sábado, 14 de janeiro de 2017

A GESTÃO TIPO FÓSFORO

Por: Jorge Santos*

Recentemente os media referiam que “Dadores de sangue entregam petição a exigir isenção das taxas”. Dias depois o SOL noticiava que “PM foi a uma mega-reunião da Saúde avisar que não tolera mais um cêntimo de divida no sector” e o Expresso do dia seguinte avançava que “Nunca o cancro matou tanto” com a justificação, de que, “Os principais problemas são de ordem organizacional, de má interacção com os especialistas de medicina geral e familiar (MF) ”.
Parte da resposta a esta questão poderá encontrar-se na eliminação de muitos desperdícios em saúde.
No Instituto Português do Sangue (IPS) e nos hospitais e/ou cuidados primários (CP) existe desperdício, quer económico e como tal quantificado em euros, quer intelectual e então condenado ao “emprateleiramento”, tantas vezes dos mais qualificados e por razões que nada têm a ver com competência profissional. Todos o sabemos. Vários o estudaram e quantificaram, outros sentiram-no na pele. Uns melhor outros pior, todos o tentam combater. Por vezes para diminuir a despesa na "casa A", obriga-se o "vizinho B" a arcar, em gastos extraordinários, o que a primeira "boa gestão" poupou.
A gestão da qualidade consistirá em obter a qualidade ao menor custo possível aumentando o crescimento e a rentabilidade. Taguchi postulou que "não podemos reduzir os custos sem afectar a qualidade", mas "podemos melhorar a qualidade sem incrementar os custos", pelo que "podemos reduzir os custos melhorando a qualidade".
O IPS dispõe de clínicos de várias áreas e em particular de MF que poderiam ser melhor aproveitados nas consultas que fazem. Embora estas sejam muito rápidas, fornecem elementos que poderiam evitar um gasto de tempo noutros profissionais em outros sectores do Ministério da Saúde (MS). Para isso a informação colhida devia ser "vertida" para uma aplicação que fornecesse ao MF no respectivo CP o agendamento deste doente, com os dados clínicos e algumas das análises, já efectuadas pelo IPS.
Uma vez que a maioria das dádivas é conseguida ao fim de semana, parte das questões de saúde cairia fora do período laboral diminuindo as quebras de produtividade, deslocações e facilitando-se também a tarefa dos MF. Assim talvez não fosse necessário importar médicos e o MS, racionalizando todas estas sinergias, pouparia muitos cêntimos e melhoraria o acesso aos cuidados prestados.
Mais aliciante que oferecer apenas isenção nas taxas moderadoras, seria juntar-lhe um acesso facilitado ao MF, podendo quem sabe, angariar-se com mais sucesso e menos custos, maior número de dadores. Assim combatiam-se os problemas organizacionais e aumentava-se a interacção com os especialistas de MF, verdadeira pedra angular na diminuição da factura do SNS.
O que falta na saúde não é tanto melhorar a capacidade instalada, mas aperfeiçoar a articulação entre CP e hospitalares e entre estes e outros sectores. Para isso era urgente proceder à ligação informática entre CP e hospitais de referenciação.
Talvez assim a gestão do SNS deixe de se comportar como os fósforos amorfos os quais só entram em combustão, sempre efémera, quando friccionados contra a “lixa da própria caixa”, e permita mostrar aos nossos credores que sabemos transformar custos em proveitos com a mera reorganização e articulação dos serviços.

*Médico


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