sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Se a vontade popular nas urnas é inútil, “nunca teremos paz, nem daqui a 500 anos”, segundo o coordenador da Renamo


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O coordenador da Comissão Política Nacional da Renamo, Ossufo Momade, considera os resultados eleitorais chancelados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), na quarta-feira (24), a contragosto do seu partido, “uma autêntica farsa” susceptível de arrastar ao retrocesso as negociações em curso para a paz definitiva. Ele apela ao Presidente da República, Filipe Nyusi, a não ignorar as lamúrias e reivindicações do maior partido da oposição em Moçambique.

Doze dias depois de o líder interino da “perdiz” ter ameaçado entornar o caldo, pois acredita que as eleições autárquicas de 10 de Outubro corrente foram “um verdadeiro fiasco”, ele voltou à carga. Desta vez, para declarar que a Renamo exige a constituição de “uma comissão de inquérito independente” que possa trazer a “verdade eleitoral” sobre o que se passou nos municípios de Monapo, Moatize, Alto Molócuè, Marromeu e Matola, onde reclama vitória.

Para o efeito, Ossufo Momade disse que o Chefe do Estado deve, na qualidade de mais Alto Magistrado da Nação e como contraparte nas negociações que visam o alcance da paz definitiva e reconciliação nacional, envidar esforço de modo a pôr termo às reivindicações de que o partido se queixa, estritamente atinentes às últimas eleições.

De contrário, incorrer-se-á no risco de as “negociações em curso caírem no retrocesso (...)”.

Segundo o general, “podemos chamar os peritos militar de todo o mundo” para intermediarem as nossas desinteligências, mas “enquanto nós como povo não tivermos a coragem de resolver os nossos problemas essenciais, as nossas contradições”, que são em parte “resultado das fraudes eleitorais, nunca, mas nunca mesmo, termos um ambiente social que permita a convivência pacífica e o desenvolvimento económico”.

Recorrendo a figura de estilo, Ossufo Momade disse: “temos que ter a coragem de curar, definitivamente, as nossas feridas aplicando o medicamento certo. Isto é, respeitar o voto depositado na urna (...)” pelo povo.

Na perspectiva da fonte, sarar as feridas significa “cavar e arrancar as raízes das fraudes eleitorais, haver eleições, justas, livres, transparentes e credíveis”.

Não se pode falar da paz e do bem-estar do povo enquanto prevalecerem os conflitos pós-eleitorais, disse o coordenador da Renamo, reiterando que “se assim for, nunca teremos a paz, nem daqui a 500 anos”, tempo durante o qual Moçambique esteve sob dominação colonial estrangeira.

Contrariamente às informações postas a circular, sobre a suposta interrupção das negociações com o Governo, José Manteigas, porta-voz da Renamo, assegurou a jornalistas que as conversações estão em curso.

Ele fez estes pronunciamentos na quinta-feira (25), em Maputo, após uma teleconferência entre a imprensa e o líder interino do seu partido.

Porém, as falcatruas de que o partido se queixa “são um revés que pode influenciar” o processo “de forma negativa. Até aqui estamos em negociações, mas sentimos” que há “sobressaltos que podem criar rupturas” entre as partes, disse o deputado parlamentar.

Ossufo Momade recordou, num outro desenvolvimento, que no dia 13 deste mês manifestou a sua preocupação e do partido que dirige, em torno do “silêncio cúmplice” do Chefe do Estado, das organizações da sociedade civil e da comunidade internacional, “em relação às graves irregularidades que mancharam as eleições de 10 de Outubro”.

Mas, apesar do seu vigoroso apelo para a reposição da “verdade eleitoral”, continua a assistir a alegadas “manobras que visam pôr em causa a vontade popular expressa nas urnas”.

Ele classificou a situação como uma tentativa de manietar a jovem democracia. Lamentou, de seguida, o facto de o país estar a mergulhar em conflitos de eleição a eleição.

“É estranho como a CNE, órgão que dirige e coordena os processos eleitorais, de forma leviana usou a ditadura de voto” para atribuir vitória à Frelimo, sem para o efeito “socorrer-se de actas e editais provenientes das autarquias”, afirmou Momade.

Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique


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