terça-feira, 17 de outubro de 2017

360º - "Era como se houvesse pólvora no meio do pinhal". As reportagens nos locais do fogo. E ainda: o discurso de Costa e as opiniões sobre o drama

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360º

Por Miguel Pinheiro, Diretor Executivo
Bom dia!
Enquanto dormia...
... a chuva caiu e todos os fogos foram apagados. Sobram os mortos e as consequências políticas. António Costa falou ao país, pressionado pelo Presidente da República. No discurso de ontem à noite, o primeiro-ministro garantiu que, “depois deste ano, nada pode ficar como dantes” e que vai agora aplicar, com urgência, as recomendações da comissão técnica independente que fez o relatório sobre Pedrógão Grande. Eu também ouvi o discurso e escrevi sobre aquilo que o primeiro-ministro quis dizer nas entrelinhas.

O dia acabou com 36 mortos confirmados (incluindo um bebé de um mês), sete desaparecidos e 63 feridos, sendo 15 deles graves. O que já se sabe sobre as vítimas está aqui, sendo que vem aí nova polémica: a Proteção Civil disse ao Observador que, tal como em Pedrógão Grande, não pretende divulgar uma lista com a identificação das vítimas. No total, já morreram 100 pessoas em fogos desde junho.

Nestes dias, choveu fogo e o Pinhal de Leiria ardeu em quatro horas - 80% da sua mata ficou destruída. A Marta Leite Ferreira esteve na Vieira de Leiria e falou com muita gente que passou por momentos assustadores: “Era como se tivéssemos pólvora no meio do nosso pinhal”.

A tudo isto podemos somar uma perplexidade: há apenas dois meses, um investigador já tinha alertado para o perigo. Repito: a frase foi dita há dois meses. Ouçam: “O Pinhal de Leiria está sujeito a que aconteça um cataclismo enorme por falta de limpeza e de tratamento, que poderá provocar um incêndio que irá destruir a maior parte do Pinhal". Ninguém fez nada. Este vídeo mostra o que resta do Pinhal.

Em Vouzela, distrito de Viseu, também foram horas difíceis. O João de Almeida Dias e o João Porfírio estiveram lá e falaram com pessoas que a ministra e o secretário de Estado da Administração Interna deviam conhecer. Maria Joaquina viu vizinhos a morrer e a população a combater as chamas sozinha; José salvou a casa com as suas mãos. Os governantes sugeriram aos habitantes das regiões com fogo que tivessem mais "resiliência" e que se "autoprotegessem", mas isso para estas pessoas não é novidade: "Ninguém nos vem ajudar, isso é que não vem de certeza". Mesmo não tendo ouvido as palavras dos membros do Governo (ficaram sem electricidade), comentam: “Há gente a morrer e eles dizem isso?”.

O jornalista Paulo Moura passou a noite de domingo nas estradas entre Nelas, Viseu e Seia. Viu aldeias em chamas sem bombeiros por perto e agentes da GNR desorientados, "com a voz a tremer como crianças assustadas". Nesta crónica, pergunta: como foi possível acontecer outra vez?

Como é que se evita uma nova tragédia? Paulo Fernandes é especialista em fogo e membro da comissão técnica independente que produziu o relatório sobre Pedrógão - e frisa que o que continua a faltar em Portugal são especialistas da área a coordenar as atividades de combate aos incêndios. Afirma que "o problema não se resolve mudando umas pessoas nem de um ano para o outro".

Mesmo assim, é bom perguntar: o Estado aprendeu alguma coisa com a tragédia de Pedrógão ou repetiu os mesmos erros este fim-de-semana? O Miguel Santos Carrapatoso e a Sónia Simões foram fazer várias perguntas para perceber.

Um novo relatório independente sobre Pedrógão vai fazer-nos pensar. Foi entregue ontem à noite ao governo e não poupa ninguém: Proteção Civil, bombeiros, INEM, EDP e Ascendi. Há um capítulo do documento que está a faltar, por exigência expressa da ministra da Administração Interna. É o que conta as histórias dos mortos e dos sobreviventes. Só será divulgado quando forem retirados os nomes dos envolvidos.


Mais informação importante
O Governo e os sindicatos dos enfermeiros chegaram a acordo para evitar uma greve. Avança a revisão da carreira, os enfermeiros especialistas vão ganhar mais 150 euros a partir de janeiro (os 400 euros ficaram para trás) e haverá 35 horas para todos em julho.

O Orçamento que o Governo apresentou tem facturas a prazo. Na sua análise ao documento, Helena Garrido diz que os vencedores são claramente os pensionistas e os funcionários públicos e que o Governo reforça a estratégia de gestão do curto prazo.

A Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) vai analisar hoje o parecer sobre a compra da Media Capital pela Altice. Os serviços da ERC são contra o negócio mas defendem que a posição deste órgão regulador não é vinculativo, ao contrário do que defende a maioria dos juristas. Resta ver o que decide o conselho regulador.

A jornalista Caruana Galizia revelou vários casos de corrupção em Malta, na sequência dos Panama Papers. Entre os envolvidos estava o primeiro-ministro, a sua mulher e vários ministros. Ontem, a jornalista morreu assassinada, com uma bomba colocada no seu carro. O primeiro-ministro pediu que o caso seja investigado.

Na Catalunha, a pressão aperta: dois dos principais promotores das movimentações separatistas foram presos por sedição e o chefe da polícia regional, Josep Lluís Trapero, ficou em liberdade mas está proibido de deixar o país.

Ronaldo rejeita um acordo com o fisco espanhol e diz que a acusação que lhe é feita de fraude fiscal é “inconsistente”. Os argumentos do futebolista constam de um documento entregue em tribunal.


Os nossos Especiais

Quais foram as primeiras decisões tomadas na Rússia pós-revolução de Outubro e quem as tomou? A Tragédia de um Povo, de Orlando Figes, é agora reeditado e responde a essas perguntas. O Observador faz a pré-publicação deste livro indispensável.


A nossa Opinião

Rui Ramos escreve "Estado de calamidade permanente": "A demissão da ministra não é a solução de todos os problemas. Mas seria a solução de pelo menos um gigantesco problema: a falta de responsabilidade e de vergonha na governação".

José Manuel Fernandes escreve “Minha senhora, não me faça rir a esta hora”: "Foi um Verão de desculpas e passa culpas depois da tragédia de Pedrógão. E agora, que nova tragédia se abateu sobre o país, passámos à farsa. Se o Governo já perdera a vergonha, agora perdeu a cabeça". E tem ainda uma opinião em vídeo sobre o tema: "Um governo arrogante que nem pede desculpa".

Também em vídeo, temos um BICA sobre os incêndios, onde estive eu, a Filomena Martins e a Rita Ferreira: "Não é falta de férias, é falta de noção".  

Laurinda Alves escreve "Autoproteja-se o senhor!":"Autoproteja-se a si mesmo enquanto é tempo, senhor secretário de Estado da Administração Interna, porque aquilo que os senhores estão a gerar é um perverso sistema de Desprotecção Civil".

Paulo de Almeida Sande escreve "Volta, Dom Dinis":"Nunca mais Pedrógão Grande, nunca mais um oceano de fogo a atravessar a auto-estrada, a queimar carros e casas. Nunca mais a besta vermelha. Ah Dom Dinis, Dom Dinis, quem replantará o teu pinhal?".

José Milhazes escreve "Fogo posto não é terrorismo?":"Concordo com os que dizem que a vida humana não tem preço, mas parece que há alguns dos nossos políticos que seguem o princípio estalinista de que a morte de mais do que uma pessoa é mera estatística".


Notícias surpreendentes

A nova série da Netflix chama-se Godless, é produzida por Steven Soderbergh e tem Jeff Daniels no papel principal. Passa-se no velho Oeste e estreia a 22 de novembro.

Há um saco que aquece o pijama, um gadget que melhora o acne e um lançador de bolas para o animal de estimação. E isso é só o começo. A Helena Magalhães juntou 12 invenções que melhoram a nossa vida.

Por falar em inovações: a Huawei anunciou os seus novos smartphones topo de gama, o Mate 10 e o Mate 10 Pro. O Manuel Pestana Machado explica o que podemos esperar deles.

Para conhecer toda a muita informação que vai surgir ao longo do dia, já sabe que só precisa de vir aqui.
Até já!
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