sábado, 12 de agosto de 2017

O VALOR DO SABER

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Ignorante enriquecido
(Como? Ninguém o sabia
Nem tratava de o saber.
Pois basta dinheiro ter.
Pouco importa como havido…)
Não poucas vezes dizia
A um homem muito instruído.
Pobre, porém, como Job:
- «Eu cá nunca vi um só
De vocês, meu sabichão.
Que sem tretas.
Pelas letras
Conseguisse farto pão.
Embora sábio, você
Anda a pé
Com a bolsa oca.
Fazendo cruzes na boca.
Eu serei grande ignorante.
Nem o nego: não obstante-
Rodo num belo carrinho:
O bom vinho
E os guisados.
Ainda os mais delicados.
Nunca me falam na mesa:
Tenho as casas mobiladas
Com todo o luxo e grandeza.
Meus criados e criadas
Passam melhor que você
Nas suas águas-furtadas.
Por tudo isto se vê
Que a enfadonha maçada
Desse estudar
A matar
Vale pouco ou vale nada.
O caso e aproveitar
As boas ocasiões;
Tudo o mais são maranhões.
Decorridos poucos anos.
Sobrevêm perdas, mil danos
Ou não sei lá o que fosse.
E acabou-se
Do dito Creso a riqueza
Entra-lhe em casa a pobreza
E da Casa o faz sair.
E subir.
Mau grado seu, quatro andares
Para esconder seus pesares
Nunca triste água-furtada.
Qual a que fora habitada
Pelo sábio pobretão;
A quem a fortuna então.
Cansada de o perseguir.
Deixara enfim conseguir.
Depois de tantos azares.
Mostrar o mérito seu:
E por isso ele desceu,
Não subiu, os quatro andares
Ao seu benfeitor antigo
Recebia como amigo
E, sem jamais se gabar.
Com gratidão o tratava:
Mas este continuava.
Como dantes, a teimar
Que a enfadonha maçada
De estudar
Vale pouco ou vale nada.
Que sim ou não reconheça
Um parvo a incapacidade
Da sua triste cabeça.
Que vai nisso à humanidade?
Trata sempre de estudar.
E deixa os parvos falar.

H. O’NEILL. (SÉC. XIX

Fabulário | A Terra e a Grei

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