sábado, 17 de dezembro de 2016

Plasma: Multinacionais espanhola e italiana podem acabar com monopólio da Octapharma

Num concurso que agora decorre, para fornecimento de derivados do plasma ao Serviço Nacional de Saúde, o milionário negócio da multinacional suíça em Portugal - que motivou as detenções de Luís Cunha Ribeiro e Lalanda e Castro, por suspeitas de corrupção - tem concorrência a sério

José Carlos Carvalho
A espanhola Grifols e a italiana Kedrion são as multinacionais farmacêuticas pré-qualificadas num concurso que agora decorre para fornecimento de derivados do plasma ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) - soube a VISÃO de fontes fidedignas -, concorrendo com a suíça Octapharma, também pré-selecionada e que domina o mercado português desde os anos 1980.

É por ora um enigma o motivo pelo qual um concurso deste género só agora arrancou, quando estes procedimentos podiam decorrer há uma década - e, como vai pela primeira vez acontecer, com plasma de dadores portugueses, que até aqui ia para o lixo. O argumento mais recente, explicam especialistas, era o de que o método de inativação viral patenteado pela Octapharma (tecnicamente designado "solvente detergente") também eliminava o prião causador da encefalopatia espongiforme bovina (vulgarmente conhecida como "doença das vacas loucas"), que nos humanos provoca a chamada nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob.


Mas o último caso humano português dessa doença é já de 2007, o que torna ainda mais questionável a longa ausência de concursos como o que agora decorre, e a "presença muito estranha" da Octapharma nos hospitais portugueses, como a define um responsável do Ministério da Saúde.


Esse domínio levou agora às detenções de Luís Cunha Ribeiro - membro influente de um júri que em 2000 fez uma adjudicação provisória à Octapharma que se tornou permanente até à atualidade - e de Lalanda e Castro, este quando se encontrava numa reunião da multinacional suíça em Heidelberg, na Alemanha, e que de seguida se demitiu de administrador da empresa.

Ex-presidente do INEM e da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Cunha Ribeiro (detido esta terça-feira, 13) e Lalanda e Castro (detido no dia seguinte pela polícia alemã em articulação com a PJ, aguardando a extradição para o nosso país, após decisão judicial) conluiaram-se, desconfia o Ministério Público, num esquema de corrupção que causou um prejuízo superior a 100 milhões de euros ao Estado português. Lalanda e Castro, aliás, vai acumulando suspeitas: ex-patrão de José Sócrates, é arguido no processo que envolve o antigo primeiro-ministro e está também acusado e pronunciado para julgamento no caso dos vistos gold, por tráfico de influência, num negócio de uma empresa sua que conduziu à vinda para Portugal de feridos da guerra civil líbia, para tratamento hospitalar.

A partir de agora, tudo será diferente quanto ao fornecimento ao SNS de derivados do plasma, como, por exemplo, o Fator VIII, para hemofílicos, ou a imunoglobulina, para doentes autoimunes. Logo para começar, o plasma será de dadores portugueses - o Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) tem congelados para o concurso que agora decorre 30 mil litros. É uma quantidade que corresponde a 120 mil unidades de plasma, inativado por um método do IPST que "parte" o ADN viral, eliminando assim o agente infeccioso. Só por aqui, o processo fica substancialmente mais barato.

Depois, as farmacêuticas concorrentes vão ter à disposição plasma seguro, proveniente de dádivas voluntárias e não remuneradas, como impõem a lei portuguesa e diretivas do Conselho da Europa, pela questão ética de "não associar o mercantilismo ao corpo e partes do corpo humano".

Ao contrário, os derivados de plasma que são fornecidos ao SNS pela Octapharma provêm de dadores estrangeiros remunerados. E os produtos são caros. Através de ajustes diretos, apurou a VISÃO, a multinacional suíça chegou a cobrar a hospitais portugueses 120 euros por unidade de plasma, aqui para transfusões, sem extração industrial de derivados. Já o IPST fornece a mesma unidade, inativada pelo seu método, por €61,60.

Mesmo assim, em 2015, apenas 15 hospitais usaram o plasma do IPST para transfusões (1 600 unidades), enquanto 24 estabelecimentos hospitalares preferiram, para o efeito, o produto da Octapharma (15 500 unidades). Houve uma só vantagem: o plasma do IPST obrigou a multinacional suíça a baixar os seus preços, por unidade, para cerca de 90 euros.


Ver-se-á como o júri do concurso tutelado pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde irá avaliar o comportamento da Octapharma. O ministro Adalberto Campos Fernandes, esse, quer o processo decidido no fim do primeiro semestre de 2017.

J. Plácido Júnior
Jornalista

Fonte:visao


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 Comentário: com o passar dos anos os dadores de sangue vão perdendo os incentivos que desde sempre existiram, à conta de explicações sem substancia, a não ser aquela que já é conhecida de todos: no poupar é que está o ganho. Contudo, não se vê resultados na tal poupança.

Como dador de sangue, venho do tempo em que no Serviço de Sangue do Hospital de S. José era oferecido um cálice de vinho do Porto, um chocolate da marca Regina, após a dádiva era oferecido aos dadores um cerveja preta, com uma boa sandes, e caso o dador fizesse questão ainda podia levar ma senha para almoçar no refeitório do dito Hospital.

As sandes desfazem-se nas mãos dos dadores, tanto o chão fica cheio de migalhas
Com o decorrer do tempo tudo aquilo foi retirado sob desculpas esfarrapadas. Em tempos ainda eram colocadas umas latas de cerveja na mesa, umas sandes de queijo, fiambre, chouriço com alguma qualidade, umas garrafas de água pequenas.

Agora as sandes ficam escondidas, as garrafas de água são litro e meio, as sandes desfazem-se nas mãos dos dadores, tanto o chão fica cheio de migalhas.

É verdade que, os dadores podem por enquanto beneficiar da isenção da taxas moderadoras nos ditos centros de saúde, e a partir do dia 30 de Março do ano ainda em curso foi reposta nos hospitais públicos, à conta de tanta ‘luta’, com duas federações contra quem ombreou a causa que todos dizem reconhecer, apesar de nem sempre se tornar numa prática diária.

Por vezes são entregues uns questionários aos dadores no decorrer da sessão de colheitas no sentido de darem a conhecer a sua satisfação constando diversas questões merecedoras de nota negativa, ou “não satisfaz”, um procedimento que em nada altera seja o que for.

Ainda no que respeita à isenção das taxas moderadoras nos famigerados centros de saúde nem sempre é respeitado o que está estipulado na Lei, existe sempre o recurso a um truque administrativo para sacar o dinheiro aos dadores, sendo assim obrigados a pagar o que não devem, acontecendo o mesmo no Centro Hospitalar do Baixo Vouga, Aveiro.

Aos dadores não podem ser imputadas as responsabilidades por não ser possível a leitura do Cartão Nacional do Dador de Sangue, uma vez que não foi feita a instalação o equipamento. Quando pedimos explicações, o que ouvimos é sempre do mesmo: a culpa não é de ninguém.

Paulo Macedo e Fernando Leal da Costa não nos deixaram saudades nenhumas. Devem ser recompensados pelo que nos fizeram: esmagaram a pouca dignidade que nos resta.

Por fim somos da opinião que os ex-responsáveis das duas federações de dadores, incluindo os actuais devem ser ouvidos em sede de inquérito para esclarecer o que sabiam à uns anos a esta parte e no presente, acreditamos que podem ser úteis neste processo do Plasma sanguíneo humano.

Estamos atentos ao evoluir do processo de investigação, dos seus resultados, nunca esperando que seja empurrada a culpa para o porteiro ou para o pessoal da limpeza.

O aluguer dos autocarros da Transdev que transporta os funcionários para os locais das colheitas também devem ser analisados num ponto de vista de investigação.



J. Carlos

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