terça-feira, 9 de agosto de 2016

Portugal. Galp - Governo. BLOCO E PCP DIZEM ‘NIM’ À EXIGENCIA DAS DEMISSÕES, PS DIZ NÃO

Mário Motta, Lisboa

Sabemos que é ilegal governantes receberem “favores” ou “presentes” de terceiros (a lei até é mais abrangente e inclui outros com grandes responsabilidades na coisa pública), se assim é não se compreende que secretários de estado e deputados tenham recebido de presente da Galp viagens a Paris (e que mais?) para assistirem a jogos do Euro 2016. Mas receberam. Infringiram a lei. O que lhes resta é terem a decência de se demitirem. Já deviam ter-se demitido em vez de encarnarem em desavergonhados impunes que consideram não ter feito nada de mal, de errado, de ilegal.

Nesta altura do campeonato não importa se voltaram atrás e pagaram de seus bolsos, obviamente que à posteriori, as despesas correspondentes que foram “oferta” da Galp. Importa que pularam a cerca da lei e, principalmente, da decência. Até porque só avançaram com o pagamento à Galp depois de os “presentes” serem do conhecimento público. Caso contrário as suas consciências estavam tranquilas e repousadas num falso indicador de “muito honestos” (como Cavaco, p. ex.). Não, de modo algum são dos que interessam para desempenhar cargos que devem cuidar da coisa pública e cumprir escrupulosamente a lei. Esta é a verdade de La Palisse. Não há volta a dar.

Sabemos que o governo PS tem andado a assobiar para o lado e que a sua faceta inescrupulosa relativamente a príncipios éticos e legais sobressaiu com este caso dos “presentes” da Galp. Todos vimos que o governo PS quer à viva força manter aqueles secretários de estado no ativo (há ainda deputados neste imbróglio?) não os demitindo ou convidando-os a demitirem-se – o que vai dar no mesmo para a República que se livra deles.

Também sabemos que os partidos de esquerda que apoiam o governo no parlamento, BE e PCP, alinham na marcha do assobiar para o lado em vez de tomarem a posição habitual e declarada anteriormente em outros casos que envolviam a direita, exigindo a demissão dos prevaricadores. Podiam fazê-lo sem alarde para não ferir suscetibilidades do PS e do governo Costa mas a coerência exige que mantenham a exigência da transparência e respeito pelas leis da República.

Em vez disso o que vimos é um silêncio ensurdecedor da violação de princípios básicos das regras democráticas e republicanas. Vimos a direita num ataque constante com razões evidentes, independentemente de ser useira e vezeira neste tipo de casos e de outros muito mais graves, por que tem passado impunemente – assim como o PS. Vimos o governo de Costa e os partidos que parlamentarmente apoiam o governo a serem atacados e a entregar munições para mais ataques. Em política o que parece é. O que parece é que o Bloco e o PCP estão a engolir um elefante que vão ter de vomitar.

Penosamente assistimos ao Bloco de Esquerda e ao PCP a responder ‘nim’ sobre a inquestionável demissão dos secretários de estado ‘”presenteados”. È público e notório que isso envergonha a esquerda e, principalmente, descredibiliza-a por demonstrar ter dois pesos e duas medidas. Envergonha a esquerda que sempre se tem pronunciado contra a impunidade e branqueamento de casos semelhantes ocorridos anteriormente, principalmente envolvendo governantes da direita PSD / CDS, mas também do PS.

O que está a acontecer é o florescer de algo que devia ter sido cortado cerce logo ao despontar. E a iniciativa devia ter partido dos secretários de estado “presenteados”. Caso não tomassem a iniciativa, competia ao PM tomá-la. Como assim não aconteceu é demonstrado que para o governo a transparência, o rigor e cumprimento da lei, a correção, a honestidade, não são assim tão importantes como andou a propalar. E o mesmo podemos dizer do BE e do PCP, ao não corresponderem aos critérios por eles anteriormente expostos e defendidos como justificáveis e inquestionáveis princípios.

Enquistando o tema devemos ou não perguntar se os “presentes”, os “favores” a corrupção – de maior ou menor vulto – se for prática de elementos supostamente de esquerda deixa de ser corrupção, deixa de ser ato ilegal e violador da ética que deve orientar os que são eleitos ou nomeados para governar e proteger a coisa pública e a democracia?

O Partido Socialista, tal como o PSD e o CDS, são useiros e vezeiros nestas promiscuidades com o poder económico e financeiro. Para eles é de sua génese estas situações. Só por uma questão política de desgaste do governo é que o CDS e o PSD se armam em prostitutas sérias. Todos o sabemos. Assim como sabemos que o Bloco de Esquerda e o PCP não devem alinhar nestes “comboios”. António Costa, se quer o apoio parlamentar daqueles partidos de esquerda e manter o governo, deve clarificar a situação, torná-la limpinha-limpinha e transmitir conforto aos partidos que o apoiam, assim como ao seu partido e, principalmente, ao governo de que é primeiro-ministro. Não há dúvida que quer o Bloco, quer o PCP estão muito desconfortáveis nesta situação, o PS e o governo também. Se bem que o PS já tenha calo naquelas andanças dos “presentes”. 

Afirmaram que iam melhorar a vida dos portugueses e aqui têm uma boa oportunidade, além das que já tiveram de positivas e das que ambicionamos ainda melhores no presente e no futuro. Os senhores secretários de estado que meteram a “pata na poça” que se demitam. Façam esse favor a Portugal e aos portugueses! Pela continuidade impoluta e defesa deste governo.

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