar que os outros façam por si o que desejam; têm e devem ser os enfermeiros, e as suas organizações representativas, onde incluo a Ordem dos Enfermeiros, a dar visibilidade à sua importância e necessidade.
É verdade que a maioria dos profissionais não se revêem nesta Ordem. Isto porque existe uma profunda confusão instalada entre o papel regulador da Ordem e o papel de defesa de direitos dos trabalhadores das estruturas sindicais. Sou de opinião que a falta de comunicação interna dos órgãos da Ordem para com os seus membros é potenciador para este não reconhecimento, embora também alguns enfermeiros, penso que devido a desmotivação, não procurem a informação necessária. Por fim, a Ordem nem sempre tem feito as melhores escolhas dos caminhos a percorrer nos momentos correctos, como foi o exemplo do aumento de quotas num momento de crise. Estas situações são incompreensíveis para os enfermeiros! É preciso aproximar a Ordem aos enfermeiros, promover a defesa da sua dignidade e valor social em momentos, como os actuais, em que são constantemente ameaçados e, infelizmente, abusados por pessoas e instituições sem escrúpulos. Lamento ainda que o financiamento das instituições de saúde apenas tem em consideração os actos médicos.
O financiamento institucional está desadequado face à realidade actual. Convém esclarecer que a esmagadora maioria dos cuidados de saúde prestados nas instituições é realizado por enfermeiros, sendo que praticamente apenas os cuidados médicos são contabilizados para efeitos de financiamento institucional! A título de exemplo, as consultas médicas, os diagnósticos médicos, as urgências atendidas e as altas dadas, são actos médicos que contribuem para financiar qualquer hospital. Por outro lado, todos os cuidados de enfermagem prestados aos utentes não são considerados nessa contabilização. Ora, sabendo que existem outros cuidados de saúde prestados nas instituições para além dos médicos, é um erro continuar com esta metodologia. Existem diversos países onde as instituições também são financiadas pelas intervenções dos enfermeiros, pelo que não há necessidade de “inventar a roda”. Porém, também reconheço que esta é uma mudança estrutural, diria mesmo paradigmática, a ser operada.

Germano Couto
Presidente da Secção Regional Norte da Ordem dos Enfermeiros



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