sexta-feira, 31 de março de 2017

AVC atingem 25 mil portugueses por ano. Há uma “autoestrada” para ajudar

Todos os anos, cerca de 25 mil portugueses sofrem um AVC. Existe uma Via Verde para ajudar, mas o primeiro passo depende de si. Quanto mais rápida e eficaz for a resposta, maiores as probabilidades de recuperação.

Os Acidentes Vasculares Cerebrais são a principal causa de morte e incapacidade permanente em Portugal. No dia Dia Nacional do Doente com AVC, o Notícias ao Minuto falou com neurologista Vítor Tedim Cruz, membro da direção da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, sobre o essencial a conhecer para mudar esta realidade.
Quantos AVC se registam em Portugal por ano?
AVC isquémicos são cerca de 25 mil [este é o tipo de AVC mais comum, provocado por uma obstrução nas artérias do cérebro].
É uma doença que pode afetar pessoas de todas as idades?
Ela escolhe idades. A idade é um dos fatores de risco principais. Há sempre mais acidentes vasculares cerebrais depois dos 60 anos. Mas também há doentes desde crianças - AVC em idade pediátrica -, a adultos jovens e pessoas com menos de 60 anos.
Como podemos prevenir um AVC?
O acidente vascular cerebral é uma doença que resulta de alterações nos vasos sanguíneos que irrigam o cérebro. Também pode ter origem em coágulos que se formam noutras partes do corpo e entopem esses vasos.
Todas as doenças que piorem a saúde dos vasos vão aumentar o risco de AVC o tabagismo, a hipertensão, a obesidade, o colesterol elevado, as más dietas, a diabetes não controlada são condições que envelhecem precocemente os vasos. Também a fibrilhação auricular faz com que o coração tenha arritmias, provocando coágulos que acabam na circulação cerebral e que provocam AVCs. São estes os fatores de risco sobre os quais se pode atuar.
Como identificar um AVC?
Os sinais de alerta são os três ‘F’: qualquer alteração na fala, qualquer alteração na face (os doentes identificam uma boca ao lado), e qualquer perda de força num dos membros do corpo.
As pessoas têm de aprender a identificar, mas também a agir. Perante estes sinais deve ligar-se de imediato para o 112 para ativar a Via Verde do AVC. Esta é uma ‘autoestrada’ para que, no meio da confusão que são os serviços de emergência, as pessoas possam rapidamente ter acesso ao tratamento. O cérebro é um órgão muito delicado e ao contrário de outros não aguentam muito tempo sem circulação. O tempo é essencial.
Considera que o programa da Via Verde do AVC está bem implementado em Portugal?
Houve enormes progressos. A maioria da população está a menos de 60 minutos de um local onde pode iniciar um tratamento. São locais onde é possível realizar um TAC cerebral e, ou está lá um perito em AVC, ou está acessível por telefone para analisar o resultado do TAC e decidir se inicia ou não uma trombólise para dissolver o coágulo.
Nem toda a população está tão perto de uma unidade de AVC, mas só metade dos doentes que sofreram um AVC acaba internada. Outros casos, mais difíceis de tratar - cerca de 10% dos AVC precisam de um tratamento adicional -, têm de ser encaminhados paras outros hospitais. Tudo isto faz parte da Via Verde do AVC, mas a porta de entrada não está longe das pessoas.
O próprio INEM se esforça por orientar o processo e tem sido muito eficaz. O 112 liga logo para o hospital de destino e os médicos já estão à espera desse doente venha ele de onde vier.
O que é que ainda falta melhorar?
O ponto crítico são as unidades de AVC. Tratar um AVC não é só o tratar a fase aguda, é depois manter o doente naquela semana ou 15 dias depois do AVC e criar condições para fazer uma reabilitação com intensidade suficiente e bem orientada. Falta organizar melhor os cuidados e o regresso a casa. O nosso objetivo é devolver as pessoas íntegras à sociedade.
Quantos doentes recuperam totalmente de um AVC?
Um terço dos doentes recupera espontaneamente, um terço acaba por falecer e um terço pode ou não ter bons resultados mediante a resposta que foi dada. Pode recuperar se tiver um tratamento agudo eficaz, se tiver acesso a uma boa unidade de AVC e se cumprir a reabilitação.
As primeiras horas são determinantes - temos de garantir que o volume do cérebro que morre é o menor possível. Depois é preciso criar condições para a recuperação do cérebro nos primeiros 15 dias. Há zonas do cérebro que podem ser salvas mas que sem esses cuidados podem morrer. A recuperação é um trabalho crónico de reabilitação e treino de capacidades. Tem de se casar tudo isto para aumentar o número de doentes devolvidos à sociedade no seu estado prévio.

Fonte: Notícias ao minuto

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