Quando na política não se quer resolver um assunto, costuma-se dizer “crie-se uma comissão “ou “peça-se um parecer”.
A indecisão socialista do costume, mais precisamente do ministro da Educação, na questão do uso dos telemóveis nas escolas, teve a intenção deliberada de deixar passar o arranque das aulas até todas as escolas terem as suas regras definidas quanto ao uso dos aparelhos eletrónicos. O ministro da Educação João Costa pretende que este assunto saia da agenda política para nada decidir, fazendo lembrar as indecisões guterristas de outros tempos.
Enquanto a ansiedade, a dependência e vício dos alunos pelos telemóveis é uma realidade nas escolas, o governo andou nos últimos dois anos no sentido contrário, com uma política que pôs os alunos dentro de sala de aula a realizar provas digitais e a aderir em massa aos manuais digitais. O uso dos computadores foi privilegiado, o telemóvel na escola não foi proibido, colocando os alunos do 2º ano e 5º ano de escolaridade, que ainda não têm a caligrafia definida entre outras debilidades no domínio da escrita, a efetuar provas de português no final de ano através do computador.
Devido a esta política do Governo totalmente virada para as novas tecnologias constatamos que hoje em dia os alunos cabo-verdianos, por exemplo, detêm uma caligrafia melhor do que os alunos portugueses, por estarem menos habituados aos computadores e aos telemóveis do que os alunos portugueses.
A regressão cognitiva que os países nórdicos detetaram nos seus alunos é reveladora de que os aparelhos eletrónicos têm um efeito nefasto não só na retenção de conhecimentos pelos alunos, mas também na socialização nos tempos livres na escola entre as nossas crianças e jovens que passam os seus intervalos das aulas agarrados ao telemóvel.
Por outro lado, seria bom o senhor ministro da Educação lembrar-se que muitos alunos manuseiam melhor os aparelhos eletrónicos do que a maioria dos professores com mais de 50 anos, muitos deles avessos à tecnologia, sem saber como controlar o uso de computadores.
Sr. Ministro, veja a escola real e não uma escola virtual. Veja uma escola que tem de ser moderna no ensino tecnológico por parte dos professores, mas mais moderada na aprendizagem pelas novas tecnologias por parte dos alunos.
Sr. Ministro, é salutar a existência de tempo para o uso do computador numa sala de aula, mas também é salutar a existência de tempo numa sala de aula para o trabalho real.
*Paulo Freitas do Amaral
Professor de História
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