quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Eu, Psicóloga | Deficiente Eficiente



Muitas vezes me peguei pensando sobre este texto, sobre as questões do deficiente(s)e sua relação com o mundo seja em sua família, na sociedade de uma forma geral, na política e principalmente com relação a ele próprio, e então, resolvi escrever este texto do ponto de vista psicológico (com todas as questões associadas) e do ponto de vista da própria deficiência, pois também sou deficiente físico desde 5 anos de idade.

Para falarmos sobre as questões relacionadas a deficiência, temos primeiro de pensar nas questões da dita normalidade, o que é ser normal e o que este rótulo carrega em si; questões como esta muitas vezes me fazem pensar em números, curvas de normalidade, dados estatísticos algo mais ligado a quantidade do que a qualidade, mas quem faz parte da dita normalidade? Tenho eu os devidos atributos para entrar nesta curva, entrar neste dado tão importante para alguns?

 Gostaria muito de saber quem dita esta normalidade, quem é o senhor da normalidade e gostaria inclusive, caso existisse um senhor desta normalidade, o que é ser normal, pois muitas vezes, o que é ser normal, o que é estar dentro da linha para uns, não significa ser normal a outros, o estranho, o que foge aos olhos, o diferente também é visto como algo anormal e muitas vezes, o deficiente(s) também se coloca nesta posição, imagine você se em São Paulo existem somente pessoas com deficiência, das mais variadas possíveis, físicas, auditivas, intelectuais, visuais e de repente, uma pessoa dita não deficiente entrasse neste mundo, a deficiência então seria vista como a normalidade e a dita “normalidade” seria vista como uma deficiência?

Lembro-me de uma feira para pessoas com deficiência da qual estava participando e uma repórter me questionou o que teria de mudar na educação das pessoas com deficiência para sua melhoria da entrada no mercado de trabalho, respondi a ela calmamente sobre qual educação estaríamos falando, pois a mesma educação que atinge (ou deveria atingir) a pessoa sem deficiência também é a mesma da pessoa dita deficiente; o conceito de deficiência esta muito mais na cabeça das pessoas do que nas suas particularidades, quase todas as pessoas (deficientes ou não), por exemplo, possuem deficiência de Vitamina D devido aos 15 minutos de sol que deveríamos e não tomamos o sol devido a tamanha correria do dia a dia, pois bem, o que temos de melhorar então não é a relação das pessoas com deficiência e o mundo do trabalho e sim, as questões relacionadas a todos e não a um grupo específico.

Então qual a questão da pessoa com deficiência e qual a questão do mundo que cerca a pessoa com deficiência com relação a ela? Claro que estas são questões e respostas curtas e que talvez não tenham um fim, mas acredito que uma das questão do deficiente que toma a deficiência como falta é o porque ele, muitas vezes achando a questão como uma falta, o deficiente busca esconder esta falta, suplantado de ideias de que alguém, algum outro esta lhe olhando ou comentando, etc, enfim, alguma vezes estão realmente olhando para o que é diferente, mas mais uma vez retorno a ideia de todas as pessoas em São Paulo terem deficiência, e que seria o diferente, seria a pessoa sem deficiência, assim, o que assola a deficiência enquanto tal é a não aceitação da deficiência enquanto deficiência do indivíduo que a possui, visando somente as partes “ruins” da história, todos somos deficientes invisíveis no fim das contas.

Para concluir e deixar algumas questões para a futura reflexão, quem é um dito deficiente tem menos chance no mercado de trabalho? Uma pior educação? Distorção de conceitos ou a plena realidade de que as pessoas sem deficiência possuem um sentimento como medo ou dó perante aos deficientes? Tenho minhas ressalvas quanto a estas e muitas questões, mas sigo lutando para que não sejamos uma população a parte e sim a própria população, em que a inclusão não seja somente no papel tão bonita de se ver, mas que seja real, pois ainda que incluirmos o deficiente, o segregamos por sua deficiência.

Caio Estan, 
Psicólogo, Psicanalista e Membro do Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae

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