quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Todos a bordo?

Todos a bordo?
♦  Ítalo Nóbrega
Imaginem uma viagem a bordo de um cruzeiro de luxo: bandas tocando, jogos de todos os gêneros, boa comida, bebida à vontade, danças, gargalhadas, enfim, todo o tipo de fartura e prazeres.
Todos tão extasiados com a viagem, pouco se importando com os dias, semanas ou meses que já se passaram. Só querem aproveitá-la ao máximo e, é claro, que a festa não acabe. Ninguém se pergunta quem está conduzindo o navio e nem para onde ele está sendo conduzido.
Entretanto, na medida em que a festa se estende e expande seus gozos — que a esta altura se misturam entre lícitos e ilícitos —, os desentendimentos e as discórdias mostram sua silhueta no horizonte.
Até que chega um ponto onde dois cumes se erguem paralelamente, um como causa e outro como efeito. Os seus nomes são: sede de prazeres e desordem.
Em pouco tempo a situação do cruzeiro fica tão instável quanto aquela de um equilibrista lutando para se manter em pé numa corda bamba durante a travessia. Confusões, intrigas, descontentamentos de toda ordem… Mas a festa continua. E quem disse que o apetite pelos prazeres está morto?
Contudo, alguns percebem a instabilidade reinante na viagem e passam a se perguntar sobre suas causas e consequências. Como resultado, também começam a se perguntar para onde eles estão indo.
Ao olharem para o panorama, notam quão tempestuosos e bravios são os mares que navegam. Será o fim? Ou melhor, como será o fim? Há um retorno?
Deixemos as metáforas.
Pode ser até que exista um cruzeiro real nas condições descritas, entretanto não é a um navio que me refiro acima, mas à atual situação da humanidade.
*   *   *
Estamos enfrentando há pouco mais de meio milênio um declínio moral que bem poderia ser comparado à imaginária viagem descrita.
Ele começou por uma explosão de orgulho e sensualidade, por um desejo louco de gozar a vida.
E na medida em que o mundo caminhava rumo à satisfação de seus desejos, estes só cresciam, tanto em intensidade quanto em profundidade.
Tais desejos foram se tornando cada vez mais dominantes e exigentes, a ponto de reivindicar a obumbração dos limites da própria natureza humana.
Em grande medida é a eles — aos ímpios desejos — que devemos atribuir culpa pelo atual estado de confusão, caos e violência da nossa e de outras sociedades.
Entretanto, como no navio, ao invés de os homens abandonarem o catastrófico caminho pelo qual têm andado, eles dão de ombros para o fruto de seus crimes, desejando satisfazer ainda mais seus insaciáveis apetites.
Mas eis que nem todos continuam a se fazer de cegos diante dessa calamitosa situação. Há aqueles que, percebendo a insustentável conjuntura hodierna, põem-se a se perguntar se já não estamos naquele estado de coisas descrito nas Escrituras como sendo o fim dos tempos. E não é sem razão a dúvida que se põem, pois a qualquer momento algum iceberg poderá deitar ao fundo do mar esse babilônico navio.
Entretanto, não será para findar a Era que o eminente iceberg virá, mas, pelo contrário, para começar um novo período, uma nova fase na história da humanidade. Fase essa marcada pelo triunfo do Imaculado Coração de Nossa Senhora, tal como Ela descreveu em Fátima.
Retorno a ordem
Esse triunfo virá restabelecer a Ordem e a civilização por excelência, isto é, a Ordem e Civilização Cristã baseadas nos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e nos fundamentos da ordem posta por Deus na natureza.

A este respeito, é muito oportuno o excelente livro de John Horvat IIReturn to Order: From a Frenzied Economy to na Organic Christian Society Where Weve Been, How We Got Here and Where We Need to Go1no qual o autor, vice-presidente da American Society for the Defense of Tradition, Family and Property (TFP)2 descreve com maestria as profundas causas da crise por que passamos e qual seria o caminho mais sensato a ser trilhado para o reestabelecimento da Ordem em nossos dias.
E é a ele, aliás, que devo a metáfora introdutória, da qual extraí também o título deste artigo.
ABIM

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