sexta-feira, 24 de abril de 2020

Esterilização inovadora por radiação ultravioleta nas ambulâncias dos Bombeiros de Cantanhede

Lá diz o ditado que a necessidade aguça o engenho e é isso mesmo que acontece nos Bombeiros Voluntários de Cantanhede.
Perante a necessidade de uma esterilização eficaz das ambulâncias e respetivos equipamentos a custo reduzido, Direção e Comando uniram esforços e conhecimentos técnicos e desenvolveram um sistema com radiação ultravioleta que já deu provas da máxima eficácia.
“Foram feitos testes de laboratório e foi comprovado que o novo sistema elimina os germes de forma muito eficaz”, congratula-se Adérito Machado, presidente da Direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cantanhede.
A utilização de luz ultravioleta artificial como germicida, eliminando bactérias e vírus, não é nova. O método tem sido utilizado no tratamento de água e na esterilização dos blocos operatórios de hospitais, por exemplo. Mas a forma como foi adaptada para as ambulâncias é o resultado da arte e do engenho do corpo de bombeiros de Cantanhede.
Com duas lâmpadas com radiação ultravioleta do tipo UV-C, o novo sistema é utilizado em todas as ambulâncias do corpo de bombeiros no final de cada serviço. São necessários apenas 30 minutos para que bactérias e vírus sejam eliminados pela ação da radiação.
A comprová-lo estão os testes realizados com culturas multibacterianas.
“Colocámos um líquido biológico altamente contaminado no interior de uma ambulância e a intervalos regulares fomos retirando amostras para análise. Na análise da amostra retirada ao fim de 10 minutos de exposição encontrámos metade das colónias existentes na amostra de referência (que não recebeu radiação). Ao analisarmos a colheita feita após 20 minutos de exposição, a quantidade de colónias tinha baixado para três e na colheita realizada após 30 minutos de exposição restava apenas uma pequena colónia de bactérias”, descreve Adérito Machado.
Licenciado em Análises Clínicas e Saúde Pública e com larga experiência profissional, o presidente da AHBVC explica que a destruição acontece porque a luz ultravioleta no comprimento de onda utilizado por este sistema altera o material genético dos organismos.
Uma vez que os raios ultravioletas têm efeitos prejudiciais para todos os organismos vivos, a sua utilização obedece a um protocolo já instituído no corpo de bombeiros, de modo a garantir que ninguém é exposto acidentalmente. A sua utilização é feita unicamente no interior da célula de limpeza de viaturas existente no quartel e sem ninguém no seu interior, sendo o seu acionamento efetuado a partir do exterior da célula. Caso a porta daquela divisão seja aberta acidentalmente, o sistema de esterilização desliga-se automaticamente.
Em desenvolvimento há cerca de um ano, o sistema de esterilização criado pelos Bombeiros Voluntários de Cantanhede ficou concluído no início de Março. Neste momento funciona apenas no quartel sede, em Cantanhede, mas o objetivo é replicá-lo também no quartel da Tocha.
As vantagens do novo sistema são várias, sublinha Adérito Machado.
“As ambulâncias de socorro são sempre desinfetadas entre cada serviço, mas agora subimos de nível até à esterilização, isto é, à garantia da eliminação de todos os microorganismos vivos. Numa altura de pandemia como a que vivemos atualmente pela Covid-19, a esterilização torna-se ainda mais importante, já que garante uma maior segurança tanto para os nossos operacionais, como para os doentes que transportamos. Paralelamente, este sistema oferece praticidade e facilidade de utilização a um custo muito reduzido, comparativamente com os equipamentos com a mesma função existentes no mercado”.
Para o desenvolvimento deste novo sistema foi fundamental a criatividade de alguns elementos da corporação.
“Temos elementos com uma grande capacidade para colocar as ‘mãos na massa’ e construir equipamentos que deem resposta às necessidades que vão surgindo”. Um exemplo apresentado por Adérito Machado é o de outra máquina construída recentemente no quartel para aplicação de produto virucida e que permitiu à Associação poupar cerca de dois mil euros, o valor de mercado daquele tipo de equipamento.

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