quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Religião | O cardeal Zen escreve a todos os cardeais advertindo sobre o “assassinato da Igreja na China”

No primeiro dia de 2020, na Praça de São Pedro, o Papa Francisco ao ser cumprimentado por uma católica chinesa que implorou ao Pontífice que socorresse os católicos da China…

“Podemos testemunhar passivamente esse assassinato da Igreja na China por aqueles que devem protegê-la e defendê-la dos inimigos?” O Cardeal Joseph Zen, S.D.B., enviou uma carta a todos os cardeais do mundo, na qual expõe o problema do acordo secreto entre o Vaticano e o Partido Comunista da China.

Por Fernando Beltrán *

Esta questão, diz o cardeal chinês, “não diz respeito apenas à Igreja na China, mas a toda a Igreja. E nós, os cardeais, temos a imensa responsabilidade de ajudar o Santo Padre na orientação da Igreja”.

A InfoVaticana teve acesso à carta, que oferecemos abaixo. A missiva tem como anexos o Dubia do Cardeal Zen, publicado em julho, e as diretrizes publicadas em junho pela Santa Sé:
Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, Arcebispo-emérito de Hong Kong

Peço-lhe desculpas pelo inconveniente que esta carta possa lhe causar; mas, em consciência, acredito que o problema que abordo não diz respeito apenas à Igreja na China, mas a toda a Igreja. E nós, os cardeais, temos a imensa responsabilidade de ajudar o Santo Padre na orientação da Igreja.

A partir da minha análise do Documento da Santa Sé (26-6-19), “Orientações pastorais sobre o registro civil do clero na China”, está bastante claro que o mesmo empurra os fiéis na China para entrar em uma igreja cismática (independente do Papa e sob as ordens do Partido Comunista).

Em 1º de julho apresentei meu “Dubia” ao Papa. Em 3 de julho Sua Santidade me prometeu que estava interessado nela, mas até hoje eu ainda não soube de nada.

O Cardeal Parolin diz que, quando falamos hoje sobre a Igreja independente, não devemos entender essa independência como absoluta, porque o acordo reconhece o papel do Papa na Igreja Católica.

Primeiro, eu não posso acreditar que essa afirmação exista no acordo se não o vejo (entre outras coisas, por que esse acordo deve ser mantido em segredo e não posso vê-lo nem eu, um cardeal chinês?); mas, o que é ainda mais evidente, toda a realidade após a assinatura do acordo mostra que nada mudou, pelo contrário…

O Cardeal Parolin cita uma frase da carta do Papa Bento XVI, tirando-a completamente do contexto; mais, ela é diametralmente oposta ao parágrafo inteiro.

Essa manipulação do pensamento do Papa Emérito é um sério desrespeito; ou melhor, é um insulto deplorável à pessoa do manso e gentil Papa, que ainda vive.

Também me repugna que eles frequentemente declarem que o que estão fazendo está em continuidade com o pensamento do Papa anterior, quando o oposto é verdadeiro. Tenho motivos para acreditar (e espero um dia provar isso com documentos de arquivo) que o acordo assinado é o mesmo que o Papa Bento, em sua época, se negou a assinar.

Prezada Eminência, podemos testemunhar passivamente esse assassinato da Igreja na China por aqueles que devem protegê-la e defendê-la dos inimigos?

Suplica-lhe, de joelhos, seu irmão

Cardeal Joseph ZEN, S.D.B.

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(*) Fonte: “InfoVaticana”, 8-1-2020. Matéria traduzida do original inglês por Hélio Dias Viana.

Idem ABIM

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